29 novembro, 2020

# Eduardo João Moro # Entrevista

O Clube Entrevista :: Dido, Eduardo João Moro


Oi, faroleiros!

Hoje temos entrevista! Dessa vez é com o professor e autor Eduardo João Moro, Dido, que escreveu a obra de não-ficção “Como Ajudar seu Filho na Escolha da Profissão” (resenha aqui), que é uma leitura indicada para quem escolheu (para mergulhar nas lembranças), vai escolher ou vai ajudar alguém a escolher sua futura profissão. Sem mais delongas, vamos à entrevista.


Eduardo João Moro nasceu no dia 15 de novembro de 1981, na cidade catarinense de Joaçaba. É graduado em Publicidade e Propaganda (UNISUL), em Ciências Sociais pela UFSC e possui os títulos de mestre e doutor em Sociologia Política, ambos na UFSC. Desde 2010 atua como docente no Instituto Federal Catarinense (IFC – Campus Concórdia) e atualmente dedica-se ao estudo, à divulgação e à prática da orientação profissional por meio de palestras e atendimentos individuais e em grupos.



 Clube do Farol: O que originou a sua vontade de escrever? E o que te vez colocar suas ideias "no papel"?

 

Dido: Acidentalmente tornei-me professor de ensino médio e, desde então, já se passaram dez anos. Considero um acidente por nunca ter pensado em fazê-lo, mas não vou falar muito disso para evitar spoilers do livro. Devo dizer apenas que, desde o início da minha carreira profissional, foquei em ajudar os alunos no que estivesse ao meu alcance. No início, ainda imaturo e inexperiente, pensava que poderia fazê-lo repassando os conteúdos das provas de vestibular. Com o passar do tempo, percebi que era necessário fazer mais, já que meus alunos aprendiam os conteúdos, mas poucos sabiam o que fazer com eles. Vale considerar que atuo numa instituição de ensino que me permite ministrar aulas no ensino médio, no ensino superior e na pós-graduação. Mais do que isso, a maioria dos alunos passa o dia todo no campus, almoçam no refeitório e outros tantos residem nos alojamentos em regime de internato. Destaco esse aspecto, pois foi justamente a convivência com os alunos que me permitiu conversar sobre outros assuntos, escapando dos diálogos comuns, rápidos e formais, sobre conteúdos, provas e notas. Passamos a conversar sobre planos para o futuro. Desde o início, as conversar me fizeram revisitar o passado. Ao ouvi-los, lembrei de como havia escolhido minha profissão, ou melhor, de como não havia escolhido minha profissão. Em muitos momentos me vi naqueles jovens, especialmente nos mais tímidos, inseguros e perdidos. De fato, eu via a história se repetir, anos depois, com o mesmo enredo e novos personagens. Portanto, devo confessar que minha aproximação ao tema não foi planejada, mas resultado do acaso. Mergulhei na orientação profissional guiado por um sentimento inquietante e angustiante que não me permitiu ficar parado. Na ânsia de ajudar, inicialmente coloquei-me como uma espécie de conselheiro, mas logo percebi que precisava mais do que boa intenção para ajudar aqueles jovens. Revisitei, então, livros de Sociologia (minha área de formação) e procurei cursos e leituras que me permitissem deixar de ser um “mentor” para me tornar um orientador, pois entendo que não devo oferecer respostas prontas, mas fazer boas perguntas, que os levem às melhores respostas. Se me permite vou terminar de responder essa pergunta mais à frente, juntando com a próxima, senão corro o risco de cansar os leitores com uma resposta muito longa.



 Clube do Farol: Como surgiu a ideia de voltar o olhar da escolha profissional para os responsáveis, ao invés de somente para quem irá fazer essa escolha de forma efetiva?

