07 setembro, 2022

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Resenha :: Um Cisne Selvagem e Outras Histórias



Olá, faroleiros. Hoje é dia de escrever sobre a leitura de uma releitura. Um novo olhar sobre os contos de fadas que nos contaram quando éramos novos demais para entender além da primeira moral, e que agora talvez sejamos velhos demais para ler sem nos questionar sobre as verdades escondidas entre as linhas e todo o pó de fadas e magia. Mas nem tudo precisa ser tirado nesse processo e por isso as ilustrações e a belíssima edição nos recordam que nunca deixaremos de olhar uma história com a mesma fascinação da infância, porque é onde reside nossa capacidade de acreditar, que talvez em algum lugar essas histórias foram reais, mesmo que esse lugar seja a criatividade de quem a escreveu.

 

A maioria de nós não precisa de ajuda para produzir nossas próprias desgraças. Entidades vingativas buscam devastar apenas aqueles que, de algum modo, foram agraciados não só com os louros e glórias, mas com uma beleza que assombra os pássaros de seus galhos.



A coletânea é composta por 11 histórias diferentes e independentes tanto em narrativa, algumas em primeira, outras em terceira pessoa, quanto em tamanho. Enquanto fui lendo, fiz uma divisão em duas partes do livro, porque acabei me encantando mais pela segunda metade do que da primeira. Nessa primeira, ele trouxe uma versão que quebrava a barreira do tempo espaço, misturando a época em que foram escritas e os dias atuais, em uma mistura um tanto quanto absurda e sem dúvida bastante sexualizada, porém, em momento algum de forma gráfica. O tom deste livro acabou em uma mistura perfeita entre o bem-humorado, a crítica e a ironia. 

 

Assim como uma mulher, ele sabe bem o que é ser machucado e seguir em frente como se não houvesse nada de errado.

 

Na segunda metade, os contos são bastante fieis a seus originais, contudo dando fala a personagens que não as tinham ou simplesmente nos fazendo questionar atitudes, situações e ações que bem analisadas, mostram que foram bastante romantizadas para a narrativa infantil e que, quando colocadas sob a lente da vida adulta, mostram que normalizaram atitudes realmente indesculpáveis. Como a maioria das antologias, essa também tendia a ser um pouco confusa. Diria que a maioria das histórias foram boas ou ótimas e poucas delas eram apenas boas, felizmente essas eram as mais curtas.



Você se concentra, porque acreditar é fundamental. Um dos motivos pelos quais as pessoas comuns não conseguem fazer mágica é a simples falta de convicção.

 

Não foram reescritos para serem apenas divertidos ou terem uma nova “lição de moral”, mas sim para serem divertidos, esclarecedores, sombrios e honestos. Neles encontramos o ciúme, desgosto, o nunca estar satisfeito, medo, pena e o amor. Exatamente como a vida adulta, onde o “felizes para sempre” é uma ilusão — quase um truque de mágica —, e como tal encantadora, muito caprichosa, contudo, a perspectiva adulta consegue adicionar humor, ternura e melancolia tão presentes na vida.

 

— Isso não é mágica. — Ela ri. 

— Não. Mas às vezes a mágica consiste em saber onde fica a porta secreta e como abri-la.



O convite é ver os contos depois do "felizes para sempre", quando a mágica acabou, e a “realidade” começaria a acontecer. Como seria para Branca de Neve ser casada com alguém que não se importou de beijar alguém morta em seu caixão? Eu sei que não faltam histórias de contos de fadas publicadas, mas eu acredito que Michael Cunningham fez um trabalho fantástico de humanizar os relacionamentos dessas histórias. O sombrio nos contos é graças a realidade, afinal o que te assusta mais? O fantasma que não existe e deixa de assustar com o simples acender das luzes, ou o que se esconde sob a forma humana e que você pode encontrar nas ruas da vida ou estar ao seu lado dentro de casa? 

 

Sua vida, ele diz a si mesmo, não é a pior de todas as possíveis. Talvez isso baste. Talvez esta seja a esperança à qual deva se agarrar - a de que simplesmente não tem como piorar.

 

Agora, preciso mesmo falar das ilustrações. Gente, ficaram INCRÍVEIS!! Sério, eu fiquei realmente chocada com o quanto o trabalho em preto e branco trouxe um visual deslumbrante para as histórias. Elas são instigantes, lindas e horripilantes de alguma forma, perfeitas exatamente por serem assim.



A edição, na totalidade, é um presente a quem lê, ortografia, revisão e diagramação deixaram a leitura ainda mais prazerosa e mesmo as folhas brancas contribuíram para o efeito visual lindo do livro. Sério, amei e achei zero defeitos.




Informações Técnicas do livro

Um Cisne Selvagem e Outras Histórias 

Michael Cunningham 

Tradução: Roberto Mugiatti 

Ano: 2022 

Páginas: 120 

Editora: Bertrand Brasil 

Sinopse:

Em Um cisne selvagem e outras histórias, sombrios contos de fada são reimaginados pelo premiado autor vencedor do Prêmio Pulitzer Michael Cunningham, e ricamente ilustrados por Yuko Shimizu. 

  

Uma maçã envenenada e uma pata de macaco que têm o poder de mudar o destino; uma menina cujos cabelos extraordinariamente compridos são responsáveis por uma catástrofe; um homem com um braço humano e uma asa de cisne; e uma casa, bem nos confins da floresta, feita de confeitos de goma e biscoito de gengibre, glacê de baunilha e açúcar cozido. 

Em Um cisne selvagem e outras histórias, os habitantes e talismãs de terras distantes, muito distantes – as figuras míticas de nossa infância –, se veem transformados pelo premiado autor Michael Cunningham em histórias de sublime revelação. Aqui estão os momentos que esqueceram de nos contar ou deliberadamente ocultaram nos contos de fadas: os anos posteriores à quebra de um feitiço, o instante arrebatador em que um milagre é concretizado e o destino de um príncipe curado só pela metade de uma maldição. Há também a história do homenzinho com um talento especial que trama para conseguir um filho. E o preguiçoso João, que prefere viver no porão de sua mãe a correr atrás de um emprego, até o dia em que troca uma vaca por um punhado de feijões mágicos. 

Reimaginados por um dos mais talentosos contadores de histórias da sua geração e ilustrados com delicadeza por Yuko Shimizu – em um estilo que lembra Aubrey Beardsley com um toque de Maurice Sendak –, os contos da hora de dormir nunca foram tão sombrios, perversos e realistas. 

  

“Cunningham reconta de modo elegante e ousado dez contos de fadas clássicos, intensificando o mistério inquietante das versões originais. As notáveis ilustrações em preto e branco de Yuko Shimizu constituem um contraponto visual adequado a esta coletânea simultaneamente sombria e maravilhosa.” – Publishers Weekly




Para comprar:

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