Recentemente
decidir me aventurar no mundo dos audiolivros, depois de me recomendarem o
aplicativo “audible” (ajudou o fato de eu aproveitar o mês de teste grátis rs),
saí pela minha busca no app de que livro poderia começar para ter essa
experiência da melhor forma possível, já que não tenho realmente costume, e não
é qualquer narrador que consegue me prender.
Foi então que me deparei com Torto Arado, já tinha ouvido falar coisas boas e vinha com vontade de ler, mas senti um certo receio que a experiência de ouvir ao invés de ler da forma convencional pudesse ter influência para que eu não apreciasse a história, acredito que audiolivros não basta que a história seja boa, se o narrador não for bom o suficiente para passar isso ou até mais que isso, pois envolve muitas nuances, vai prejudicar o juízo de valor que vamos dar a história.
Resumindo, audiolivros é uma das mídias que facilitam a leitura na
correria do dia a dia, mas é uma das mais complexas, no meu ponto de vista, pois
não basta que o autor seja bom, mas que o narrador escolhido seja tão bom
quanto, e até mais, pois pode até salvar livros razoáveis.
Mas
voltando sobre o livro, realmente não devia ter me preocupado, pois além de ter
sido apresentada a uma história magnifica de Itamar Vieira Junior, a história
foi abençoada pela narrativa que ninguém menos que Zezé Motta, fiquei fascinada
com a narração e completamente presa nas histórias das irmãs Bibiana e
Belonísia, principalmente ao pensar que apesar de ser um livro de ficção, tem sua
base histórica de acontecimentos que aconteciam tanto no passado, mas não
podemos negar que no presente ainda muito se acontece.
Passado
em uma época depois da lei áurea que declarava o fim da escravidão no Brasil, mas
que não acolheu o povo que foi escravizado, vemos a sobrevivência do povo
preto, principalmente na comunidade de “Água Negra”, onde muitos dos
descendentes dessa história faziam sua morada, trabalhavam nas plantações,
faziam sua roça, mas não eram verdadeiramente donos dessa terra, viviam do que
ela dava e trabalhavam para viver sobre ela, mas não ganhavam nada mais, não
tinham salário, não podiam construir casas que não fossem de barro, pois nada
de material durável em um lugar que muitos nasceram e cuidavam, mas que no
papel não eram deles.
A
narrativa vai se transcorrer durante os anos das irmãs Bibiana e Belonísia que
ainda crianças e após um incidente que mudaria todas suas vidas, que de duas se
fez uma, para depois forma duas novamente, de crianças a mulheres adultas que
apesar de diferentes e de desencontros tudo vai se desenvolvendo por meio de
suas lutas diárias individuais e coletivas.
Não
deixa de ser uma narrativa poética, e não digo no sentido de dores serem
amenizadas, mas pela forma que me encontrei presa nessa construção que
perpassava o imaginário, mostrava todo um sincretismo religioso, e como também os
encantados tinham um papel importante na comunidade e nas decisões dos personagens,
acalantavam seu sofrimento e os impulsionavam para um futuro melhor, mesmo
diante de injustiças que doíam de acompanhar, ainda mais quando você enxerga
tanta verdade nos acontecimentos, pois são reais, por mais que os personagens
não sejam.
Zezé Motta brilhou, eu só queria que ela me narrasse mais histórias, e Itamar Vieira as escrevesse. Sobre os audiolivros foi uma experiencia muito positiva, mas agora sinto que as expectativas começaram muito altas (risos), espero encontrar outros tão bons de ouvir e já indico tanto a leitura do livro como que deem chance para audiolivros, me encontro encantada.
Informações Técnicas do livro
Torto Arado
Itamar Viera Junior
Ano: 2019
Páginas: 264
Editora: Todavia
Sinopse:
Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além
de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Vencedor do
prêmio Leya 2018. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e
Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a
cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão
ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama
conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma
história de vida e morte, de combate e redenção.
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