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04 agosto, 2017

Resenha :: Manhã de Sol Florida, Cheia de Coisas Maravilhosas

agosto 04, 2017 18 Comentários


Esse livro foi um dos desafios da minha TBR (Livros para ler) na Maratona literária de Inverno. Ela atendia a dois dos desafios, o primeiro - pontuação no título Manhã de Sol Florida. Cheia de Coisas Maravilhosas. E o segundo - história que se passa em momento histórico marcante. Essa história acontece nos anos 70, em plena ditadura militar.

Confesso não ter me apaixonado pela sinopse, mas assim que comecei a ler tive certeza que não iria abandonar a leitura, que rendeu boas surpresas. Logo no começo o livro mostra uma história nada clichê e com muito conteúdo. 

Outra coisa surpreendente foi a quantidade de conteúdo em poucas palavras e a desenvoltura do autor em fazer o leitor interpretar a história de maneira quase inconsciente, ir preenchendo as lacunas entre as linhas da história sem deixar que com isso o livro tivesse uma queda no rendimento da história e da leitura.

Ao indicar esse livro já diria que só de pensar em toda cultura histórica do livro e alguns fatos de época já valeria a leitura desse livro. Que começa apresentando alguns personagens e uma rotina até então comum num dia-a-dia de um operário morador de áreas periféricas, várias pequenas curiosidades de Montevidéu e dos gostos dos moradores do local. Também nos apresenta o protagonista Miguel e como a vida pode seguir numa rotina sem cores e até sem vida, preso a rotina e aos horários da vida cotidiana.

"Miguel Martinez era um cinzento montevideano, que gostava de vinho, bife à milanesa, doce de leite, café puro e tubaína que aprendeu a tomar no Brasil."

Eu sinceramente comecei a notar pequenas peculiaridades no personagem principal e a cada novo capítulo o tom da história entra num crescente ascendente, mais conteúdos e detalhes são acrescentados de forma tranquila deixando a leitura muito prazerosa; as voltas que a vida dá, que levam Miguel ao RJ, são muito bem escritas e verossímeis, em especial pelas notas de rodapé. Um tom pessoal que explica a paixão pelo RJ e encerra um ciclo. Após uma passagem interessante de tempo que diz mais que muitas páginas escritas. 

Esse salto no tempo para mim foi meio chocante porém antes do choque passar veio o entendimento e o aplauso a esse que foi um recurso muito bem empregado. Porque? Simplesmente o autor poderia ter escrito diversas páginas de “nada” apenas para narrar a vinda de Miguel ao Brasil, sem narrar nada especialmente relevante a história. Porém ele deixa apenas os fatos realmente importantes ou detalhes que deveriam ser insignificantes, mas dizem muito.

Aninha, ou Ana Clara surge na história de uma maneira tranquila, assim como os outros personagens que aos poucos ganham destaque. O modo como o autor conta um pouco a cada momento de um personagem em destaque faz com que o conhecimento venha de forma tranquila, porém extremamente marcante a ponto de te deixar cada vez mais próximo do personagem e da história. No entanto a sensação é de um personagem fictício caminhando no mundo real e algumas vezes, de tão bem escritos, o real e o imaginário se fundiam e confundiam deixando a leitura muito agradável e com aquela dúvida de onde termina o real e começa o imaginário instigando ainda mais a leitura.

“A convivência com a jornalista fez dele um homem mais humano, sensível e curioso pela vida. Graças a ela, começou a manifestar um real interesse pelos meandros das comunidades cariocas.”

E a crescente da história só aumenta com a entrada de Ana Clara Pernambuco na história, o romance dos personagens seguem um tom crescente de uma forma muito real e também como o amor é. Trazendo aquele sorriso bobo, cores no mundo que pareciam não estar lá antes e aquela sensação ruim que me deixou angustiada achando que toda essa felicidade não vá durar. Porque além das lentes rosas do amor existe a realidade. A realidade dos morros cariocas, fatos históricos como o surgimento do Comando Vermelho, o terror do submundo do governo militar, da tortura e das cores em preto e branco, da traição e da tortura.

Ana Clara é fundamental para a história, porém o pouco romance na história deixa o livro ainda mais interessante. E o final... eu terminei o livro com o coração na mão e no fim aquele suspiro de quem diz... WAW, o final me conquistou, porque me preparou para algo e me surpreendeu com um final ainda melhor. Estou realmente encantada com todas as surpresas que esse livro me trouxe. Não é uma história de amor fofa, mas é uma história de amor que facilmente seria verdade no mundo que vivemos.

Sobre o livro
Notei logo nos primeiros capítulos, que esses sendo curtos facilitam a leitura e algumas palavras correntes da época dão charme ao texto.
Outra coisa digna de nota são as frases escritas na língua do protagonista e traduzidas no rodapé, achei um charme fantástico a história. Sem falar em papel amarelo de uma qualidade incrível, letras num tamanho ótimo para leitura. E passagens sobre Tim Maia e sua carreira.


Nota :: 

Informações Técnicas do Livro

Manhã de Sol Florida, Cheia de Coisas Maravilhosas
Alécio Faria 
Ano: 2017
Páginas: 154
Editora: Selo Jovem
Sinopse (Skoob): 
Montevidéu, outono de 1977.
O uruguaio Miguel Martinez consegue realizar, ainda que tardiamente, o sonho de menino – o de conhecer o Rio de Janeiro. Contudo, não poderia imaginar o quão sem graça seria viver na cidade maravilhosa, até encontrar Ana Clara Pernambuco - repórter do Diário de Notícias e responsável pela ONG Babilônia Azul, numa das maiores favelas cariocas.
Morando num país periférico, belo e exótico, porém esquecido e marginalizado pela ditadura militar dos anos 70, Ana Clara o envolverá numa arriscada investigação sobre a indústria de bebidas.

Links para compra:
Ed. Selo Jovem :  http://bit.ly/2nji0th