Olá pessoas, tudo bem? Confesso que esse livro foi num caminho muito diferente do que eu imaginei. E me surpreendi porque ele pode ser lido de várias formas a depender de quem está lendo. Mas creio que qualquer que seja a forma de leitura vai ser interessante e informativa.
Mauren Murdock relata suas experiências pessoais em sua jornada, que, embora incorpore elementos da jornada do herói, possui um enfoque distinto. No caminho feminino, há uma tentativa de curar a separação interior entre a mulher e sua essência feminina. E, por fim, uma reconexão em harmonia e equilíbrio. Ela utiliza mitos, contos de fadas, símbolos antigos e divindades para tal, vinculando-os aos sonhos relatados por mulheres, incluindo ela própria.
A perspectiva dos contos de fadas é única por enfatizar o papel feminino em dois momentos, seja como mãe, madrasta ou a menina/mulher que enfrenta os obstáculos em busca do final feliz, onde encontrará o sucesso ou a reconciliação. Essa reinterpretação do papel feminino nesses contos, além de intrigante, apresenta uma análise sobre o papel de vilã das mulheres e o papel heroico das personagens masculinas.
Confesso que nenhuma narrativa me cativou tanto quanto: "Uma Mulher Sábia e um Homem de Coração", especialmente por corresponder a um dos meus desejos femininos. E pela recordação de um dos motivos que me fazem amar Orgulho e Preconceito. Afinal, Lizzie Bennet teve duas oportunidades de agir conforme o esperado, mas preferiu optar pelo que era melhor para ela, colocando-se em primeiro lugar, ao invés de agir como uma ovelha em sacrifício pela sua família. Durante todo o livro, somos confrontados com a pergunta e as diversas respostas: ela foi egoísta ou exerceu seu direito de ser feliz enquanto estava feliz?
“Inspire, você a sente; expire, você a libera. Inspire, uma lágrima escorre por sua face; expire, você sentirá gratidão por seu calor. Inspire e sorria. Seja gentil consigo mesma, avance pouco a pouco”.
Como mencionei no começo, pensei que se tratava de um modelo para a criação de personagens femininas e femininas em obras literárias. No entanto, é claramente mais do que isso e continua sendo esse modelo. No final das contas, uma das justificativas de Maurren é que a trajetória da heroína não existe. Devido à ausência de um padrão que se aplique a todas as fêmeas. No entanto, ela sugere dez etapas em uma trajetória circular - um ciclo ininterrupto de desenvolvimento, evolução e aprendizado - no sentido horário, com o objetivo de cumprir a missão feminina de aceitar completamente a sua natureza feminina, aprender a se apreciar como mulher e curar as feridas do seu feminino em uma cultura predominantemente masculina.
“A missão da heroína é iluminar o mundo amando-o começando por amar a si própria”.
A proposta foi inovadora em 1990 e permanece atual nos dias de hoje. Confesso que a simples incitação ao pensamento já é crucial, pois promove o pensamento crítico, analítico e, independentemente de discordância ou concordância, o processo de transformação ocorre. É crucial que isso ocorra. Neste aspecto, devo admitir que o tema religioso foi o que mais me incomodou, não por estar em desacordo com minha fé, mas por parecer mais uma panfletagem que beira a pregação, do que uma convocação para reflexão. Digo isso porque achei a discussão, além de repetitiva em diversos pontos, superficial e alguns trechos até insatisfatórios do que foi proposto.
Nos momentos em que a narrativa se apoiava na experiência acadêmica e profissional, foi de uma deliciosa brilhantismo. Especialmente nos aspectos em que me reconheci (como mãe e filha) ou quando consegui identificar aspectos de mim mesma como uma figura social. E é importante mencionar que a base para a leitura é a existência. Todos os aspectos da vida de uma mulher, desde o seu nascimento até a sua morte, são discutidos, incluindo o que nos forma como agentes externos do nosso desenvolvimento e maturidade na primeira etapa da vida, e como isso influenciará nossa posição no mundo como indivíduos na segunda etapa, a de plena maturidade.Quando há identificação, aprendemos através do reconhecimento. Se ocorrer negação durante a leitura, minha sugestão é prestar atenção dupla ao que está escrito. No final das contas, o elemento da negação é mais relevante que a identificação, pois é lá que reside a verdade, frequentemente por não querermos encará-la.
