11 julho, 2022

# @efinco # Clássico

Resenha :: O Vento da Noite



Olá, pessoa! Hoje eu venho falar de um livro há muito desejado, que encontrou na republicação o fim da busca pelo desejo e enfim a leitura para saciar a vontade. Para quem ainda não sabe, essa tradução é um marco na história literária de nosso país, agraciada com prêmios e estudo acadêmico.



O Vento da Noite, de Emily Brontë (1818-1848) – autora de O Morro dos Ventos Uivantes —, reune uma seleção, feita pelo tradutor e escritor Lúcio Cardoso, de 33 poemas da escritora e poeta inglesa, alguns deles publicados sob o pseudônimo Ellis Bell. A coletânea apresenta o lado mais romântico e sombrio da poética brontiana. 

  

É importante observar que a tradução da poesia é altamente complexa, porque ao se passar para outro idioma incorre em dois riscos: um de se perder as rimas e outra de não se imprimir a mensagem que vai ao âmago de cada frase. Sendo assim, Lúcio Cardoso opta por trazer uma tradução livre. Para mim, foi uma forma linda de ler as palavras de Emily Brontë em seus versos e desvendar a alma, tanto dos poemas quanto de quem segurava a pena que lhes deram vida.

 

“Mas na memória fiel da minha alma, 

Tua sombra amada será eternamente 

emocionante, 

E Deus será o único a reconhecer sempre 

O asilo abençoado que abrigou minha  

infância.” 

(Já não é mais tempo, página 56)



Importante também salientar que a seleção foi feita pelas irmãs na primeira edição, e na segunda ganhou acrescimentos pelas mãos de Charlotte, no momento em uma publicação póstuma as irmãs. Hoje é discutido inclusive se houve verdade nas palavras de Charlotte no prefácio dessa segunda edição, sobre as últimas palavras de Emily, mas como diriam, isso já é outra história.

 

“Dize-me, não sou o teu amigo de infância? 

Não te concedi sempre o meu amor? 

E tu o inutilizavas com a noite solene, 

Cujo morno silêncio desperta minha canção.” 

(O vento da noite, página 15)


Aos apaixonados pelos morros, aqui encontram novamente o chamado e a canção dos ventos, a solidão de Cathy nas charnecas (pântanos) enquanto vagava a espera do encontro com Heathcliff. Conhece-se também um pouco mais do mundo que os irmãos Brontë criaram, povoaram e dividiram e que posteriormente ganhou novos contornos, afinal essa terra Bronteriana tinha governo, hino, lendas e canções, e a seus imortais foi dado poemas. A nós um vislumbre nos textos que sobraram ao colapso desse mundo e do tamanho que tinha quando em seu apogeu.



“Podes enfim dormir no leito de tua glória, 

Não te verão mais nos horríveis 

descampados. 

Mas em troca teu senhor e mestre te dará 

A alta recompensa da lealdade no amor.” 

(Ao cavalo "Águia Negra" que eu montava 

na batalha de Zamorna, página 70)


Das irmãs que sobreviveram a maior idade, Emily foi a única que, mesmo filha de um pároco anglicano, desenvolveu quase uma religião própria. Afinal sua espiritualidade era para com a natureza e sua fé para com o Deus criador dela. Confesso que ler O Vento da Noite, após conhecer um pouco mais de Emily através dos vislumbres dados por Elizabeth Gaskell ao escrever A Vida de Charlotte Brontë, nos aproxima da essência de Emily, a seus verdadeiros amores e interesses e sua relação para com os animais. Faz-se entender porque o ato mais cruel em O Morro foi para com um pequeno cãozinho, que ilustra a degradação da alma de seu herói e seu ódio para com a amada. E revela o porquê sua poesia ser repleta de noite, vento e tempestade e o flerte com a morte, que fazia a vista da janela da casa, em lápides e túmulos que compunham o cemitério a guiza de jardim da casa paroquial.

 

“Bela alma, e tu, ó bela flor, 

Para vós é chegado o tempo de fenecer! 