 

Dido: Acredito que os leitores do Clube do Farol lembram das famosas reuniões com os pais na escola. A grande maioria de nós passou por essa experiência. Apesar de muita coisa ter mudado, vou resgatar as reuniões dos meus tempos de estudante, que, para alguns, era um momento glorioso, repleto de sorrisos e elogios, mas, para outros, um suplício, com direito a sermões públicos e momentos constrangedores. Como não guardo boas recordações dessas reuniões, como professor tento ser objetivo, evito exageros (tanto nos elogios como nas críticas) e prefiro conversar sobre outros assuntos. Foi aí que surgiu a oportunidade de ouvir os pais sobre algo que os preocupa: o futuro profissional dos filhos. Por trabalhar esse tema com os alunos, ouvi-los foi como conhecer “o outro lado”, o que me ajudou também a perceber descompassos entre os discursos. Vamos admitir: eu estava numa posição privilegiada e não podia deixar a oportunidade passar. A partir daí, meu esforço foi articular os discursos, sem vitimizar ou vilanizar nenhuma das partes. Em um entardecer de novembro, em que passei o dia pensando no assunto, tive algumas ideias. Temendo esquecer tudo na manhã seguinte, comecei a escrever um rascunho. Percebi que minhas mãos não acompanhavam os pensamentos e, quando me dei conta, havia escrito sete páginas. Empolgado, pensei em redigir uma apostila para distribuir aos meus alunos. Mas, nos dias que seguiram, fui preenchendo novas páginas, até perceber que havia conteúdo para um livro. Foi assim que essas ideias chegaram ao papel e, agora sim, acredito que respondi inteiramente a primeira pergunta. 



 Clube do Farol: Qual o maior desafio em escrever um livro de não-ficção? A parte interativa do livro já fazia parte da ideia inicial ou surgiu durante o processo de escrita?

 

Dido: Como descobri tratar-se de um livro quando me aproximava da metade do processo, não posso falar muito sobre os desafios da escrita, mas posso fazê-lo em relação à “pós-escrita”. Meu maior desafio foi vencer a insegurança, sobretudo por não ter nenhuma experiência como escritor. Tinha dúvidas sobre a relevância do conteúdo, ou seja, se ele seria, de fato, capaz de ajudar alguém. Essa insegurança só amenizou quando recebi as primeiras mensagens dos leitores nas redes sociais. Em relação a parte interativa do livro, sim, pensei nela praticamente desde o início, ainda quando planejava redigir uma apostila. Nas conversas com pais e jovens percebi uma dificuldade em especial: a aproximação das partes. Por um lado, alguns jovens reclamam que seus pais pouco falam sobre a escolha profissional, o que, para eles, denota falta de interesse; enquanto outros se queixam que seus pais falam o tempo todo no assunto, deixando-os pressionados. Pelo lado dos pais, alguns dizem que seus filhos não dão abertura para conversas sobre o assunto, encerrando-as de forma “curta e grossa”; enquanto outros reclamam que seus filhos buscam “receitas prontas”, em conversas que orbitam na ideia de “me diga o que devo fazer”. Diante desse problema de comunicação, propus exercícios para guiar e, principalmente, servir de “desculpa” para pais e filhos conversarem. 



 Clube do Farol: O livro é dividido em 4 etapas no processo de orientação para a escolha da profissão. É possível dizer que seguir essa ordem é extremamente importante para o sucesso do processo? Qual problema acarretaria uma possível “queima de etapa”?

 

Dido: Apesar dos orientadores profissionais atuarem de maneiras distintas, arrisco dizer que dois “estágios” estão presentes na imensa maioria das metodologias: o autoconhecimento e a pesquisa. O primeiro, como o próprio nome aponta, refere-se a conhecer a si mesmo. Costumo dizer que se conhecer não é apenas desejável para escolher uma profissão, mas para tudo na vida. Quem se conhece vive melhor, convive melhor com outras pessoas e, é claro, tende a fazer melhores escolhas, que inclui a profissional. À medida que o indivíduo desenvolve seu autoconhecimento, entende o que é importante para si, o que combina com a sua personalidade, o que gosta e não gosta de fazer, quais seus pontos fortes e fracos etc. Normalmente, avançando nesse processo, surgem ideias de profissões, que precisam ainda ser analisadas. Exceção a casos de filhos que seguem profissões de familiares, é comum que os jovens pouco conheçam sobre suas opções de profissão, sendo necessária pesquisar para obter informações sobre a prática profissional (ou o cotidiano da profissão), a formação necessária para atuar, a remuneração e tantos outros aspectos relevantes. Agora sim, respondendo objetivamente a sua pergunta. No livro, a ordem dos exercícios foi pensada numa lógica, mas não vejo problema em alterá-la; porém, não recomendo que se altere a ordem dos estágios, já que as profissões pesquisadas normalmente resultam de reflexões anteriores realizadas no processo de autoconhecimento.



