*recebido em parceria com o Grupo Editorial Coerência
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Olá, pessoa!!!! Vou compartilhar uma leitura que me
chamou atenção, em um primeiro momento, não pela capa ou sinopse e sim pelo
título. Não sei vocês, mas eu estou louca por uma ótima viagem, que me tire de
casa com a promessa de diversão e sem riscos à saúde. Enquanto a realidade não
me permite, aproveito para viajar nas histórias e essa viagem com 700 e poucos
quilômetros eu mega recomendo. Então, sente no banco do carona dessa
caminhonete comigo e vamos viajar!!
A história começa já com o carro em movimento,
então vamos descobrir durante o trajeto que o maior problema de Emílio Andolini
não é a falta de organização ou seu chefe avoado, muito menos terem confundido
os horários do ônibus que levaria a equipe do escritório a uma premiação de
publicidade no Uruguai... Sério! Nem mesmo ter de dirigir os setecentos
quilômetros de Porto Alegre a 'Punta del
Este' por estradas até certa medida bem conservadas, ou sequer chegar moído
à premiação que vai consagrá-lo como o maior e melhor publicitário da América
Latina.
Dentro do carro, a percepção de tempo era diferente. Nada se alterava. Nem para frente, nem para trás. Era como estar preso nos onze mil dias de Saturno sem saber o que fazer.
Era, no entanto, dirigir até lá com a redatora mais
desprezível da agência e sua maior rival desde os tempos de
faculdade, encarar oito horas de viagem com a mulher que masca um chiclete
atrás do outro, que tem o dom de irritá-lo e que age como a rainha de Sabá do
mundo da criação é definitivamente um problema. Um grande problema.
Então, já deu para notar que Emílio fará a
narrativa dessa história em primeira pessoa, e sim temos uma história em voz
masculina!!! Não sei você, mas adoro e estava sentindo falta, porque mesmo
alguém criativo como ele consegue ser mais objetivo nos pensamentos, deixando o
texto na medida para essa história.
— (...) mas não foi o tipo legal de tirar o fôlego, o tipo legal que te faz querer confessar todos os teus segredos, sabe?
Já adiantei que a viagem começa em Porto Alegre,
então algumas expressões características da região Sul aparecem, mas nada
que te faça abrir o Google para
entender, então é perfeito para a história te tirar do eixo Rio-São Paulo e te
colocar ainda mais em clima de viagem.
Falando em linguagem, preciso dizer que amei os
diálogos e também os silêncios dessa história, seja porque na realidade ninguém
passa oito horas em um carro tagarelando como se não houvesse amanhã, ou porque
o mesmo tempo todo em silêncio seria impossível. Existe o fato também que,
junto com o passar das horas e cidades (senti
falta de um mapa para ir marcando os pontos citados, mesmo sendo chamada de
semi-idosa porque hoje existe GPS, não ligo, queria ver e brincar com a rota,
mas enfim...), as situações e conversas levam a uma realidade deliciosa e
aquele tipo de conversa mesmo de viagem.
Incomodava porque ela era de carne e osso, porque existia todos os dias. Todos os dados são de carne e osso para alguém.
Que remota a DR (discutir a relação) mais sem noção, confidências e segredos e,
claro, tirar a limpo histórias que ficariam estranhas se trazidas à tona em
qualquer outro lugar, senão em um carro durante um percurso com hora e
local para terminar. Outra coisa que percebi durante os diálogos foi a presença
de alguns pontos bem marcantes ligados a profissão de ambos, como a importância
da palavra em letras maiúsculas ou minúsculas, na atenção não só à frase, mas
ao contexto geral que ela pode representar e ao que não foi dito, mas que fica
ali nas entrelinhas esperando ser descoberto. E, claro, que propaganda é a alma
do negócio e parece que a senhorita Salles leva isso a sério na própria vida.
E assim, sem nem perceber, fiquei amiga dos
ocupantes dos bancos da frente e meio irritada com a aparente indiferença
da Pietra Salles, mas logo notei que, como diria o poeta, sorrir demais é
desespero e fui descobrindo que existia muito, muito mais por trás daquela
fachada de quem veio a mundo para viver em festa e ema uma maré de sorte
eterna.
A escolha de cada palavra era o coração de sua profissão.
A narrativa feita por Andolini é tão
envolvente que me vi vivendo com ele as emoções na estrada. Claro que em
momento nenhum da leitura achei que iria ficar sabendo das revelações de ambos,
que são a grande virada na trama e, sem dúvida, o ponto decisivo do
relacionamento de ambos. Acho que mesmo sem querer acabamos julgando o próximo
por nossas medidas e caímos no erro de achar que a grama dele é mais verde. Foi
algo tocante ver o tratamento antes feito pelos sobrenomes ir mudando para mais
pessoal e íntimo. Claro que você, como eu, vai logo dizer: “Hey, eu sei que todo esse ódio na verdade é
amor no fundo no fundo, se acertem!”. Mas, assim como a estrada precisava
ser percorrida, as coisas entre eles precisavam encontrar um rumo antes de
seguirem ao destino, sendo esse qual fosse.
Por fim, me encantei com todos os significados das
coisas, como a importância de Saturno, que acabou por me lembrar de que nós
somos muito daquilo que faz parte de nossas vidas no todo: como trabalho,
hobbies e, principalmente, do quem buscamos ser com nossas escolhas. Para ser
perfeito, acho que deveria ter a explicação psicológica do porquê daquele ato de
puxar a borrachinha no braço que, de tanto atrito com a pele, coloria Saturno.
Mas ainda sim, nada que tire o brilho e diminua a história... Só me deixou com
esse gostinho de curiosidade não satisfeita.
Vale muito dizer que essa história foi vencedora do
SweekStars 2018, da plataforma online Sweek. E posso dizer, depois de ler, que foi super merecido! Então
leia, divirta-se e concorde comigo... rs.
A edição está encantadora, ótima encadernação e
impressão, papel e fonte confortáveis para leitura. Diagramação linda e uma
revisão impecável, sem erros de ortografia ou digitação.
Boa leitura.
Nota :: 4,5
Informações Técnicas do livro
457 Milhas
Ano:
2019
Páginas:
152
Editora:
Coerência
Sinopse:
O maior problema
de Emílio Andolini não é a falta de organização ou seu chefe avoado. Não é um
problema terem confundido os horários do ônibus que os levariam a uma
premiação de publicidade no Uruguai ou ter de dirigir os setecentos quilômetros
de Porto Alegre a Punta del Este por estradas até certa medida bem conservadas.
O problema não é chegar moído à premiação que vai consagrá-lo como o maior e
melhor publicitário da América Latina.
No entanto,
dirigir até Punta del Este com a redatora mais desprezível da agência e sua
maior rival desde os tempos de faculdade definitivamente é um problema. Encarar
oito horas de viagem com a mulher que masca um chiclete atrás do outro, que tem
o dom de irritá-lo e que age como a rainha de Sabá do mundo da criação é um
problema. Um grande problema.
O maior problema
de Emílio Andolini não é a falta de organização ou seu chefe avoado. O maior
problema de Emílio Andolini é Pietra Salles.
Simples e
delicado assim.
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