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17 maio, 2019

Resenha :: A Impossível Faca da Memória

maio 17, 2019 5 Comentários

Olá, leitores do Clube. Hoje venho falar do novo lançamento da Laurie Halse Anderson, autora do livro Fale!, que você já pode conferir a resenha no clube, clicando aqui. Espero conseguir passar tudo que eu senti e vivi lendo essa história.


Começamos conhecendo uma garota com problemas, afinal ela está em um "castigo" escolar, que consiste em atividades extras após a aula regular. Ela começa dizendo que seus colegas são zumbis ou "esquilos". E vamos vendo como ela qualifica os que são diferentes dela ou iguais ao que ela gostaria de ser. Afinal, somos apresentados à realidade de Hayley, pelo menos a realidade que ela vive nesse momento, porque não deixa de se lamentar pela opção do pai de voltar à cidade natal dela para tentar levar uma vida “normal”. Porém logo fica claro que ambos estão longe da normalidade. 

Engoli o medo. Ele está sempre lá, e ou você se mantém na superfície, ou se afoga.

As lembranças do tempo que passaram viajando de caminhão, onde seu pai tentava fugir das lembranças que os assombram, se tornam cada vez mais doces à medida que as coisas para Andy vão se complicando. Nesse meio tempo, começaram a surgir os mistérios, de coisas não contadas ou fatos que não veem a tona totalmente, alguns logo esclarecidos, porém que vão criando algo ainda maior, e que foram me prendendo na leitura de uma maneira muito fluida, que não dava nenhuma vontade de largar o livro apesar de que eu realmente tinha que dormir (Quem nunca?).

Fiquei olhando para os zumbis na calçada que recitavam suas falas teatrais, indo até a beira do palco, interpretando a vida real.

As coisas começam a ganhar um ritmo mais intenso. e até assustador, quando o passado começa a bater na porta de Hayley e ficamos sabendo o que aconteceu antes dos anos em que ela viajou com o pai pelo país. Porque temos o contraponto do pai que não consegue esquecer e de sua filha que não consegue lembrar. Ela cria escudos para se proteger dos problemas que sua vida enfrenta, porém fica nítido que esses escudos funcionam tão bem quanto uma peneira. 

À medida que a história avança, Hayley tem que enfrentar na escola a vida de uma adolescente e em casa a de única pessoa emocionalmente estável. Afinal, ela é obrigada a ver seu pai ser lentamente derrotado pela depressão e se entregando às drogas e à bebida para calar os demônios interiores. Demônios esses que são mostrados em capítulos intercalados aos da filha e deixam a leitura ainda mais profunda aos temas abordados. Como alguém, com menos de 18 anos, pode lidar com algo que afeta tão profundamente aquele que deveria ser seu protetor e cuidador, e a expõe aos traumas que trouxe das guerras em que foi soldado, da ausência de uma figura materna que equilibre sua vida, onde seu refúgio é na casa da sua amiga.

Não se pode fugir da dor, garota. Lute com ela e fique mais forte.

Amiga essa que mostra a Hayley que, mesmo não tendo a mesma realidade que a dela, ainda enfrenta problemas e que a vida perfeita não existe como ela gostaria de imaginar, para além de sua casa. Aqui, preciso deixar claro, que apesar da escrita da autora ser extremamente delicada e cuidadosa, o impacto dos temas não é menor. Pelo contrário, parece tornar tudo ainda mais intenso e verdadeiro. A cada avanço na leitura, as emoções e pensamentos de quem ler ficam totalmente envolvidos pela história.


E um livro que poderia ser extremamente pesado e perturbador, ganha na amizade e no interesse romântico de Hayley o "alívio" aos temas abordados, porque Finn, com seu jeito encantador e divertido, entra no seu mundo sem pedir licença e faz com que ela comece a encarar o fato de que logo será responsável pela própria vida e que o futuro é algo mais próximo do presente que o passado.

Quando eu estava com Finn, o mundo girava direitinho na sua órbita, e a gravidade funcionava. Em casa, o planeta se inclinava tanto que era difícil dizer qual era o lado para cima.

Porém, Andy cada vez mais coloca um "tic-tac" sobre a vida da própria filha, trazendo a sua ex-namorada de volta para a vida dele e de Hayley, que se vê obrigada a aceitar as lembranças que voltam independente de sua vontade de esquecer, que mesmo Finn tem seus próprios problemas para enfrentar e que evitar a morte intencional ou não de seu pai pode estar muito além de suas forças.

Eu, realmente, amei a leitura dessa história, porque nos mostra uma Hayley que cresce durante a história, amadurece enquanto pessoa e que a vida real entra em seus dias de uma forma única para quem viveu sobre rodas durante um período importante da sua vida escolar. A escola é retratada de uma maneira real, onde temos professores que realmente tentam ensinar e despertar a vontade de aprender, que se preocupam e outros que encaram tudo como um emprego ou até penitência a cumprir.

