20 junho, 2021

# @Milly # Biografia - Autobiografia - Memórias

Resenha :: Tem Que Vigorar!


Olha eu pagando a língua e lendo livro de ex-BBB (risos), mas não me arrependo. Eu tinha expectativas diferentes para esse livro, principalmente por ter sido lançado tão rapidamente, mas a forma como Gil conta sua História, de forma como se estivesse conversando com a gente, é muito surreal e nos prende do início ao fim.  


É uma narrativa de sua vida bem impactante, emocionante e que fala muito de amor, fé, dedicação e educação. Foi mais do que um livro sobre um ex-BBB, foi sobre acompanhar a história de alguém que merece realmente tudo de bom que está recebendo agora. E, por tudo o que ele passou, ainda pode parecer muito pouco. É triste pensar que essa é a história de muitos brasileiros, e pensar que, como ele mesmo diz no livro e nos seus discursos, ele é uma exceção de superação e, infelizmente, não a regra. É gratificante ver a forma que a educação mudou a vida dele, mas ele precisou ir para o BBB para gritar isso e voar de verdade. Agora eu vou falar um pouco mais sobre esse livro, porque não é fácil ter que vigorar e, ainda bem, que Gil do Vigor vigorou.

 

... como este livro é sobre minha vida, minhas experiências e, sobretudo, a respeito do que me tornei, não tem como falar do Gil do Vigor sem tratar daquele menino assustado que precisou criar um mundo muito próprio para poder sobreviver. E foi isso o que eu fiz na minha infância: sobrevivi.



Dividido em curtos capítulos, Gilberto no início vai contando sobre sua infância difícil, ainda criança, lidando com a pobreza, o pai que batia na mãe e era usuário de drogas, e as vezes que morou na rua e teve que mendigar para poder ter o que comer.   

 

Me lembro de ter que pedir dinheiro, comida, qualquer coisa para que pudéssemos matar a fome. Eu era pequeno, estava com Janielly, mas me lembro perfeitamente da vergonha que sentia. Recordo exatamente de compreender aquilo como uma situação constrangedora. Eu não queria pedir nada.

 

Um dos pontos mais fortes do livro é o depoimento de “mãinha”, como ele carinhosamente chama sua mãe Jacira. Já nas primeiras páginas conseguimos ver que a história dele seria outra, uma que com certeza nunca iríamos conhecer, se não fosse pela força e dedicação dessa mulher pelos seus filhos. Gil poderia ser mais uma estatística cruel que assombra os jovens negros desse país, quantos Gil's não conseguiram chegar lá? Quantas Donas Jacira’s ficaram pelo caminho e são apenas um dos números altos ligados ao feminicídio no Brasil?  

  

... quando alguém julga uma mulher que se prostitui, eu a defendo com unhas e dentes. Ninguém sabe o que ela passa para ter escolhido fazer isso da vida. E eu tive que me deitar com homem para trazer comida para casa. Me vendi para criar meus filhos. E isso não me torna menor do que ninguém.

 

Gil fala sobre seus sonhos, como o BBB sempre foi uma válvula de escape para sua realidade ligada a violência doméstica causada pelo seu pai. Ele criou um mundo paralelo, um mundo perfeito para onde ele poderia fugir, e o Big Brother fazia parte disso.  

 

... Pegava uns bonequinhos de brinquedo e fingia um Big Brother. (...) Lá, a comida era farta. As pessoas sorriam. E, mesmo se brigassem, violência física não era permitida.

 

Para além do BBB e muito antes que esse sonho se tornasse realidade, Gilberto Nogueira fala em como a educação salvou sua vida, os estudos mudaram tudo para ele, que diz que odiava quando não tinha aula, pois teria que ficar em casa com brigas e a fome, e para não voltar para essa realidade ele estudava demais, ficando na escola depois da aula e cita uma professora que o apoiou muito, acreditando nele e passando-lhe vários exercícios mais avançados de matemática, se apaixonando pelos números. 

 

Quando eu era criança, não aceitava que pudesse ser gay. Tinha um amigo, Alex, que falava: “Você é bicha!”. E eu ficava mortificado com aquilo, achava errado.

 

Um dos momentos importantes da jornada de Gilberto, que ele nos conta, foi o começo de seu “entendimento” do seu jeito diferente, sua negação enquanto a sexualidade, a tristeza pelas palavras duras de seu pai por conta disso. Não foi fácil ele admitir para si mesmo sua sexualidade e, mesmo depois de admitir, a aceitação de si mesmo demorou muito a vir, por vezes, eu aqui parafraseando uma fala dele, usou da mesma violência psicológica contra pessoas iguais a ele como forma de si proteger. Ele reconta uma história que contou dentro do BBB: “até tu, Gilberto?”, e ele repetindo aqui e pedindo perdão àquele que machucou; dá para sentir a dor que ele sente pela sua fala até hoje. 

