Essa é a minha segunda experiência de leitura com os livros de Nnedi Okorafor, a primeira foi a novela de ficção científica Binti (que inclusive já resenhei aqui), então já esperava uma história ricamente construída com suas referências culturais africanas, mesmo assim, ela ainda conseguiu me surpreender com Bruxa Akata, fazendo que esse seja meu livro favorito da autora.
— Alguma parte disso faz sentido para você?
— Mais ou menos. — Na verdade, Sunny achou que Chichi estava completamente louca.
Não espere algo parecido com Binti, e com certeza esse é um livro mais infanto-juvenil do que ele, mas ele me conquistou um pouco por isso. Bruxa Akata tem como cenário a Nigéria, e conta a história de Sunny, uma garota negra albina que descobre que é uma pessoa-leopardo — esses são chamados todos aqueles com habilidades místicas —, sendo ela uma “agente livre", que são pessoas que não vem de uma família tradicional de pessoas-leopardo conscientes de sua herança, sendo sua família chamada de Ovelhas, que são todos aqueles que não tem magia. Sunny descobre apenas aos 12 anos sobre esse mundo a parte de sua realidade, que antes disso era “normal", dentro de todas as dificuldades de preconceitos de ser uma menina albina, com pais nigerianos, que nasceu nos EUA, e voltou para Nigéria com seus 9 anos.
— Não sou branca! — exclamou Sunny em resposta, finalmente conseguindo falar.
— Meus olhos me dizem outra coisa — retrucou (...)
— Cale a boca, seu comedor de caramujo! Sou albina! (...)
Sua naturalidade Americana se encontra presente e dá significado ao título do livro. A palavra “Akata", que significa “animal selvagem", que é usada para se referir a negros nascidos no estrangeiro, é um tipo de insulto grosseiro.
Havia livros escritos em hauçá, urdu, Ibirubá, árabe, efik, alemão, igbo, hieróglifos egípcios, sânscrito e até um escrito em uma língua que Chichi chamava nsibidi.
Eu realmente fiquei encantada com esse universo ricamente construído com suas referências à “mitologia" Nigeriana, ou crenças, pois como estou falando de um sobrenatural que ainda pode ser difundido atualmente por alguns grupos africanos, não se categorizaria como mito, e como não tenho esse conhecimento prefiro ter cuidado. E falando em grupos, de maneira simples, a autora mostra a diversidade de línguas e etnias presente no país, mostra pequenas diversidades, principalmente no pequeno grupo de amigos da protagonista, os personagens Orlu, Chichi e Sasha, junto com Sunny, têm uma dinâmica muito boa e carismática, a autora soube desenvolver bem a personalidades deles, até com as pequenas nuances do temperamento, apesar de achar que faltou algo no final que mostrasse mais eles como um grupo, mas como esse é o primeiro livro dá para relevar.
Quanto mais inteligente você se tornar, quanto mais conhecimento você transformar em sabedoria, mais chittim cairão, e, portanto, mais rico você se tornará.
Preciso listar algumas coisas nesse universo que são muito boas, como entre as pessoas-leopardo a única maneira de ganhar “chittim", que é o dinheiro do grupo, é através do conhecimento, cada vez que você aprende algo novo, mais chittim você ganha, bem genial. Aqui os feitiços são chamados de Juju, e para você fazer a maioria deles é preciso ter uma faca juju. É muito interessante os elementos na construção da história, existe muita coisa bizarra e extremamente legal (risos).
Muito do marketing para a venda dessa trilogia é baseada em chamar Bruxa Akata de Harry Potter Nigeriano, o que eu acho meio ofensivo, considerando toda a diversidade, diferencial cultural e o estudo africanofuturista que Nnedi se propôs para entregar uma história tão rica, não menosprezando HP, mas dando o grande valor ao trabalho da autora aqui.
Um clã Oha. É um grupo de combinação mística, criado para a defesa contra algo ruim.
Não digo que na história em si não teve algo que não curti. Acho que a “batalha final” desse livro deixou a desejar, espero que as continuações trabalhem melhor nessa parte. Outro aspecto que não posso dizer que não tem em outros livros, que é adultos mandando crianças e adolescentes para lutar para salvar o mundo, com certeza teve aqui, com um pequeno diferencial, que estavam bem mais conscientes da morte certa da maioria (rindo).
Enfim, esse livro teve uma bagagem referencial/cultural tão boa que para falar de tudo essa resenha daria páginas e páginas, então indico muito a leitura, acredito que ele é um ótimo livro para se começar a ler o gênero fantástico e/ou a autora, indico muito.
Informações Técnicas do livro
Akata #1
Nnedi Okorafor
Tradução: João Sette Câmara
Ano: 2018
Páginas: 322
Editora: Galera Record
Sinopse:
Carinhosamente apelidado de Harry Potter nigeriano, Bruxa Akata tece uma trama de magia e mistério, repleta de mitologia africana. Uma verdadeira história de amizade, superação e sobre como achar seu lugar no mundo
Sunny tem 12 anos e sempre viveu na fronteira entre dois mundos. Filha de nigerianos, nasceu nos Estados Unidos; suas feições são africanas, mas ela é albina. Uma pária, incapaz de passar despercebida. O sol é seu inimigo. Castiga a pele delicada e a expõe aos olhares curiosos. Parece não haver lugar onde ela se encaixe. É sob a lua que a menina se solta, jogando futebol com os irmãos.
E então ela descobre algo incrível – na realidade, ela é uma pessoa-leopardo em um mundo de ovelhas. Sunny é alguém com um talento mágico latente. Mais que isso: é uma agente livre. Uma pessoa com poderes, mas que nasceu de pais comuns.
Logo ela se torna parte de um quarteto de estudantes mágicos, pesquisando o visível e o invisível, aprendendo a alterar a realidade, sendo escolhida por um mentor e conseguindo, enfim, sua faca juju — com a qual é capaz de fazer seus feitiços.
Mas isso será suficiente para que encontrem e impeçam um assassino em série que está matando crianças? Um homem perigoso com planos de abrir um portal e invocar o fim do mundo?
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