18 junho, 2022

# @efinco # Anne Buist

Resenha :: Encontros e Desencontros em Compostela



Olá, pessoa! Tudo bem? Não sei se você conhece outros locais de "peregrinação", mas aqui no Espírito Santo existe "Os passos de Anchieta", tem duração vezes menor que a jornada dos personagens a Compostela, mas acredito, pelos relatos que li, que as experiências não são tão diversas assim. Afinal, o que conta não é o caminho e sim a caminhada.



E essa história vai contar a vida de duas pessoas que partem em uma jornada. Ao norte da Espanha fica o Caminho de Santiago. Rota de peregrinação secular que leva a Santiago de Compostela, a jornada de centenas de quilômetros é repleta de vilas e cidades medievais — além de paisagens belíssimas — e atrai, diariamente, milhares de caminhantes, movidos pela fé ou em busca de autoconhecimento.

 

Eu estava sozinha. Eu queria a solidão; agora a tinha, e a odiava.

 

A narrativa é dividida entre Zoe e Martin, em capítulos alternados. Cada capítulo acontece na visão de quem narra, então temos momentos complementares ou completamente distintos e funcionam maravilhosamente bem para a narrativa. O ritmo de leitura não é dos mais rápidos, mas eu já aprendi na minha vida de leitora que livros que falam sobre jornadas tem isso em comum. Contudo, é impossível parar de ler, por a sensação ser de estar caminhando com os personagens e não consigo acreditar em deixar de querer saber o que vai acontecer a eles e principalmente se chegaram ou não ao destino final.



Confesso que a história ter girado em torno de dois personagens já adultos e com uma história, deixou a trama melhor. Não seria a mesma coisa se fossem dois adolescentes, basta atentar para os personagens para ter certeza que eles dariam nos nervos antes de deixar a França. Outro fator que contou a favor foi o foco de ambos ao seguirem a jornada serem motivos distintos e não religiosos. Logo eles aprendem que, mesmo acompanhados, a primeira lição é aprender a depender de si e seus limites. Outro fator foi demonstrarem ao longo do caminho que mesmo os que fazem o percurso por motivos religiosos podem encontrar pessoas que seguem a única lei do capitalismo, levar vantagem. Assim como o oposto da moeda, pessoas que realmente tem no ajudar aos peregrinos a alegria descompromissada do ato.  

  

No mínimo, eu devia parecer um personagem quixotesco fazendo as coisas do jeito mais difícil — não exatamente a impressão que eu queria causar.

 

Como Zoe, eu me senti incomodada pelas diferenças e representação cultural dos diversos países representados por seus personagens e depois, como ela, percebi que ao outro parece mesmo ser assim. O diverso é estranho, desagradável, incomodo até o segundo olhar, aquele em que você reconhece que assim deve ser para outra parte e se acomoda naquela zona cinzenta que nos torna civilizados. O peso de nossa vida é nossa maior bagagem, seja na estrada, seja no cotidiano e sempre encontramos contentamento quando o conforto é maior que a necessidade. Por isso que com fome toda comida é mais saborosa e toda cama ao exausto é macia (a reclamação vem depois que a necessidade passa).



Duas pessoas andando o mesmo trajeto não fazem a mesma jornada, e que o conselho do filósofo serve agora, "conhece-te a ti mesmo". O silêncio e os encontros acabam por propiciar esses momentos a Zoe e Martin, quando se encontram um tenta aprender com o outro, em separado lidam com o que ainda não conseguiram aprender ou aceitar e, ao mesmo tempo, eles lidam com as novas dificuldades que surgem. Afinal, o otimismo americano nem sempre encontra compreensão no humor britânico. Lidar com o imponderável é como lidar com o tempo, não há o que fazer além de aceitar e encontrar um meio. Assim Zoe ajuda a Martin ao mostrar como ele andava em meio a vida cego às belezas ao seu entorno, simplesmente por se ocupar tanto a ponto de não observar o que está ao redor e bem diante de seus olhos. Enquanto Zoe lida com a lição que para se encontrar é preciso se perder ou se dar conta de que se está perdido. 