  

Seu mundo paralelo se tornou realidade. Intercalando entre o passado e presente, Gil conta um pouco da realidade dentro do maior reality show do Brasil, um lugar que ele sonhou para fugir de seus monstros e fantasmas, mas que, ele mesmo conta durante o livro, foi lá que sentiu que ele teve que encará-los de frente. Gilberto diz que sentiu que foi lá dentro que finalmente sentiu que perdoou seu pai (com quem ele já se reencontrou depois do programa depois de 15 anos e postou uma foto do encontro no seu Instagram), e foi lá também que ele se aceitou com todos os seus eu's" finalmente, que sua festa do líder foi seu rito de passagem e de aceitação.

 

No fim das contas, o BBB é um jogo sobre como os indivíduos reagem a essas informações. Algo muito parecido com os estudos da Teoria dos Jogos.

 

O futuro PHD Gilberto Nogueira é muito mais que bordões e humor — o que é maravilhoso também, inclusive ri em muitas passagens desse livro, ele é naturalmente engraçado e tem um carisma ímpar — durante a leitura também ele nos presenteia de forma didática falando sobre economia, fake news e sua pesquisa acadêmica e de como ele sempre vai bater a tecla da educação, pois ela sim muda vidas.  

  

Afeminados não vão herdar o reino de Deus? Eu me pergunto por quê. Se Deus é perfeito e me fez afeminado, já nasço condenado ao inferno?

 

Dando uma aula sobre fé e aceitação, um dos temas principais desse livro, e sobre sua relação com a igreja, crenças e fé. Seu acolhimento e seus momentos de tenção dentro dessa realidade religiosa, Gilberto sempre frisa a sua fé dizendo que, mesmo sendo gay, Deus nunca deixou de falar com ele, que ele pode ser quem ele é e Deus está feliz com isso.

 

... deixo aqui, registrado para o mundo: sou uma bicha preta e nordestina.

 

Não tem como falar aqui de todos os assuntos que ele toca nesse livro, de sua descoberta como homem negro homossexual, até os seus momentos marcantes dentro da casa mais vigiada do Brasil e suas amizades, conquistas, sua surpresa ao sair da casa e se descobrir tão amado e cheio de fãs (cujo essa humilde resenhista se inclui, ainda mais depois desse livro incrível). Mas posso resumir para você, meu caro leitor, que depois de ler esse livro você vai olhar para esse homem de forma completamente diferente, o que ele vem conquistando e sem perder o foco dos seus sonhos e do que é importante, é uma inspiração para muitos.  

  

Agradeço pela oportunidade de ter tido essa leitura, aos leitores aqui eu indico muito a se abrir para essa leitura sem a máscara do preconceito. Gil nos fala de liberdade, seja livre também para escolher suas leituras sem julgamentos. E, como diz o Gilberto do Vigor, que a cachorrada do jovem seja estudar (risos). Leiam!

 

Não vou baixar minha cabeça e sigo meu caminho. E, como eu não vim do lixo pra perder pra basculho, não vou desistir.



Informações Técnicas do livro

Tem que vigorar! 

Como me aceitei, venci na vida e realizei meus sonhos 

Gil do Vigor 

Ano: 2021 

Páginas: 128 

Editora: Globo Livros 

Sinopse: 

BRASIIIIIIIIL! 

Gil do Vigor conta a sua história em livro: saiba tudo sobre o economista pernambucano que conquistou o país ao participar do BBB 

  

Gilberto Nogueira realizou seu maior sonho ao entrar para o Big Brother Brasil 21 e, quando saiu do programa, sua vida estava transformada. A começar pelo nome: pelo carisma, alegria e intensidade, virou Gil do Vigor, um dos participantes mais carismáticos que já passou pelo reality show. Com seus bordões, Gil conquistou milhões de brasileiros, se tornou uma das figuras mais queridas do país e o homem com mais seguidores nas redes sociais de toda a história do programa. 

Em Tem que vigorar!, Gil conta seus momentos preferidos no BBB, da infância pobre em Pernambuco e revela as dificuldades que passou na vida, como quando teve que morar na rua. Fala também dos momentos de violência do pai contra a mãe, sua relação com a fé e a igreja, de como a educação o salvou e a descoberta da sexualidade e seu processo de autoconhecimento e aceitação. 

Com depoimentos de Jacira, mãe de Gil, Xuxa Meneghel e Deborah Secco, o livro traz ainda um dicionário com os memes e bordões do economista, para os leitores vigorosos aprenderem ainda mais da cachorrada e do regozijo.


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