“Não preciso mais agradar, dizer sim ou ir contra minha vontade. Agora tenho outras escolhas e a coragem de exercê-las.”
Sempre iniciamos a jornada saindo da nossa zona de conforto. Deixar a proteção e segurança do conhecido e partir. A responsabilidade reside em olhar para si mesma, em empunhar a espada da sua verdade e descobrir a sua voz, escolher ser o destino e lidar com as consequências dessas decisões. O livro inteiro apresenta os riscos e sugere como superá-los, analisá-los e até mesmo aceitá-los como elementos não só da viagem, mas também das transformações que ocorrerão durante ela. Além de prepará-la para o maior e mais desafiador de todos os desafios, onde "a sociedade lhe sorri, dizendo: "Sim, querida, você pode fazer tudo o que desejar", enquanto continua a sabotar seu avanço."
“Não importa quão bem-sucedida seja: ela ainda precisa ligar com o fato de que o mundo exterior é hostil às suas escolhas.”
O texto flui como uma conversa e sua fluidez está mais relacionada à sua habilidade com o tema e com quem está lendo do que com a habilidade de escrever. É evidente que este não é um livro para ser lido continuamente, mas sim um texto para estudo e análise. Por essas razões, deve ser lido à medida que o leitor se sente pronto para avançar para o próximo capítulo ou mesmo parágrafo. Entendo que algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis agora, mas este é o tipo de livro que eu gosto de marcar, fazer anotações e reler no futuro, para me reconectar com o texto e com o eu que o leu pela primeira vez. E vê como e até o quanto eu mudei em minha própria jornada.
A inclusão de outras mulheres distintas em origem, idade e outros aspectos enriquece ainda mais essa leitura e impede que a autora se estabeleça como única protagonista. Os mitos, além de ilustrarem o argumento ou questionamento proposto, também evidenciam o quão antigo é esse tipo de discussão e sua presença em maior ou menor escala. Portanto, ser dona de si mesma, completa em um relacionamento e não apenas em partes, compreender e conhecer o que te impulsiona, te realiza e realmente te faz viver, ao invés de simplesmente existir conforme as expectativas dos pais, da sua companhia emocional ou da sociedade. É recusar-se a viver na roda viva e, ainda assim, não se reconhecer como suficiente para ela. E sobre ser autossuficiente e não buscar ser o que alguém acredita que você deve ser. E sobre o seu espaço de fala, independentemente de onde esteja, sobre descobrir, entre outros aspectos, a sua própria voz.Boa leitura e divirta-se.
Informações Técnicas do livro
A jornada da heroína: A busca da mulher para se reconectar com o feminino
Maureen Murdock
Título Original: The Heroine's Journey: Woman's Quest for Wholeness
Tradução: Sandra Trabucco Valenzuela
Ano: 2022
Páginas: 224
Editora: Sextante
Sinopse: Tomando como base mitos, contos de fadas, símbolos ancestrais, antigas deusas e sonhos de suas pacientes, Maureen Murdock nos conduz a uma reconexão com natureza feminina e à cura das feridas deixadas pela necessidade de adequação aos valores masculinos.
Prefácio de Sandra Trabucco Valenzuela
Maureen Murdock descreve neste livro a busca mítica da mulher contemporânea por preservar os valores femininos e se realizar pessoal e profissionalmente numa sociedade construída por e para os homens.
Baseada na psicologia Junguiana e dialogando com a jornada do herói de Joseph Campbell, Maureen oferece um percurso cultural e espiritual mais necessário do que nunca num mundo cada vez mais ávido pelo feminino e suas especificidades.
Publicado em diversos países, este livro se tornou um clássico e uma referência para roteiristas e romancistas de todo mundo como um modelo da jornada feminina.
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