04 novembro, 2021

# @Milly # Ariel F. Hitz

Resenha :: A Gravidade de Júpiter



Essa foi uma leitura que realmente me surpreendeu, me cativou, arrebatou meu mundinho Cis privilegiado. Não me levem a mal, caros leitores, eu sou uma leitora de fantasia e ficção científica em sua constante, sim, resenhei alguns romances românticos por aqui, mas não me vejo como a melhor resenhista para livros fora da minha zona de conforto, muito menos me acho a altura para A Gravidade de Júpiter, mas felizmente esse livro me encontrou e quando isso acontece não posso deixar de falar sobre ele, então desde já perdão, leiam este livro mesmo que minhas palavras não sejam suficiente para explicar o porquê.

 

Odeio o meu nome. Odeio que as pessoas me chamem por ele. Não é meu. Sei que não é. Eu só preciso contar para o mundo qual é o meu nome. 

A.



Nossa protagonista é uma adolescente que foi atribuído o gênero masculino ao nascimento, mas que ela não se identifica, e ela vai nos contando a sua história, enquanto escreve em seu caderno. A dinâmica da escrita se assemelha muito a de As Vantagens de Ser Invisível, se você já leu sabe que Charles conta sobre os acontecimentos do seu dia através de cartas que serão enviadas, aqui ‘A’ não escreve para enviar para ninguém, apenas para desabafar os seus sentimentos. Eu curto muito essa escolha de escrita, principalmente quando não é um livro longo, é uma forma do autor falar diretamente com quem está lendo, e nos inserir na história. 

  

... Eu me aproximei de Júpiter justamente por ser igual à ela, não o contrário. Eu seria assim mesmo se nunca tivesse conhecido ela.

 

Mas recapitulando sobre a vida da protagonista, ela se encontra encantada por Júpiter, uma garota que ela se identifica, mesmo que em segredo, por também ser uma mulher trans. O título do livro não poderia ser mais perfeito, Júpiter é uma persona gravitacional, que causa sentimentos na protagonista, que podem ir além ou não de uma admiração distante.

 

Tenho medo de ser uma grande decepção para minha mãe e um desgosto para meu pai. Mas talvez eu já seja isso.

 

Enredado em poucas páginas, acompanhamos a angústia de ‘A’ não somente com o peso do medo de se abrir sobre seu gênero, mas por ser, junto com sua irmã, adotadas, ela sempre discorre sobre o sentimento de responsabilidade de deixar os pais orgulhosos. Ainda se fala da família do pai, seus “avós” não as aceitando como netas por conta da adoção e ainda tendo falas racistas direcionadas a irmã, Isadora, que é negra; o não pertencimento por completo na família, a fase adolescente, o amigo Elias com TOC severo, que é abordado dentro do livro não de forma centralizada, mas muito bem escrita, tornaram essa leitura uma das melhores do ano, entre a raiva e o amor que senti durante a leitura não poderia ser diferente.  

  

Gostei muito da relação da protagonista com os personagens secundários, tanto quanto ela e Júpiter, ou com Elias e Isadora.

 

Acho que não tem muita diferença entre você fazer algum comentário merda sobre alguém e você rir sobre esse comentário merda. De qualquer forma você está apoiando o comentário merda.

 

Não poderei falar sobre o livro fingindo conhecimento sobre os sentimentos da protagonista, mas a literatura é um dos melhores caminhos para o aprendizado, para trabalhar a empatia, respeito e se apaixonar por seus personagens criados pela mente criativa de alguém que nem de longe vamos compreender por completo.  

  

Enfim, espero que deem uma chance para essa leitura, um livro que me chamou por essa capa perfeita, mas me ganhou com sua escrita. Indico muito.




Informações Técnicas do livro

A Gravidade de Júpiter 

Ariel F. Hitz 

Ano: 2019 

Páginas: 98 

Editora: Independente 

Sinopse: 

Olhar para Júpiter era confuso. Não sabia se queria beijar ela ou ser ela, o que era um problema, sem dúvidas. 

Júpiter provavelmente nem sabia de sua existência. Ela era mais do que inalcançável. Estar ao lado dela é algo que aconteceria apenas em seus melhores sonhos. Assim como ser igual a Júpiter estava totalmente fora de cogitação. Não tinha coragem alguma de se mostrar assim para o mundo. 

Como seus pais reagiriam se descobrissem que o precioso filho que adotaram com tanto carinho é, na verdade, uma garota? Não poderia fazer isso com eles. Deveria continuar fingindo. 

Sentindo-se totalmente fora dos eixos, distante do próprio coração, decide começar um diário. É onde não precisa atuar, onde pode dizer seu nome verdadeiro, todas as suas angústias e seus medos. 

Ninguém mais pode saber o que acontece em sua mente. 

O diário é seu lugar seguro.


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