Não preciso de ninguém para me lembrar que estamos mergulhados em água escura até o pescoço. Só peço a vocês que se lembrem de que os malditos tubarões somos nós.
No primeiro livro da
série Nobres Vigaristas mergulhamos na cultura, crença e toda
a superstição da cidade de Camorr e cidades vizinhas. Em um cenário que lembra
um pouco uma mistura de Veneza medieval e renascentista (sério, é incrível
assim), conhecemos a história de Locke Lamora, intercalada entre sua
infância — de como ele chegou a gangue Nobres Vigaristas com seus golpes
precoces e com consequências bem ruins para aqueles que cruzaram com ele — e a
fase de Locke adulto, como o já então procurado Espinho de Camorr e um pouco
mais cauteloso (o que não é muito se tratando de Locke Lamora, rs).
— Pulga, Locke é nosso irmão e nosso amor por ele não tem limites — falou Calo.
— Mas as três palavras mais fatais de toda a língua Terim são “Locke teria apreciado”.
— Comparáveis apenas a: “Locke me ensinou um truque novo” — emendou Galdo.
— A única pessoa que se safa com os golpes de Locke Lamora...
— ... É Locke Lamora...
— ... Porque nós achamos que os deuses o estão poupando para uma morte realmente grandiosa. Algo com facas e ferros incandescentes...
— ... E cinquenta mil espectadores aplaudindo.
O que mais me agradou neste
livro é a inteligência do personagem principal. Eu, particularmente, gosto de
personagens inteligentes e Locke não me decepcionou nesse quesito e nem os seus
Nobres Vigaristas: Jean, os irmãos Sanzas (Galdo e Calo) e o pequeno
Pulga. Me encontrei em alguns momentos caindo no golpe deles, rsrs. Na verdade,
todos, em certo ponto, caem no golpe deles. Enquanto eles roubam fortunas dos
nobres, eles são vistos no submundo de Camorr como uma reles gangue; a menor e
uma das menos lucrativas, quando na verdade são uma verdadeira gangue de elite,
unida e muito bons no que fazem.
Tanto que, inicialmente, foram
comprados pelos velhos concorrentes, com quem aprenderam até os pequenos
nuances da arte do disfarce, da vigarice com a melhor instrução possível.
Correntes costumava falar que não havia liberdade igual a de ser constantemente subestimado. — Locke
Apesar de ser um livro de
fantasia, tirando sua excepcional esperteza, o diferencial deste livro é que
Locke não tem nada de mágico e nada de um grande guerreiro, muito pelo
contrário. Ele pode chegar a ser um desastre em uma briga, mas nada que o
impeça de fazer o que for necessário para sobreviver no submundo de Cammor,
onde as gangues imperam e quem manda em todas elas é o Capa Barsavi. Temos todo
um universo de detalhes “políticos” nesse submundo, ao mesmo
tempo em que se tem uma relação com a nobreza de Camorr.
Outro ponto que é bem detalhado
no livro são os lugares, mas o que não achei que chega a ser cansativo. Os
grandes acontecimentos do livro demoram um pouco a aparecer, mas é algo que faz
sentido, não é nada jogado ao acaso. A chegada do Rei Cinza e o envolvimento
involuntário dos Nobres Vigaristas com ele foi muito bem elaborado, assim como
a existência dos magos-servidores e das criaturas marinhas gigantes, o que
realça o ponto da fantasia, mas não chega a ser exagerado (Sim, existir
criaturas marinhas gigantes parece algo exagerado, mas juro que não é, rsrs).
Esperto, vigarista e mentiroso,
este é o protagonista. É um livro daqueles que fazem você pensar que está
torcendo para o cara mau da história, rsrs, mas, se comparando com os vários
personagens como o próprio Capa, o odiado Rei Cinza, e uma cidade cheia de
ladrões e assassinos, Locke e sua gangue são relativamente bons. O que, por
incrível que pareça, é uma grande coisa, rsrs.
— Eu só roubo porque minha querida família precisa do dinheiro para viver! — Locke Lamora fez essa afirmação com o copo de vinho erguido bem alto. (...) Os outros puseram a vaiar e entoaram em coro:
— Mentiroso!
— Eu só roubo porque este mundo cruel não permite que eu tenha um trabalho justo! — exclamou Calo, erguendo o próprio copo.
— MENTIROSO!
— Eu só roubo porque tenho que sustentar meu pobre irmão preguiçoso, cuja indolência partiu o coração de nossa mãe! – Galdo deu uma cotovelada em Calo.
— MENTIROSO!
— Eu só roubo porque estou convivendo temporariamente com maus elementos – disse Jean.
— MENTIROSO!
Por fim, o ritual chegou a Pulga, que ergueu o copo com um leve tremor e berrou:
— Eu só roubo porque é muito divertido, porra!
— VIGARISTA!
As Mentiras de Locke
Lamora é um livro muito bom, com ótima narrativa, divertido e
com personagens encantadores. Onde tudo se encaixa e as pequenas coisas que não
foram muito abordadas nessa história foram para aguçar a curiosidade para o
segundo livro da série Nobres Vigaristas. Apesar de que a trama
abordada nesse livro encerra-se nele, podemos continuar a acompanhar os
personagens principais com uma nova aventura e novos golpes em Mares
de Sangue (título do segundo livro).
Bônus: Leia
um trecho em PDF
Nota :: ⭐⭐⭐⭐⭐
Informações Técnicas do livro
As
Mentiras de Locke Lamora
Nobres
Vigaristas #1
Ano: 2014
Páginas: 464
Editora: Arqueiro
Sinopse:
O
Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em
roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade
de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o
considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino,
azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem
por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada.
Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os
pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo
para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.
O
único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser
assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho.
Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça
mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra,
Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e
precisarão lutar para sobreviver.