Uma pessoa que precisa anunciar que é digna de confiança merece mais é que a gente minta.

Que sem perceber projetamos nossos problemas em outras pessoas, e que essas mesmas pessoas estarão ao nosso lado para nos dar um choque de realidade, que pode ser o divisor que precisamos para que consigamos dar uma resolução ao problema ou pelo menos vermos com outros olhos. E que o amor, de todas as maneiras — seja entre amigos, namorados ou pai e filhos —, é sem dúvida uma força que nos move em direção à vida, a continuar lutando e tentando. Me deixando no fim do livro com o gosto da palavra esperança no coração, marcando a leitura.

Preciso acrescentar que mesmo para alguém que sofra de alguma das doenças abordadas na história, a leitura É recomendada. Não tem gatilhos, e a forma como tudo é tratado mostra as possíveis "armadilhas" da doença. O que pode ajudar a alguém a reconhecer que precisa de ajuda, ou que aquela pessoa que você conhece pode estar passando por algo assim.


A edição está maravilhosa, com os capítulos curtos que são marca da autora, em uma fonte maravilhosa para leitura tanto no  físico quanto no e-book; a diagramação perfeita e sem erros de ortografia ou digitação. A capa do livro físico está linda e as orelhas são dignas de uma leitura com atenção e carinho.


Nota :: 


Informações Técnicas do livro

A Impossível Faca da Memória
Ano: 2019
Páginas: 352
Editora: Valentina
Sinopse:
“Apesar das minhas melhores intenções, eu começava a entender como meu pai via o mundo. As sombras que perseguiam cada ser vivo. Os segredos dentro das mentiras, as mentiras dentro das fachadas hipócritas.”

A adolescente Hayley Kincain e o pai, Andy, passaram cinco anos viajando de caminhão, fugindo das lembranças que os assombram. Agora, estão de volta à cidade natal de Andy para tentar levar uma vida “normal”, mas os horrores que ele testemunhou na guerra ameaçam destruir a existência de pai e filha. De mãos e pés atados, Hayley é obrigada a vê-lo ser lentamente derrotado pela depressão, e se entregar às drogas e à bebida para calar os demônios interiores. É então que seu próprio passado vem à tona, e o presente se estilhaça... anunciando um futuro totalmente incerto.
O que você deve fazer para proteger a vida de seu pai quando a morte o está rondando? Que atitude tomar quando os papéis de pai e filha se invertem? E o que acontece quando aquele garoto encantador e divertido entra no seu mundo sem pedir licença e, pela primeira vez, você se vê pensando no futuro?

Atual, surpreendente, irresistível, A impossível faca da memória é Laurie Halse Anderson no seu auge.


Para a Editora Valentina, leitura é, acima de tudo, entretenimento.
Olho vivo e faro fino.
Esse é, na verdade, o lema de todo grande editor. E a pinscher dessa editora encarna esse lema como ninguém.

27 abril, 2019

Resenha :: Fale!

abril 27, 2019 0 Comentários

Olá, faroleiros. Vim escrever sobre um livro que já estava na minha lista de quero ler a algum tempo, e ganhou prioridade quando vi o novo lançamento da autora. Quero escrever sobre Fale!, principalmente, porque resenhar é uma maneira de eu absorver e me libertar do que o livro trouxe pra mim.


Fale! é narrado por Melinda, que vai nos contando um pouco sobre como é sua chegada ao ensino médio, e porque tudo ainda é pior para ela do que para os outros alunos. Melinda é alguém que não está conseguindo falar ou comunicar de qualquer forma o que houve  com ela, para que possamos entender o porquê dela ter perdido os  poucos amigos que tinha e acabar isolada e jogada para escanteio. Vítima do já conhecido bullying escolar e cada vez mais isolada da vida social da escola.

Mas sentimos que existe algo errado, que algo não está certo e ela ganha nossa simpatia e uma vontade imensa de entender o que está errado com ela, porque ela ligou  para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. Aliado a isso, o despreparo aliado a falta de motivação dos professores e profissionais da escola, dão uma dimensão de que o problema se agrava ainda mais.

Lógica Kodak, aparência é tudo. Só nos comerciais de TV esse tipo de coisa funciona.

O fato de agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra — insultos e deboches, sim — ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Começamos a entender a dinâmica familiar que a cerca e porque isso parece ajudar ao problema, mas do que ajuda-la  a se livrar dele, e à medida que vamos conhecendo a história não contada de Melinda, mais queremos pode saber para ajuda-la. E dia a dia durante a história a vemos murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.


