Sabe aqueles livros que por motivos desconhecidos você começa a ler sem muita expectativa e acaba se apaixonando? No Coração da Selva foi, com certeza, um deles, tem conceito, coesão e minha aclamação! Ayana Gray, você é muito artista!
Diziam que cada um dos seis deuses nasceu da própria lágrima do universo, três gotas de cada olho para criar seis seres imortais.
Com inspiração na mitologia pan-africana, nesse universo nos é apresentado a história de dois jovens da cidade de Lkossa, um lugar que há quase um século é atormentado por uma fera desconhecida chamada de Shetani, que vem matando cruelmente pessoas que ousam entrar na floresta aos seus arredores e apareceu logo após o evento da grande ruptura, um acontecimento que divide a cultura da cidade em um antes e depois que você entende melhor enquanto vai lendo.
Não apenas tinha a mãe e Jabir por quem lutar, mas também a chance de pegar de volta algo que pensara que nunca teria de novo: liberdade.
Os protagonistas Koffi e Ekon são jovens completamente diferentes, enquanto ela trabalha no Zoológico Noturno como guardiã de Feras, junto com sua mãe, obrigada para poder quitar uma dívida que seu pai deixou, ela acaba sendo uma pessoa muito mais impulsiva, embora inteligente se deixa levar muito em suas ações, lutando para que possa ser mais mente do que emoção. Koffi é uma personagem intrigante, carismática e que não é difícil de se apegar, embora ela tenha crescido mais presa no mesmo lugar, tem uma visão de mundo bem mais aberta do que Ekon, por exemplo, o que não diminui nenhum dos dois.
Muitas vezes essa capacidade de computar e calcular informações rápido foi útil, como quando ele estava lendo sobre teorias matemáticas complexas. Mas às vezes o fazia se sentir... estranho, diferente.
Ekon é candidato a se tornar Filho dos Seis, guerreiros responsáveis em manter a paz e a ordem na cidade, assim ele poderá seguir os passos do pai e do irmão. Ele, com certeza, foi um dos personagens mais interessantes e integrantes em sua narrativa, apesar de não ter sido dito com todas as letras, talvez por se tratar de um livro de fantasia, passado em uma época antiga desconhecida, eu li Ekon como sendo uma pessoa neurodivergente, sua mente matemática, racional, que acaba contando seus passos, a obsessão por números divisores de três, um leitor ávido e inteligente que acredita principalmente apenas naquilo que se possa ler nos livros, é completamente cativante sua mente, suas narrações foram as minhas favoritas durante a leitura. Ele é bem mais levado pela razão do que Koffi, pouco impulsivo prefere planejar cada passo, mas no final não menos emocional do que ela, apenas preso em sentimentos que tenta esconder e atormentado pela ansiedade, principalmente por conta de um acontecimento do passado.
– Você me entende? Não vou deixar mais ninguém morrer nesta maldita selva. Não pode acontecer de novo.
Durante uma noite que muda tudo nos seus planejamentos futuros que prometia algo que almejavam, mas que dá errado, os dois acabam se juntando e descobrindo que a única forma de conseguir de volta o que cada um quer, é ir atrás da fera que atormenta a cidade e finalmente caça-la, para isso precisam enfrentar e entrar na Selva Maior de Lkossa, e acabam descobrindo que Shetani não é a única coisa perigosa que vive por lá. Eu preciso dizer que fiquei bastante ansiosa para que eles finalmente se conhecessem e se juntassem, e não me decepcionei quando aconteceu, eles são extremamente shippaveis (risos).
Mas não vejo as coisas como gostaria que fossem; eu as vejo como são. Este mundo está coberto de sujeira e chegou a hora de ser purificado.
Queria destacar o desenvolvimento excelente, que apesar de algumas coisas que eu já desconfiava realmente acontecerem, as reviravoltas foram muito bem trabalhadas, além de que foi uma aventura do início ao fim, a todo momento me deixando presa na leitura para saber o que vai acontecer, fiquei entre ler muito rápido e ao mesmo tempo não querer que acabasse, apaixonante.
...eu queria que Ekon existisse em um mundo onde a excelência negra fosse preservada e celebrada, como vemos em lugares como a biblioteca do Templo de Lkossa.
Foi um dos livros mais envolventes e diferentes que li há um bom tempo. Tendo inspiração na mitologia de vários povos do continente africano, mas não pegando crenças que não são suas, a autora deixa claro em suas notas no final do livro que não usou uma religião real à qual as pessoas aderem e praticam, e como sendo uma mulher afro-americana, preferiu não se concentrar em uma região da África, por se tratar de uma realidade que ela nunca saberá exatamente. Confesso que essa nota da autora enriqueceu muito mais a história, eu já havia amado, mas ler suas referências e o respeito que ela tentou trabalhar a história desse universo e desses dois protagonistas negros, que infelizmente não se vê tanto em destaque na literatura ficcional para jovens adultos (apesar de que nos últimos anos se tem uma grande mudança positiva nesse aspecto), ler o protagonismo negro em um livro tão bem escrito e desenvolvido, como esse que Ayana nos apresentou, é um grande privilégio, espero com muita ansiedade a continuação e que mais pessoas leiam, adotem e adorem essa história tanto quanto eu.
Informações Técnicas do livro
Trilogia Feras #1
Ayana Gray
Tradução: Karine Ribeiro
Ano: 2022
Páginas: 448
Editora: Galera Record
Sinopse:
Inspirado na mitologia pan-africana, No coração da selva é uma aventura contagiante de dois jovens que se unem para desbravar uma selva mágica à caça de um monstro impiedoso. O aclamado livro de estreia de Ayana Gray se tornou best-seller instantâneo do New York Times e foi adquirido para adaptação pela Netflix antes mesmo do lançamento.
Koffi não escolheu ser uma guardiã de feras. Seu destino foi traçado pelo pai, que, ao morrer, deixou de herança apenas dívidas, que ela e a mãe irão pagar cuidando das temíveis criaturas do Zoológico Noturno. Tudo o que Koffi almeja é a liberdade, e ela está prestes a consegui-la quando, por sua culpa, um simples acidente se transforma em uma grande catástrofe, graças a um poder que ela nunca nem pensou existir.
Ekon sabia exatamente qual era o seu destino: seguir os passos do pai e do irmão se tornando um Filho dos Seis – o grupo de guerreiros responsável por manter a ordem e a paz em Lkossa. Quando um acidente interrompe o rito de passagem final, ele é convocado a ajudar. Mas, em vez disso, acaba deixando escapar uma fugitiva. Não importa que eles tenham se deparado com o Shetani – o monstro cruel que atormenta a cidade por quase um século – e que a garota fugitiva pareça ter o poder de conter a fera. Ekon escolheu deixá-la partir, e isso compromete suas chances de se tornar um guerreiro.
Agora, Ekon precisa reconquistar o próprio destino, e Koffi tem que mudar o seu. A única chance para os dois é encontrar o Shetani. Mas para chegar ao coração da selva vivos e intactos, precisarão formar uma aliança provisória. Mas a Selva Maior é um lugar repleto de magia selvagem e perigos incalculáveis.
A caçada começa. Mas seriam eles os caçadores ou os caçados?
“Um mistério impetuoso misturado com um conto de amadurecimento emocionante e um toque de romance.” – The New York Times
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