Fostes neste mundo uma inútil oferenda: 

A terra não soube conceder a sua felicidade 

Aos malditos que não tiveram o favor do 

Céu.” 

(As duas crianças, página 94)



Morte, essa mesma figura tão presente em sua vida desde as primeiras lembranças ou ausências delas, com a partida ainda jovem de sua mãe, e não tão depois de suas irmãs mais velhas. Que estava sempre a porta e ao redor e conseguiu entrar e levar seu irmão, sua irmã Anne e veio buscá-la deixando o mundo sem sua genialidade e de posse de sua companhia. Nos convidando assim a não temê-la, mas entendê-la como uma das facetas que compõe a vida.

 

“Onde pois estavas tu? Em vão  

te procurei. 

Um olhar brilhou, acreditei reconhecê-lo, 

Mas em torno desta fronte brincavam cachos negros; 

O olhar cintilava como se fosse estranho atro 

Á minha alma extasiada.” 

(Onde pois estavas tu, página 125)


Por não ter se casado, diz-se que Emily não conheceu o amor romântico, mas não consigo pensar que por não termos tido acesso à informação não possa ter existido em seu peito a paixão por outro, o calor do sentimento que nutri a vontade de caminhar junto pela vida. Afinal, como pode alguém que não sentiu, conseguir colocar em palavras tão bem o que é o sentimento. Que alguém que não conheceu possa descrever com a precisão cirúrgica o sentir. Ah! Eu imagino que seus poemas escondam os segredos que não conhecemos, as coisas que não nos foram permitidas saber. Porque de todas as mais belas formas, a escrita é a mais biográfica das maneiras de se sair da vida e se entrar na história.



“Ó mortal! 

A fábula da vida é narrada bem depressa, 

Mas basta uma vida — para não se morrer 

jamais.” 

(Eis que estás de volta, página 53)


Por fim, sobre a edição: digo ser uma obra de arte por si, com suas ilustrações, histórias pregressas do que representou sua primeira edição.  Com diagramação, texto e papel contribuindo para o conforto da leitura, a linda tradução e a revisão impecáveis dão ao livro uma unidade única como obra.




Informações Técnicas do livro

O Vento da Noite 

Coleção Rubáiyát 

Emily Brontë 

Tradução: Lúcio Cardoso 

Ano: 2022 

Páginas: 180 

Editora: José Olympio 

Sinopse:

Com ilustrações e diagramação similares à primeira edição de 1944, O vento da noite faz parte da reedição da Coleção Rubáiyát e conta com tradução de Lúcio Cardoso, um dos maiores romancistas do século XX. 

 

O vento da noite, de Emily Brontë (1818-1848) – autora de O morro dos ventos uivantes -, reúne uma seleção, feita pelo tradutor e escritor Lúcio Cardoso, de 33 poemas da escritora e poeta inglesa, alguns deles publicados sob o pseudônimo Ellis Bell. A coletânea apresenta o lado mais romântico e sombrio da poética brontiana. 

A tradução é de Lúcio Cardoso, um dos mais importantes escritores e poetas brasileiros. Nascido em Curvelo (MG) em 1912, é autor do prestigiado romance Crônica da casa assassinada. Traduziu diversas obras para a Editora José Olympio, incluindo Ana Karenina, de Leon Tolstói, e Orgulho e preconceito, de Jane Austen. Em 1966, recebeu o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Faleceu em 1968, no Rio de Janeiro (RJ). 

O vento da noite faz parte da reedição de títulos da Coleção Rubáiyát em comemoração pelo ano do 90° aniversário da José Olympio, uma das editoras pioneiras e mais inovadoras do país. Essa publicação devolve aos leitores e leitoras de hoje a oportunidade de conhecer a histórica coleção – composta de grandes clássicos orientais e ocidentais.




Para comprar:

 Livro Físico

 E-book




Conheça mais sobre o Grupo Editorial Record
em seu site e redes sociais:

Site │ Instagram │ Facebook │ Twitter

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário!! Bem-vindo(a) ao Clube do Farol!