— (...) sempre vou me lembrar da verdade — disse Effy. — Sempre saberei. Um farol, como você disse.
Foi um livro que inicialmente me despertou um certo incômodo com a protagonista e com o enredo que antes foi prometido: rivais acadêmicos (?). Só se for na cabeça da Effy, que, por rancor ou inveja e até mesmo preconceito por ser um “estrangeiro”, enxergou Preston como inimigo antes mesmo de o conhecer, o máximo que vi foi que eles acreditavam em verdades diferentes, certo que ele também tinha um lado petulante de um acadêmico muito inteligente, mas estava longe de merecer alguns xingamentos que lhe eram direcionadom, mas ela também não merecia a forma que foi tratada pela universidade, pela família e sociedade, daí começamos a entender a protagonista. Effy, acima de tudo, foi uma vítima, acima de tudo uma sobrevivente, comece a leitura com esse pensamento. Agora vamos destrinchar esse universo que fala mais do que sobre magia.
Colocavam garotas como ela em quartos em sótãos ou em sanatórios, trancavam-nas e jogavam as chaves fora.
Quando um livro se passa em um universo com magia, mas não necessariamente em um mundo mágico, aqueles que podem ver além do que é dito normal talvez vivenciem uma aventura mágica, incrível e descubram ser algum tipo de escolhido e façam amizade com criaturas de magia. Esse não é o caso aqui. Em uma sociedade de época em que mulheres têm tão poucos direitos, em que aquelas que conseguem a vida acadêmica são raras, diminuídas e desacreditadas, o que seria de Effy, única aluna mulher do programa de arquitetura, que cresceu com pesadelos sobre um Rei das Fadas, que a família via como surtada e precisava tomar remédios para “se manter na realidade”? Seu conforto e o que a ajudou a sobreviver estava em uma publicação do livro “Angharad”, do seu autor favorito Emrys Myrddin, e é por essa devoção que a história começa.
O Afogamento foi mais do que um evento climático. Foi algo que veio a definir a história social, política e econômica da região, e deu origem a uma subcultura distintiva e cada vez mais proeminente entre os residentes do Centenário Inferior.
Neste universo existiu o que chamam de o primeiro “Afogamento”, acontecido há muitos anos, quando o Mar subiu tanto junto com tempestades de chuva que afundou uma grande parte do Sul de Llyr, os naturalistas já falam de um segundo possível Afogamento, existem muitas crenças em torno desse acontecimento, principalmente no Sul. Effy é uma nortista que acredita em magia e nessas crenças, principalmente sobre o Rei das Fadas, que ela já viu, mas muitos acreditam ser apenas um personagem do livro “Angharad”, quando ela vê a oportunidade de fazer um projeto para a antiga casa do recém falecido autor do Sul, Emrys Myrddin, ela vê como a oportunidade de uma vida e de se afastar de rumores e de um professor que dificultam ainda mais a vida dela na universidade.
Você não se resume a uma única característica. A sobrevivência é algo que você faz, não algo que você é. Você é corajosa e brilhante. Você é a pessoa mais real, mais inteira que já conheci.
A inicial “rivalidade” que ela tem, com Preston Héloury, é mais por besteiras da parte dela, e uma parte por inveja que ela mesmo admite por ele fazer parte do programa de Literatura da faculdade, que não aceita alunas mulheres, e outra por ser um Argantiano, um povo que está em guerra com os Llyrianos, e ela não aceita bem ele também estudar um autor que pertence a Llyr, obviamente ela acaba o conhecendo e o encontrando na mesma casa, para estudos acadêmicos, mesmo que pretensiosamente diferentes, além de terem opiniões contrárias sobre o autor de “Angharad”. Apesar de não acompanhar tanto romances e romantasias em geral, apesar da primeira impressão negativa com Effy, eu gostei da dinâmica deles, torci por eles e em muitos momentos fiquei nervosa por certos acontecimentos (risos).
— Há muito o que compensar quando você é o único argantiano no programa literário mais prestigioso de Llyr.
