17 fevereiro, 2022

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Resenha :: A Fazenda dos Animais (ou A Revolução dos Bichos)



Olá, pessoa! 2021 marcou a entrada das obras autor britânico George Orwell em domínio público. Por isso, várias editoras trouxeram suas publicações dessa história. Eu amei ler a nova edição da Companhia das Letras. Uma edição primorosa e necessária a quem não conhece a obra para uma primeira leitura e também a quem irá realizar uma releitura. Minha fala vem da minha experiência como primeira leitura, não me julguem! E que os textos do autor à edição ucraniana dão ao leitor um breve conhecimento do próprio autor e isso faz diferença na hora de ler a obra.

 

Animais de todo mundo, uni-vos!



A história é conhecida: cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Fazenda do Solar se rebelam contra seu dono e tomam posse do lugar, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário. Mas não demora para que alguns bichos voltem a usufruir de privilégios, fazendo com que o velho regime de opressão regresse com ainda mais força. 

  

Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, A Fazenda dos Animais é uma alegoria satírica sobre os mecanismos do poder e tudo aquilo que leva à corrosão de grandes ideias e projetos de revolução.



Sobre o texto em si é uma leitura instigante, mas que merece algumas pausas para a história “assentar” e a leitura então poder prosseguir, não pelo cansaço, mas por trazer tanto em seus capítulos. Outra coisa é que, por ser uma fábula, o entendimento parece ser simples, mas por seu caráter político merece uma meditação mais apurada. A história é uma sátira a Revolução Russa. Onde os animais tomam o sítio onde vivem para não serem mais explorados pelo dono, porém descobrem outra realidade. 

  

A história por ser uma fábula tem seu texto, de certo modo, curto e falar muito sobre ela tiraria de uma primeira leitura seu brilho de descobertas, porque por mais que o leitor por meio da sinopse saiba a base de sua essência, vai carecer da leitura para formar uma opinião de forma satisfatória as suas conclusões.



Em pleno século XXI várias das críticas expostas no texto deveriam ter entrado no tempo passado, mas se fazem cada vez mais atuais na conjuntura que estamos vivendo. Basta dizer que a polarização política que vivemos é fruto do mesmo fermento que fez a obra ser escrita. 

  

Assim como Santos Dumont e Einstein viram suas obras terem um uso muito diferente ao qual foram criadas, o autor sofreu com o uso de sua obra em vários sentidos contrários ao qual desejava quando a escreveu. E foi uma escrita que levou 6 anos até deixar de ser uma ideia, até chegar a existência em papel e tinta. Desde sua concepção, a rejeição, a publicação da mesma, mostrava que a complexidade do tema requer desde aquele tempo uma análise mais profunda que a primeira leitura e que a aparente simplicidade do texto esconde a complexidade nas entrelinhas.



A crítica A Bebida me remontou a “os homens podem virar porcos quando bebem, mas não virariam homens os porcos se bebessem”. Questões como educação e as consequências da ausência dela, o problema da falta de “memória histórica” por parte da população, o desejo profundo e sincero por mudanças, sem uma visão global dos meios em que ela acontece, são abordados de forma tão clara que quase gritam: Brasil, leia e aprenda. Não sejam fortes em trabalhar e lentos em entendimento. Enquanto o termo "camaradas" cause um asco mediante a análise texto-realidade. 

  

Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.

 

O ganho de consciência que a leitura traz produz, em simultâneo, um desalento devastador quanto uma paz de espírito em reconhecer o que é fato do que é engodo. E que essa constatação seja o bastante para que ao menos não se faça parte da massa de manobra usada para manter as coisas como estão, preservando no poder os que lá estão e suas atitudes egoístas e enganosas. Deixando a anarquia e o cooperativismo como opções de uma governança sem poder ou centralização, evitando a corrupção do sistema pela centralização.



Vale ressaltar que mesmo em uma obra que trata a igualdade, não coloca em mesmo nível homens e mulheres ou masculino e feminino. Todos os líderes e antagonistas são dominadores, fortes e viris, ou ambas coisas. Sejam homens, porcos, cavalos ou cães. As figuras femininas pouco aparecem, ou somente como esposas, reprodutoras, chocadeiras e, por fim, em um arquétipo de amante. Mas ainda sim ressalta, com grande força, que o antagonismo e a antítese são, ao meu humilde modo de ver, uma das grandes forças desse texto. 

  

Uma das maiores polêmicas sobre a edição, cujo título traduzido antes era A Revolução dos Bichos, se volta para a origem e vem como A Fazenda dos Animais, tem sua explicação linda e amplamente feita no posfácio. O professor e crítico Marcelo Pen refaz a trajetória da fábula de Orwell em nosso país — onde surgiu em 1964 — e lança luz sobre as tentativas de uso do livro como arma ideológica no Brasil e no mundo.



Além dessa explicação, o contexto histórico, com a qual a obra foi recebida no mundo e com igual e apurada visão no Brasil, rende aprendizado sobre a história da história que encanta e informa em igual forma.  

  

A história do livro em capas depõe lindamente a favor desta edição, por serem igualmente esclarecedoras e em Fortuna Crítica, as resenhas servem como "outros" leitores para uma troca sobre as observações a qual eu própria cheguei em minha leitura.



Sobre a edição: com capa em tecido, lombada impressa, fonte e papel confortáveis para leitura, tradução primorosa, diagramação e revisão bem feitas, não sendo por mim observado nenhum erro de ortografia ou digitação.  Com nova tradução, de Paulo Henriques Britto, e projeto gráfico — especialíssimo — com obras da artista brasileira Vânia Mignone.




Informações Técnicas do livro

A Fazenda dos Animais 

George Orwell 

Tradução: Paulo Henriques Britto 

Ano: 2020 

Páginas: 248 

Editora: Companhia das Letras 

Sinopse:

A história é conhecida: cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Fazenda do Solar se rebelam contra seu dono e tomam posse do lugar, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário. Mas não demora para que alguns bichos voltem a usufruir de privilégios, fazendo com que o velho regime de opressão regresse com ainda mais força. 

Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, A Fazenda dos Animais é uma alegoria satírica sobre os mecanismos do poder e tudo aquilo que leva à corrosão de grandes ideias e projetos de revolução. Pela primeira vez no Brasil, o clássico de George Orwell é publicado com seu título original. Com nova tradução, de Paulo Henriques Britto, e projeto gráfico especialíssimo – com capa em tecido, corte impresso e obras da artista brasileira Vânia Mignone –, este A Fazenda dos Animais conta também com uma série de ensaios que cobrem a recepção crítica do livro desde o seu lançamento até os dias de hoje. 


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