Sabe quando a primeira frase do livro poderia ser realmente você dizendo? Então, é sobre isso! Mas, tudo bem, se você não for alguém que sofre de ansiedade, contudo pode ser ótimo para entender aquela pessoa próxima que passa por isso. Então, vamos ao livro!
A narração é em primeira pessoa, mas por ser um diário já tinha ficado meio óbvio. Contudo, eu não senti que fosse uma fonte de gatilhos e sim um retrato muito fiel da vida, e preciso admitir que fiel ao ponto de existir um certo conforto de não ser só você, de não estar sozinha nessa situação e um “então precisamos nos tratar”... risos. Mas que, desde agora, fique claro que este não é um livro de autoajuda.
A medida do progresso é específica para cada um de nós. Você se sentiu bem ao conseguir fazer alguma coisa, mesmo que seja algo mínimo? Então isso foi um progresso! E foi ótimo!
Sinceramente eu achei a ideia maravilhosa, porque a maioria das pessoas, em especial nas redes sociais, só vendem o quanto são maravilhosas, perfeitas... A coragem necessária para dizer “não está tudo bem” e “tudo bem por não estar bem” (nossa, que frase louca) é libertadora. E mais um passo para realmente as coisas ficarem mais que bem. Afinal, ok se não estiverem naquele momento.
Eu amo a maneira como a Beth Evans escreve, conversando com ela mesma e com quem está lendo o livro e, ao mesmo tempo, quem tem ansiedade também se identifica com essas conversas — mesmo que seja aquela reprise eterna de um conflito e tudo que você não disse e agora você tem as frases perfeitas que poderia ter dito, mas não conseguiu pensar nisso àquela hora —, sem pesar a mão nas partes mais sensíveis e conseguindo, ainda assim, não deixar tudo superficial e vazio. Claro que não estamos falando de um tratado médico sobre ansiedade, e sim um livro de 15 capítulos onde ela conta sua vivência para tentar parar a autossabotagem.
Amor-próprio está na moda agora, um movimento positivo para ajudar as pessoas a se aceitarem. Mas, para muitos de nós, isso pode ser um baita desafio.
Outro ponto delicioso são os desenhos que quebram a tensão do assunto no ponto exato para ser algo tranquilo para quem sofre com o mesmo problema ler. Fica claro que não existe julgamento e sentença. E quem disse que na vida real não existem os vilões?? Adoro ela começar com o LinkedIn e a “mea culpa”, afinal não é a ferramenta que é ruim, é o que ela permite que a ansiedade faça que é, mas, ainda assim, eu já comecei esse livro rindo, não sei se de graça ou de nervoso, mas era uma risada de toda forma.
De uma forma bem tranquila, ela vai colocando os gatilhos na internet e fora dela, afinal todos temos as questões inerentes a vida adulta que não esperam estarmos bem, “os boletos sempre vencem”, questões de trabalho, responsabilidades e pequenas coisas que podem se tornar realmente grandes, à medida que as usamos para lidar melhor e não deixar que todos os gatilhos disparem causando a paralisia de terem acertado o alvo — você — em cheio. E gradualmente entrando em assuntos ainda mais delicados por estarem aliados a ansiedade: TOC, depressão e automutilação, que são assuntos tabus ou tratados de uma forma por vezes leviana.
Você passa 24 horas por dia, sete dias por semana com você mesmo, e isso é tempo à beça para passar com qualquer pessoa.
Cartão de crédito, relacionamentos românticos, encontros e situações que começam a ser apenas “seu problema”, porque é a sua vez de lidar com eles sem ajuda. Os grandes “monstros no armário” da vida adulta colocados com alguma luz que esclareça que não são monstros e sim coisas que você transformou em monstros na sua cabeça. Como você depende de sua própria mente para viver, é legal encontrar luzes que te ajudem a não temer algo que não existe.
Não importa sua experiência com sentimentos, aprender a expressá-los de forma saudável pode ser muito difícil.
Todo o texto é uma deliciosa conversa com alguém que é amiga, sem julgamentos e que não vai dizer ser apenas “algo da sua cabeça”, que usa a própria experiência para dizer como fez para ser menos pior para ela ou até mesmo como se libertar de várias questões e que se coloca vulnerável, falando de como foi sua experiência de “chegar ao fundo do poço” e pedir ajuda para sair daquela situação. O quanto é difícil esse passo e até mesmo como nem todas as pessoas estão preparadas — mesmo quando deveriam — para te ajudar. E, nesse momento, ler alguém te dizendo como se preparar para situações assim é reconfortante, para dizer o mínimo.
Depois dos momentos que vivemos nos últimos dois anos, esse livro se tornou ainda mais importante e necessário para todos, porque quer queiramos ou não, desenvolvemos algum grau de ansiedade e até outros distúrbios se juntaram ao problema e, seja em maior ou menor escala, a ajuda que vier será bem-vinda, para deixar de estar nessa situação. O melhor nesse livro, sem dúvida, é que não tem promessas vazias de tudo é fácil, tudo é mágico ou em 15 passos você estará ótima... Mas mostra que é possível! Que sim, pode ser que como Cazuza você diga “dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem nenhum arranhão”, e que o melhor que você consegue é o bastante para hoje. Que, se precisar, existem pessoas que já encontraram o caminho para sair e podem te ajudar a encontrar.
A edição é ilustrada com folhas brancas e uma diagramação muito confortável para leitura, tradução e ortografia excelentes e a leitura é muito fluida. Eu realmente indico e recomendo essa leitura para quem tem ou não ansiedade.
Informações Técnicas do livro
Beth Evans
Tradução: Giu Alonso
Ano: 2018
Páginas: 192
Editora: Galera Record
Sinopse:
Com ilustrações bem-humoradas, Beth Evans escreve sobre depressão, ansiedade, formulário, boletos e outros desafios para se tornar um adulto.
A vida adulta não é fácil. E quem nunca fuxicou as redes sociais de amigos bem-sucedidos, só para se comparar, e acabou se sentindo pior ainda, que atire a primeira pedra.
Contando suas próprias histórias vergonhosas, e outras mais sérias como depressão e TOC, a autora consegue extrair lições valiosas, sem perder a leveza diante da seriedade de diversos assuntos.
Este livro é repleto de conselhos amigáveis sobre como cuidar de si mesmo, como procurar ajuda (não importa quais sejam seus problemas) e agarrar-se aquilo que te faz feliz – seja uma banda, seja uma maratona da Netflix. Beth Evans é uma contadora de histórias supercriativa, e seus desenhos complementam suas palavras com um humor único.
Diário de uma ansiosa ou como parei de me sabotar é como um abraço do seu melhor amigo naqueles dias sofríveis. E, como melhor amigo, está aqui para dizer: “Você consegue!”.
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