 Clube do Farol: Qual é o papel das redes sociais para o seu trabalho de escritor? Como é a sua interação com seus leitores na Internet?

 

Dido: Tenho dificuldade em me ver como um escritor. Enxergo-me mais como um professor que tenta ajudar os alunos na escolha da profissão. O livro foi uma forma que encontrei de fazer isso, mas também gravo vídeos, faço palestras, lives, mantenho grupos de orientação profissional etc. Resumindo: estou sempre inventando alguma coisa. Eu até criei um canal no YouTube para ampliar o escopo do meu trabalho, mas sou um tímido incorrigível, que apagou os vídeos só de imaginar quantas pessoas poderiam assistir. Hoje, sinto-me mais seguro em publicá-los nas minhas redes sociais, onde sei que serão vistos pelos meus alunos, amigos e familiares.



 Clube do Farol: Além de “Como Ajudar Seu Filho Na Escolha da Profissão" publicado na Editora Plus+, já tem em mente o seu próximo livro? Ou já está concluído? Conta para a gente os seus futuros planos no mundo literário.

 

Dido: Frequentemente me pego pensando em novas formas de ajudar meus alunos na escolha profissional. Sou uma pessoa inquieta, com muitos projetos na cabeça, então acredito que “fatalmente” voltarei a escrever. No momento, além das aulas, pretendo dedicar meu tempo na gravação de vídeos. Minha intenção é articular ainda mais a Sociologia e a orientação profissional. Assim como a Psicologia, penso que a Sociologia tem muito a contribuir nesse assunto. Somos resultado de uma complexa relação entre aspectos individuais e sociais, e por isso o resgate de conceitos sociológicos pode agregar muito, tanto no autoconhecimento quanto na pesquisa, à medida que oferece instrumentos para o indivíduo compreender mais sobre si e sobre o contexto que está inserido. Quem sabe um dia eu escreva mais sobre isso!



 Clube do Farol: Para finalizar essa entrevista, gostaríamos que você deixasse uma mensagem para seus leitores no Clube do Farol.

E, claro, de antemão agradecer pela generosidade em dispor de tempo para responder nossas perguntas.

 

Dido: Primeiramente eu gostaria de agradecer muito ao Clube do Farol. Esse livro é resultado de um processo inesperado, porém intenso e laborioso, em que revisitei o meu passado, conversei com muitas pessoas e senti a real necessidade de agir; talvez por isso falar sobre esse assunto é tão estimulante para mim. Aos meus leitores, resta agradecer pelo carinho e pela confiança. Com a pandemia, infelizmente não pude lançar o livro nos moldes tradicionais, mas pelas redes sociais recebo lindas e encorajadoras mensagens. São pais que obtiveram resultados positivos, ex-alunos que estão ajudando irmãos mais velhos e até mesmo jovens que utilizam as ferramentas por conta própria. Tudo isso me deixa muito feliz, pois percebo que os leitores entenderam que minha intenção ao escrever foi ajudar. Mas, se você me permite, gostaria de deixar uma mensagem final para quem não leu e não vai ler meu livro. A escolha da profissão na sociedade moderna é um grande desafio, mais ainda no cenário atual de pandemia, em que a tensão e a insegurança estão mais presentes. Diante de tudo isso, sugiro aos jovens que se dediquem com afinco no desenvolvimento do autoconhecimento e na execução da pesquisa. A escolha da profissão passa pelo conhecimento, tanto de si mesmo como das profissões, então vale a pena se dedicar a isso. Desejo a todos muito sucesso nessa caminhada. Novamente agradeço. 




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