05 julho, 2025

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Resenha :: Vivendo a comunicação não violenta



Pode parecer curioso, mas meu interesse por Comunicação Não Violenta começou com uma crítica. Uma colega disse que o tema era “básico demais”, quase óbvio. Aquilo me incomodou — seria mesmo só isso? Ao abrir o livro de Marshall Rosenberg, descobri que não. A CNV vai muito além de evitar palavras duras: é uma forma de viver, pensar e se relacionar.

Desde as primeiras páginas, o livro se apresenta como uma verdadeira introdução ao método. Rosenberg explica que comunicar-se sem violência é expressar o que está vivo em nós e compreender o que está vivo no outro. Isso exige mais do que técnicas: exige consciência.

“Confunde-se entendimento intelectual com empatia. É da empatia que vem a cura.” 

E tudo começa no mesmo ponto onde começa qualquer processo de transformação — o autoconhecimento. A célebre frase no Oráculo de Delfos, “Conhece-te a ti mesmo”, nunca fez tanto sentido. Não dá para se comunicar bem com o outro se não conseguimos sequer identificar nossas próprias emoções e necessidades.

Quando passamos a olhar para dentro, naturalmente compreendemos melhor o outro. E, assim, a comunicação muda. Não é sobre “falar bonito”, mas sobre ser claro, evitando ruídos, julgamentos e interpretações equivocadas. Afinal, muitas vezes o conflito surge não do que dizemos, mas do que o outro entende — e do que nós não conseguimos expressar.

O livro mostra como isso acontece na prática. Um exemplo simples: alguém pergunta as horas, e a resposta vem em forma de “quanto falta para a próxima hora”. Parece banal, mas revela a desconexão entre pergunta e resposta — e como ruídos nascem justamente desse descompasso.

“Quando pensamentos que nós (ou outra pessoa) somos algo, geralmente agimos de maneira a confirmar isso”

A CNV nos convida a buscar clareza, especialmente quando lidamos com nossas necessidades. Isso é um desafio enorme, porque crescemos dentro de uma cultura que ensina homens a não sentir e mulheres a adivinhar o que o outro precisa. Resultado? Ninguém sabe comunicar plenamente suas emoções.

Por isso, embora tudo pareça simples na teoria, a prática revela o contrário. Quando tentamos participar de uma dinâmica ou exercício de CNV, percebemos rapidamente como é difícil explicar o que sentimos — e ainda mais difícil identificar a necessidade por trás desse sentimento.

O que me ajudou foi um ponto libertador: Rosenberg afirma que não precisamos ser perfeitos. A CNV é uma prática, um caminho. Treinar, observar-se, revisar, tentar de novo. E, sempre que possível, buscar apoio em outras pessoas que também desejam se comunicar de forma mais consciente.

“O praticante de CNV nunca concorda nem discorda. Aviso: nunca entre na cabeça dos outros; é feio lá dentro. [Risos.] Fique longe da cabeça deles. Vamos entrar no coração deles.”

Nem tudo no livro funcionou igualmente para mim. As transcrições de diálogos, por exemplo, não me conectaram tanto; às vezes pareciam cenas de uma peça que eu não conseguia visualizar. Mas os resumos e reflexões posteriores sempre me traziam de volta para o propósito central da CNV.

O capítulo sobre criar filhos com compaixão, porém, foi um dos mais marcantes. Ele reforça que crianças merecem respeito — emocional, intelectual e humano. O livro aborda coerção, punição e alternativas reais para construir uma relação mais empática entre pais e filhos. Essa parte realmente ressoou profundamente em mim.

Já o final, em formato de perguntas e respostas, não me envolveu tanto quanto o restante do livro, mas revelou algo importante: a maneira como a CNV transformou o autor espiritual e emocionalmente.

“A raiva sempre se justifica, no sentido que é o resultado inevitável do pensamento alienado da vida e o causador de violência. A raiva não é o problema. O pensamento que acontece dentro de nós quanto a sentimos é que é.”

No fim, o método se mostra muito mais do que um conjunto de conceitos. É uma visão de mundo — uma forma de se conectar verdadeiramente. E, apesar dos desafios, é também uma promessa de relações mais saudáveis, respeitosas e conscientes.

Gostei da experiência e acredito que a Comunicação Não Violenta tem, sim, um enorme potencial de transformar a maneira como convivemos.

Informações Técnicas do livro


Vivendo a comunicação não violenta: Como estabelecer conexões sinceras e resolver conflitos de forma pacífica e eficaz

Marshall Rosenberg

Título Original: Living Nonviolent Communication: Practical Tools to Connect and Communicate Skillfully in Every Situation

Tradução: Beatriz Medina

Ano: 2018

Páginas: 192

Editora: Sextante

Sinopse:

A Comunicação Não Violenta (CNV) é um dos temas mais transformadores e fundamentais que nós da Sextante já publicamos. Ela é tão essencial que deveria ser ensinada a todas as pessoas, assim como ler, escrever e fazer as quatro operações matemáticas. Mais do que uma técnica para resolver conflitos, é um modo de ser, de pensar e de viver que, como diz Marshall Rosenberg, "nos ensina a expressar o que está vivo em nós e a enxergar o que está vivo nos outros. Assim podemos descobrir o que fazer para enriquecer essa vida".

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