  

O choque entre as setas e o ambiente agradável e bucólico expressavam dramaticamente os dois estados de espírito diferentes que uma pessoa poderia levar a caminhada: a contemplação da natureza ou o foco em chegar a Santiago. A jornada ou o destino. Eu teria dito que minha própria motivação estava mais alinhada com as setas. Mesmo assim, eu não gostava delas.



Zoe é uma artista da Califórnia de luto pela morte recente e súbita do marido, e Martin, um engenheiro inglês que acabou de se separar da mulher, ambos começaram a jornada em busca de um recomeço. O processo do luto pela morte é algo muito pessoal e leva tempos diferentes para cada pessoa e existem outros pequenos lutos que acontecem ao fim de relacionamentos e de projetos. A forma de vivenciar é também individual, porém o fato de ambos não estarem em uma jornada espiritual aproxima ainda mais. Mas será que cuidar de si não é uma busca espiritual de toda forma? Gostei da abordagem das diversas categorias de crença, seja o horóscopo, carma, ateísmo ou vegetarianismo. O que nos move são nossas crenças e nossas convicções e, muitas vezes, o credo sofre por nossa fé abalada em nós mesmos. 

 

Era o destino que havia me mandado, mas sua lição era de que eu devia confiar menos nele do que sempre confiara.



Eu confesso que fui me encantando pela história ser bem dosada entre os personagens principais e os secundários que vão surgindo ao longo das estradas. O mapa que veio junto ao livro ajudou muito para entender como vários trajetos convertem na mesma jornada e que mesmo partindo do mesmo ponto convergem para Compostela. Outro crédito são as várias referências, tanto na história quanto as que guiam os personagens em suas decisões.  

 

O único porém é que essa é uma história que acaba, mas não termina. Mesmo o epílogo não encerra algumas questões que eu gostaria. Temos pequenos indicativos dos rumos que a vida de alguns personagens secundários tomaria, mas não o suficiente para eu me sentir satisfeita em questão de desfecho. Contudo, não posso deixar de dizer que o final dos personagens Zoe e Martin foi absurdamente perfeito!



A edição está linda! Absurdamente perfeita para a história, para com os personagens. A diagramação, fonte e papel dão fluidez e conforto a leitura, não encontrei nenhum erro de digitação ou ortografia, mas o mapa foi um toque maravilhoso para entender a história e se sentir até mesmo parte dela.




Informações Técnicas do livro

Encontros e desencontros em Compostela 

Duas almas perdidas unidas por um único caminho. 

Graeme Simsion e Anne Buist 

Tradução: Thalita Uba 

Ano: 2022 

Páginas: 406 

Editora: Record 

Sinopse:

Duas almas perdidas unidas por um único caminho. De Graeme Simsion, autor de O Projeto Rosie, Encontros e desencontros em Compostela é uma divertida história de amor, autoconhecimento e segundas chances. 

  

Ao norte da Espanha fica o Caminho de Santiago. Rota de peregrinação secular que leva a Santiago de Compostela, a jornada de centenas de quilômetros é repleta de vilas e cidades medievais – além de paisagens belíssimas – e atrai, diariamente, milhares de caminhantes, movidos pela fé ou em busca de autoconhecimento. 

Zoe, uma artista da Califórnia de luto pela morte recente e súbita do marido, e Martin, um engenheiro inglês que acabou de se separar da mulher, estão em busca de um recomeço. Para superar as perdas recentes, ambos decidem embarcar em uma jornada solitária de Cluny, região central da França, a Santiago de Compostela. Zoe está ciente das dificuldades que encontrará nos dois mil quilômetros que tem pela frente, mas não imagina que seu maior desafio ainda está por vir. Para Martin, a peregrinação começa como um teste de habilidade e resistência, mas, à medida que avança no trajeto, ele descobre que, se quiser chegar ao seu destino, precisará voltar a confiar nos outros – e em si mesmo. 

Duas almas perdidas unidas por um único caminho. Juntos, Zoe e Martin vão descobrir que as jornadas mais árduas não são aquelas medidas em quilômetros, e sim as que colocam a prova nossa força, sabedoria e nos conecta com o verdadeiro amor. 

Para fãs de Comer, rezar, amar, de Elizabeth Gilbert.




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