É impressionante ver que, muitas vezes, cometemos o mesmo erro. De como alguém mordido por uma cobra se concentra tanto na mordida, que se esquece do veneno circulando pelo organismo, enfraquecendo, adoecendo e matando a quem está tão atordoado com a mordida que esqueceu o que ela causa, os danos que provoca. E assim, é impossível não sentir o coração apertado com a dor de Melinda e parar de ler, tentar entender como se isso fosse ajuda-la. Vê nas aulas de artes uma chance, um abrigo que poderá ser a passagem pela qual era irá retomar a vida e enfrentar seus demônios e responder, falar, gritar: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?

Quando as pessoas não se expressam, vão morrendo aos poucos. Você ficaria chocada se soubesse quantos adultos estão realmente mortos por dentro, vivendo sem ter ideia de quem são, só esperando um câncer, um infarto ou um caminhão surja e acabe com, eles .É a coisa mais triste que conheço.

Me lembrei do poder da palavra, da confiança que só uma amizade é capaz de despertar em alguém, na nossa eterna necessidade de segurança em várias áreas da nossa vida. E que descobrir que se pode contar com alguém, pode ser libertador e, ao mesmo tempo, a centelha de esperança que tudo vai dar certo, tudo vai ficar, de alguma maneira, melhor. Afinal, alguém ouviu, escutou, prestou atenção e deu a devida importância às palavras ditas, a verdade que elas contêm.


Fale! Falar pode ser o que vai trazer justiça ou evitar que se repita, que o círculo vicioso da impunidade continue. Que a vítima vai conseguir ouvir e entender sua própria história e finalmente se dar conta de que não é culpa da VÍTIMA. Nada dá o direito de outra pessoa fazer qualquer coisa contra a vontade de alguém. Que campanhas como Não é Não, Depois do não é assédio são tão importantes, necessárias. A mensagem impressa nas páginas de Fale! é realmente poderosa, do tipo que é impossível ler e não ter algum tipo de emoção a respeito do texto. Eu compreendo que algumas verdades são terríveis de serem lidas ou ditas em voz alta. 

Não foi culpa minha. Ele me machucou. Não foi culpa minha. E não vou deixar que isso me mate. Posso crescer.

Mas Fale!, a história de Melinda, vem nos mostrar que o calar, silenciar é ainda mais devastador que qualquer dor causada pela verdade, que sempre vai libertar e proteger. Então, FALE! Grite, faça com que a sua voz seja ouvida por você e por quem vai te ajudar. Porque você não está sozinha, não está sozinho e que, quando falar, vai ver que eu tenho razão.


No Brasil, você pode contar com o CVV — Centro de Valorização da Vida —, para apoio emocional, ligue 188 ou acesse www.cvv.org.br. Nessa central de telefone, você pode conversar com um voluntário que vai te ouvir. A ligação pode ser feita de todo o território nacional, 24 horas todos os dias, de forma gratuita.

E claro, pode vir para o Clube ler com a gente, conversar no Whatsapp e descobrir que tem uma turma maravilhosa nesse Clube, que lembra que viver vale a pena, lutar para continuar é bem mais fácil quando estamos no meio de outros leitores que sabem o poder da palavra escrita e falada.


Sobre a edição: é uma das coisas que mais amo na editora Valentina, a capa, além de linda, é feita para quem leu o livro. Chama a atenção de quem não leu? Sim! Mas ganha um significado maior e ainda mais especial para quem leu a história. Tradução, ortografia perfeitas, diagramação caprichada, e extras que tornam a leitura ainda mais especial e ótima para alimentar debates sobre o livro.


Nota ::  4,5


Informações Técnicas do livro

Fale!
Ano: 2013
Páginas: 248
Editora: Valentina
Sinopse:
“Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra (insultos e deboches, sim) ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.
Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?
Um romance de estreia extraordinário; uma obra-prima vencedora (e finalista) de inúmeros prêmios sobre uma jovem que opta por calar em vez de dizer a verdade. Fale! encantou tanto leitores quanto educadores, alunos e professores. Um romance transformador, corajoso, capaz de fazer refletir sobre temas fundamentais – porém espinhosos como o bullying – do cotidiano dos adolescentes.
Fale! recebeu o “Altamente Recomendável” norte-americano para leitura escolar. Foi transformado em filme (O Silêncio de Melinda) em 2004, com Kristen Stewart, da saga Crepúsculo, no papel da protagonista.

Fale! é um livro impactante e corajoso, que incentiva a reflexão e o debate. É para ser lido com o coração e, principalmente, relido com a alma.


Para a Editora Valentina, leitura é, acima de tudo, entretenimento.
Olho vivo e faro fino.
Esse é, na verdade, o lema de todo grande editor. E a pinscher dessa editora encarna esse lema como ninguém.