— Bem-vindo a minha casa. Entre de livre vontade. Vá com segurança; e deixe um pouco da felicidade que carrega! - Drácula de Bram Stocker
Quando abrimos um livro com vampiros damos permissão a eles para povoarem nosso imaginário mais uma vez. Esses seres que vivem entre os mundos dos vivos e mortos como seres que habitam dois mundos, não fazem realmente partes de nenhum deles.
Eu amei que o primeiro conto veio com essa premissa de consentimento. Porque imediatamente me remeteu a frase com que comecei essa resenha. Drácula, dando as boas-vindas a seu ilustre convidado, Jonathan Harker. E assim, foi para comigo ao começar a leitura desses contos.
Devo começar avisando que foram histórias que fui lendo, então me permiti sentir que uma história havia terminado para mim, antes de iniciar a leitura de outra. O que de certo modo foi ótimo, foram leituras curtas que iam preenchendo a vontade de ler nos intervalos dos afazeres do dia a dia.
Sete Noites para Morrer — Tessa Gratton
Gostei muito da releitura, principalmente porque focou em um novo mito que é o de Perséfone lá e as voltas que ela dá entre a vida que ela tem e a morte e não apenas a morte da pessoa que se encontra com vampiro, mas a morte na vida diária de todos os mortais e a questão de quem merece viver para sempre, que não deveria morrer.
Os Garotos de Blood River — Rebecca Roanhorse
Gostei da civilidade. Por incrível que possa parecer, transforma os monstros em algo mais real. Porque os monstros da "vida real" são assim. Fantasiados de gentileza e civilidade. Se eu tivesse que resumir o conto a uma palavra seria: suicídio. Afinal é uma saída brutal e extrema para uma situação onde existem outras saídas, mas que não parecem tão óbvias devido à situação.
Dizem que quando se sente que não se tem mais nada a perder, se aceita o que lhe é ofertado. E Lukas se encontra nessa situação. Mas quanto se pode dar em troca da resolução de todos os seus problemas? Seria a morte sua aliada ou apenas mais uma ilusão? O conto tem um ar de faroeste, onde tudo o que se tem são vidas vazias e sonhos não realizados, mas também tem aquela pequena fresta de luz, que faz você se perguntar se está vendo mesmo ou é apenas algo que uma vitrine suja te mostra.
Chupa, Ensino Médio — Julie Murphy
Ah, como eu adoro a escrita da Julie, quando você pensa que vai morrer de tédio com a personagem, ela logo me lembra porque é uma das autoras que sempre me surpreendem. Conseguiu entregar um conto legal, além, claro, de manter a regra de personagens com nomes pouco convencionais.
O Garoto e o Sino — Heid Heilig
Foi o primeiro com uma pegada histórica. A história ocorre na época de lançamento de Drácula por Bram Stocker e tem em Will um personagem repleto de segredos. Ambos vão se confundido e se revelando durante o conto.
Um Guia para o Vampiro Desi Recém-transformado — Samira Ahmed
Não ria, ok pode rir, mas me lembrei dos vinis motivacionais dos desenhos da Disney. Donald e Pateta eram mestres em usá-los e também acabar por discutir e desistir deles. A lembrança veio especialmente pela narração que faz as perguntas e também as responde.
Achei muito interessante a história se passar na Índia e ter toda a questão cultural tão rica e presente na história. Após entregar a idade, o conto é sobre a tecnologia e o vampiro moderno. Como seria o direcionamento de um neófito. E, claro, esse sendo um indiano vem com críticas a Inglaterra e outros países que fizeram uma forma de vampirismo através do colonialismo e apenas "suga" a colônia. Outro ponto marcante são as questões culturais indianas (da Índia) que aparecem no texto em forma de deuses e vida cotidiana.
Na Mesma Moeda — Kayla Whaley
Foi o conto mais impactante para mim. Mesmo achando que é um tema muito forte para ser levantado em um conto. Foi feito de uma forma bacana. Onde cabe mais a reflexão que o julgamento.
Como mãe de alguém com necessidades especiais eu vou dizer: uma pessoa que cuida, precisa ser cuidada. Mas caso ela não esteja, peça ajuda! E segundo, toda vida importa e tudo que é importante dá trabalho.
Vampiros Nunca Dizem "Morra" — Zoraida Córdova e Natalie C. Parker
Aqui a abordagem é sobre a fascinação que algumas pessoas sentem por esses seres, a ponto de buscá-los na realidade. E de que, caso se encontrassem com eles, seu primeiro desejo seria entregar seu sangue de livre e espontânea vontade em troca da imortalidade.
As perguntas girando em torno do que causa esse fascínio e o que move alguém a ele. Seria algum poder do vampiro ou apenas uma atração nada humana pela morte, ou quase vida?
