Resenha :: A Guardiã do Farol
Mile Dantas
fevereiro 08, 2019
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“Conte uma história, Pew.
Que tipo de história, menina?
Uma história com final feliz.
Isso não existe no mundo.
Um final feliz?
Um final.”
Olá faroleiros,
No mês de aniversário do Clube trago um livro fantástico e doce,
daqueles que te aquecem o coração: A Guardiã do Farol, de Jeanette Winterson, publicado em 2009 no
Brasil pela Editora Record. Pelas
palavras do próprio protagonista esta não
é uma história de amor, mas de fato verão que trata-se de uma história de amor.
Algumas pessoas crescem no morro; outras no vale, a maioria vive no plano. Eu nasci em ângulo, e assim vivi desde então.
No início do livro conhecemos
Silver, uma criança inocente, nascida de um relacionamento de sua mãe e um marinheiro
que aportou na pequena cidade de Salts. Como qualquer marinheiro que
passava naquele lugar, o homem logo foi embora deixando uma mãe solteira com um
filho fora do casamento. Como Salts era uma cidade tradicional, mãe e filha
foram banidas de lá e obrigadas a morar na falésia. O lugar acidentado obrigava
as duas a viverem amarradas uma a outra e em ângulo acima da cidade.
Minha mãe e eu tínhamos que nos amarrar uma à outra com cordas, como um par de alpinistas, só para poder chegar à porta de casa.
Em um acidente trágico a mãe de
Silver falece e ela passa a ser cuidada pela Srta. Pinch, uma professora
solteirona e ranzinza. Só que a mulher não tinha planos de ficar com Silver e
tratou de fazer um anúncio na porta da igreja sobre a disponibilidade de adoção
da garota. Sem herança e apenas com um cachorro, o Dogjin, que na
descrição de Silver tinha as patas traseiras menores que a dianteira, a pequena
órfã encontrou dificuldades para achar um lar adotivo.
Então Silver é adotada pelo
enigmático e cego Sr. Pew, o guardião do farol. Tocado pela situação da menina,
Pew promete ensiná-la para ser a próxima guardiã do farol. E é isso que ele
faz.
Pew mostra a Silver todo o
trabalho de um faroleiro. Ele lhe conta histórias de Babel Dark, de como o
lugar foi construído e sua própria história que se confunde com a do farol. Mas
Pew levará à jovem o ensinamento mais importante da sua vida: o amor.
Pew sempre dizia 'cuidar da luz', como se fosse um filho seu que ele pusesse para dormir.Observei-o mexendo nos instrumentos de cobre, que ele conhecia perfeitamente pelo tato, ouvindo os estalidos dos mostradores que lhe diziam como estava a luz.
Quando Jeanette Winterson nos apresenta Silver, sua condição naquele
momento era difícil. Mas a autora conseguiu de forma suave, e até mesmo
engraçada retratar a situação da pequena que vivia nas falésias. Por mais que
eu estivesse lendo um período triste da vida de Silver, fiquei curiosa para
continuar e conhecer mais da sua história.
O livro A Guardiã do Farol é uma
maneira impressionante de retratar o amor em sua forma mais pura. O romance
entre um casal não é a ideia central da obra. Jeanette nos mergulha num mundo de contar histórias e como elas
podem nos acalentar, transformar e guiar.
Uma criança nascida por acaso poderia imaginar que o Acaso era o seu pai, assim como os deuses faziam filhos e depois os abandonavam, sem olhar para trás, mas deixando um pequeno presente. Fiquei pensando qual teria sido o meu presente. Não tinha ideia de onde procurar, e nem do que procurar, mas agora sabia que assim começam as viagens mais importantes.
A única coisa que me incomodou
foi a transição de Silver de criança à fase adulta, pois não identificamos com
clareza em qual momento da história acontece. O que ameniza esse incômodo é que
sua personalidade é tão agradável que muitos não irão nem se importar e tão
pouco impactará negativamente na leitura. Então não se preocupem.
Já Pew é um personagem muito
bem construído pela autora. Todo o mistério acerca da sua idade traz um tom
mágico à história, já que a sua própria vida se confunde com a fundação do
farol.
— Quando foi que você embarcou no novo McCLoud? Estava no estaleiro em Glaslow?
— Eu não falei do novo McCloud — disse Pew.
— Pew, você não tem duzentos anos de idade.
— E isso é verdade. — disse Pew, piscando os olhos como um gatinho.
— Claro, isso é verdade.
Posso garantir a vocês que a
sensação que tive era de que lia um livro dentro de outro livro. As histórias
contadas por Pew têm como personagem central Babel Dark, um religioso que viveu
em Salts muitos anos antes. Babel Dark tinha personalidade difícil e dividia-se
em duas vidas, uma na pequena Salts com mulher e filho, e outra secreta, fora
dali. Dessa forma Pew a ensina sobre várias coisas e consegue mostrar a Silver
um mundo fora do farol que ela não conhecia.
Não existem vestígios de amor no registro fóssil de nossa existência. Você não será capaz de encontrá-los guardados na crosta da terra, esperando ser descobertos. Os longos ossos de nossos ancestrais nada revelam sobre seus corações. Suas últimas refeições estão às vezes preservadas em turfa ou gelo, mas seus pensamentos e sentimentos desaparecem.
A leitura nos envolve em cada
um dos seus desdobramentos. Quando nos damos conta estamos presos a ela e
ancorados a cada palavra proferida pelo narrador como um navio que se encontra
a deriva e, de repente, é guiado pela luz do farol. A leitura foi um deleite do
início ao fim.
Nota :: 









Informações Técnicas do livro
A
Guardiã do Farol
Ano: 2009
Páginas: 224
Editora: Record
Sinopse:
Quando
fica órfã, Silver é acolhida pelo Sr. Pew, o velho guardião cego do farol do
cabo Wrath. Aos poucos, desenvolve-se uma relação de cumplicidade entre os
dois, alinhavada por antigas histórias de saudade e solidão, de viagens através
do espaço e do tempo, de paixões e traição.