Preston é bastante fofo e fácil de gostar, mesmo sendo um crédulo não diminui os sentimentos de Effy em respeito a suas crenças e ao seu sofrimento, gostei quando ele notou que ela foi uma vítima de um acontecimento e não a causadora, mesmo que ela mesmo se culpasse.
(...) por que mais ela teria ficado? Por que nunca o empurrou para longe? Por que nunca disse aquela simples palavra: não?
Refletindo sobre a história do livro tem tanto o que tirar, mesmo que inicialmente não pareça, ele pega assuntos sobre misoginia e abusos, xenofobia, problemas mentais, imperialismo entre regiões, ambientalismo, guerra e coloca em um universo diferente com magia, mesmo não desenvolvendo todos esses pontos, o leitor consegue enxergar pedaços da realidade que vivemos. Tudo isso em uma busca pela verdade para a construção de uma tese acadêmica, que nos proporciona reviravoltas, tensão e romance. Isso faz com que eu tenha tanto para dizer sobre esse livro, mas nesse momento digo: leiam.
E mudar de ideia não é um comportamento bobo. Quer dizer que você aprendeu algo novo. Todo mundo muda de ideia alguma vez, e deveria mesmo. As pessoas que nunca mudam são, sei lá, teimosas e ignorantes. Água em movimento é saudável; água parada é sinal de contaminação.
Informações Técnicas do livro
Lições Sobre Afogamentos
Ava Reid
Título Original: A Study in Drowning
Tradução: Stefano Volp
Ano: 2024
Páginas: 336
Editora: Galera Record
Sinopse:
Nesta fantasia de estética dark academia, Effy Sayre tem como missão restaurar uma mansão prestes a desmoronar. Mas, ao chegar lá, encontra um rival acadêmico e descobre segredos muito mais perigosos do que uma construção em ruínas. Atmosférico, viciante e delicado, Lições sobre afogamentos é a estreia de Ava Reid na literatura jovem adulta e best-seller instantâneo do New York Times.
Effy Sayre sempre acreditou em contos de fadas, não que tivesse muita escolha: desde pequena, foi assombrada por visões do Rei das Fadas. Sua única escapatória foi mergulhar na célebre história de Angharad, escrita por Emrys Myrddin, sobre uma garota humana que se apaixona pelo Rei das Fadas, e então causa sua destruição.
O seu exemplar antigo e surrado do livro é o que mantém Effy seguindo em frente durante seu primeiro ano do curso de arquitetura na prestigiosa universidade Llyrian. Então, quando a família de Myrddin anuncia um concurso para escolher alguém para remodelar a mansão do autor, ela não tem a menor dúvida de que nasceu para isso.
Mas a Mansão Hiraeth não é para amadores: antiquada e em ruínas, está a dois passos de desmoronar no tempestuoso mar que a rodeia. Mas, assim que Effy chega ao local, descobre que alguém já vive lá: Preston Héloury, um jovem e rabugento acadêmico de literatura, que está decidido a provar que o autor favorito dela não passa de uma fraude.
Os dois estudantes rivais começam a investigar o legado do recluso autor, encontrando pistas deixadas em cartas, livros e diários, e descobrem que não é só a estrutura da casa que tem sérios problemas. Forças sombrias, tanto humanas quanto mágicas, estão conspirando contra eles – e a verdade desenterrada pode significar o fim do caminho para ambos.
“Lições sobre afogamentos é tudo: um conto de fadas sombrio, um romance sensível, um mistério histórico tenso, e uma ode às pessoas que tiveram histórias que foram roubadas. Eu amei até não poder mais.” – Alix E. Harrow, autora best-seller do New York Times com The Once and Future Witches
“Esse é um daqueles livros que nos faz lembrar do motivo de lermos. Lições sobre afogamentos leva o gênero dark academia para outros patamares mágicos.” – Sasha Peyton Smith, autora best-seller do New York Times com The Witch Haven
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