Bestiário — Laura Ruby
Essa história ganha ares distópicos. E a valorização não é apenas peculiar como também remete a pergunta: vampiros são monstros ou, caso existissem, suas formas não seriam tão humanas quanto algumas histórias sugerem?
Espelhos, Janelas & Selfies — Mark Oshiro
Com todo o tempo do mundo a perder de vista, será que um vampiro se tornaria reflexivo? Me pergunto devido a Louis, Edward e Cisco. Talvez ter muito tempo, também dê muito em que pensar. Ainda mais se você descobrir que, para se manter em uma redoma, toda sua vida não passa de uma mentira que te foi contada muitas vezes.
Outra categoria de reflexo é trabalhada nesse conto, o que observamos no espelho. Por que nos ver e nos reconhecer é tão importante? É porque o que vemos nem sempre é a verdade?
A Casa das Safiras Negras — Dhonielle Clayton
Eu fique alucinada com esse conto. Que história incrível e principalmente crível! Para mim, se existe um lugar mágico e que tudo possa acontecer é em Nova Orleans nos EUA. Outro fator para eu reagir assim foi a autora ter usado os pactos nas Encruzilhadas tão forte na mística com os vampiros. Repleto de história, mistério e um cenário maravilhoso, a história realmente conquista.
Primeira Morte — V.E. Schwab
Sabe quando você termina de ler e entende a dimensão que esse conto ganhou, pensando que foi o ponto de partida para uma série da Netflix?! A trama é bem estruturada para você imaginar a história acontecendo e, mesmo se passando em uma escola, você não sente o déjà-vu Crepúsculo, mas pode sentir um pouquinho um sentimento Winchester, porém nada que diga “ah, já vi isso”, ao contrário. Os pequenos detalhes vão se gravando na sua mente e te deixando querendo saber mais sobre eles.
Esse livro tem uma pegada jovem e uma surpresa em questão de antologia. As organizadoras comentam os contos, inclusive os que elas escrevem e sendo Y.A. já sabemos que os personagens são adolescentes, mas com a adição do vampirismo e outras particularidades dão novos contornos as histórias.
Sobre a edição: A capa tem glitter e dá uma sensação diferente no toque durante a leitura, a diagramação está linda, fonte e espaçamento super confortáveis aliados a página amarelinha. Tradução e revisão bem feitos.
Informações Técnicas do livro
Contos com Mordida Fresca
Zoraida Córdova e Natalie C. Parker
Tradução: Guilherme Miranda
Ano: 2022
Páginas: 266
Editora: Galera Record
Sinopse:
Onze histórias vampirescas inéditas contadas por algumas das mais importantes vozes da literatura jovem.
Neste livro, editado por Zoraida Córdova e Natalie C. Parker, você encontrará histórias sobre vampiros stalkers das redes sociais, vampiros rebeldes famintos por mais do que apenas sangue, vampiros ansiosos para debutar – e para arranjar sua primeira vítima -, vampiros que não apenas saíram de seus caixões, mas também do armário. Prepare-se para conhecer também outras criaturas ousadas, impactantes, perigosas, deliciosas, sinistras, icônicas e poderosas da noite.
Bem-vindos à evolução dos vampiros – e a uma revolução nas páginas.
Vampiros nunca envelhecem traz histórias de autores best-sellers e aclamados, incluindo Samira Ahmed, Dhonielle Clayton, Zoraida Córdova e Natalie C. Parker, Tessa Gratton, Heidi Heilig, Julie Murphy, Mark Oshiro, Rebecca Roanhorse, Laura Ruby, Kayla Whale e V.E. Schwab, autora de A vida invisível de Addie LaRue, cujo conto será adaptado para uma série que está em produção pela Netflix.
Em “Primeira Morte”, de V. E. Schwab, a vampira Juliette está à espreita de Calliope, uma menina de seu colégio a quem ela não consegue resistir, e acaba decidindo que ela será sua primeira vítima, sem saber que Calliope é uma caçadora de seres sobrenaturais, assim como sua família inteira.
Prepare o seu pescoço!
Vampiros podem não ser reais, mas eles são eternos e habitam nossa imaginação por toda a eternidade. Eles somem, mas sempre voltam para sugar sua atenção, afinal, vampiros nunca envelhecem!
“Fãs de vampiros, cravem seus dentes nesta coleção satisfatória.” – Kirkus Reviews
“Esta coletânea quebra barreiras com onze histórias saborosas que superam antigos padrões, apresentando protagonistas interseccionalmente diversos.” – Publishers Weekly
“Com humor sombrio e narrativas convincentes, esta antologia convida os leitores a reconsiderar o que sabem sobre vampiros. As histórias são janelas pequenas e bem trabalhadas em vários mundos vampíricos que vão deixar os leitores querendo mais. Fãs de paranormal cravarão seus dentes neste livro.” – School Library Journal
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