Olá, pessoa, tudo bem? Desde que comecei um projeto de ler autores da Academia Brasileira de Letras com minhas amigas, redescubro o Brasil literário. Esse que ficou encoberto pelos traumas escolares e que, agora, se revelam uma verdadeira joia escondida bem a vista de todos.
Tenho fascínio pela poesia e não à toa, ela é atribuída pela mitologia a uma dádiva dos deuses, um presente porque, em poucas linhas, poucas palavras dizem tanto e tocam não somente o coração como também a mente, passa uma mensagem nem sempre de sentimento, às vezes de saudade, tristeza, revolta, às vezes decifra a vida.
É o tipo de texto que ao ler te faz para refletir, te toma, te enche e preenche e quando você vê já está também meio poético, meio com sentimentos a flor da pele, mesmo que te falte talento para transformar um sentimento em palavras e aí vem o elevo que é ler, especialmente ler Drummond.
"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente."
MÃOS DADAS
Este que lindamente juntou o “ser mineiro ao ser carioca” e transformou sua arte em poesia e literatura eterna. Comecei pelo primeiro no Rio, porque Sentimento do Mundo, neste momento, te coloca não apenas no Rio, não apenas em Minas, não apenas em um lugar, te coloca em todo canto e, ao mesmo tempo, você continua onde está, te tira a noção de pertencimento e te faz ser, através dos poemas, cidadão do mundo.
Como ficar impassível frente o congresso internacional do medo, como não ler sem sentir, sem notar que o poema é atemporal e parece ter sido escrito ontem, hoje parece ser um chamado de agora que, após tanto tempo, nada mudou, tudo mudou e ainda continua igual.
“não cantaremos o ódio porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas.”
CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
E, enquanto lia, Drummond definiu como me sentia lendo, em Ode no Cinquentenário do Poeta Brasileiro. Ler poesia é exatamente assim: se encher e se esvaziar do texto. No entanto, não deixo de trazer comigo algo que estava na poesia e também era meu.
“Que o poeta nos encaminhe e nos proteja
e que o seu canto confidencial ressoe para o consolo de muitos e
[esperança de todos,
os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos disfarces
[do homem.
Que o poeta Manuel Bandeira escute esse apelo de um homem
[humilde.”
ODE NO CINQUENTANÁRIO DO POETA BRASILEIRO
No posfácio, Ailton Krenak nos conta como se "encontrou com Drummond", ao começar a ler literatura brasileira após seus 20 anos. E como ele vê não apenas a poesia e o poeta. Como ele lhe serve de "escudo invisível" para as perguntas e acabei por me perguntar como eu o "vejo". Ah, eu o vejo naquele banco da orla, me contando suas poesias e explicando o universo que existe nas entrelinhas e que, acredito, apenas a mão que escreveu pode revelar em sua totalidade.
Na edição consta ainda a Cronologia na época do Lançamento (1937-1943), que nos apresenta não apenas Drummond (CDA), mas também o Brasil, a Literatura Nacional e o mundo há época. Não tem como não dizer ser uma preciosidade que adorna a joia que é esta edição. Um verdadeiro presente aos leitores. Conta ainda com: Bibliografia do autor, Bibliografia Seleta e Índice dos primeiros versos.
Informações Técnicas do livro
Carlos Drummond de Andrade
Ano: 2022
Páginas: 96
Editora: Record
Sinopse:
Os poemas sociais de Sentimento do mundo retornam em novo projeto, com posfácio de Ailton Krenak.
Sentimento do mundo, publicado em 1940, quando Carlos Drummond de Andrade tinha 38 anos, é seu terceiro livro de poemas, mas o primeiro escrito após a mudança para o Rio de Janeiro, então capital do país. O poema-título, que abre o volume, registra a abertura do poeta para uma visão mais ampla da humanidade. No conjunto de poemas aqui reunidos, há também uma atitude política mais participativa e empenhada (mesmo que ciente de seus limites) na transformação da realidade.
Os poemas sociais de Sentimento do mundo são alguns dos melhores já produzidos em nossa literatura. “O operário no mar”, “Os ombros suportam o mundo”, “Mundo grande” e a “Noite dissolve os homens”, entre outros, são exemplos de uma literatura engajada na qual, como escreveu o crítico Antonio Candido, referindo-se ao posicionamento político de Drummond na época, a “adesão ao socialismo e a negação do sistema capitalista” se fazem “em chave de lirismo, como alguma coisa que vem de dentro e existe antes de mais nada enquanto modo de ser”.
Esta nova amplitude, embora represente uma inflexão na obra de Drummond, não elimina, é claro, as fortes ligações que tinha com Minas Gerais e sua cidade natal. Os dois planos convivem, de forma mais ou menos tensa, ao longo do livro. Essa conexão decisiva com as origens fica evidente, por exemplo, no poema “Confidência do itabirano”: “Alguns anos vivi em Itabira. / Principalmente nasci em Itabira. / Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Sentimento do mundo, o leitor encontrará o posfácio do líder indígena, ambientalista e autor Ailton Krenak, e também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada “Na época do lançamento”, uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.
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