Olá, pessoa! Continuando a falar sobre minhas leituras de Drummond, trago a você hoje um dos livros que me fez ter uma experiência completamente diferente de muitas outras. E é sobre ela e, claro, sobre a leitura que comento agora.
Ler este livro é como reencontrar um velho amigo, não porque antes eu tenha lido um livro de Drummond, mas porque Drummond foi apresentado primeiro na voz de Paulo Autran. Autran que tão belamente declarava essas e outras poesias e me fazia sonhar que quem declama não as descreve, mas toma para si e faz delas — as poesias — suas. E assim, penso eu, também seja com que as lê.
"O jornal conta histórias, mentiras...
Ora Afinal a vida é um bruto romance
e nós vivemos folhetins sem o saber."
SWEET HOME
Confesso que fui ao YouTube me reencontrar com Autran, com Drummond, e aconselho a você que faça o mesmo, que se encontre ou se reencontre. E caso seja a primeira vez, te garanto que será inesquecível, mas será a primeira de muitas, com certeza. "Carlos Drummond escreveu uma das coisas que mais me envaidece na minha carreira. Ele escreveu: Para o Paulo Autran, que transformou em arte todos esses meus modestos trabalhos. Pode até ter sido ironia dele, mas não era. Ele era muito sincero, uma pessoa extraordinária."*
Essa antologia guarda memórias da escola nos livros de português, da coluna do rádio, dos pequenos e dos grandes poemas, daqueles mais conhecidos e que se recita sem saber que são de Drummond e ainda assim são inesquecíveis. Afinal, NO MEIO DO CAMINHO, QUADRINHA e POEMA DE SETE FACES, de qual vida não faz parte? Eu digo de todas, desde que tenha estudado e vivido no Brasil.
E lendo Drummond se visita Minas Gerais, se viaja com outros olhos, se vê as cidades através da poesia até se chegar ao Rio de Janeiro e sonha, junto a ele, em conhecer a Bahia. E nesta antologia não pude deixar de notar que os azuis e as pernas tanto se fizeram presentes, que deve ter impressionado a quem de ótimo gosto escolheu a cor da capa. Foi assim, de conto em conto, que me apaixonei por Drummond, o mesmo que foi apresentado por Autran e tão amigo de outro Andrade, o Mário. Que ao fim da leitura, garanto que passou a ser também um pouco meu.
"Virei soldado romano,
perseguidor de Cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois."
BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES
Espero ter conseguido passar um pouco das emoções e das surpresas que fui tendo ao ler contos tão conhecidos e que pareceram se juntar para me encantar, ao mesmo tempo em que eu perguntava como podia estar lendo um livro que nunca havia lido e parecia que, no entanto, já havia. O misto de surpresa e prazer que foram permeando a leitura me faziam, a todo momento, ler só mais um e, quando percebia, já havia lido dois, três poemas.
O posfácio por Ronaldo Fraga encanta, primeiro por falar da amizade entre Drummond e Mário, que também era de Andrade. Como o ânimo de um inspirou o outro a começar e não apenas a se publicar, mas também a toda brilhante carreira. Fala da semana de arte moderna e não apenas nela, mas ao convite que Mário de Andrade fazia aos seus para que eles enfim descobrissem o Brasil e não simplesmente reinventassem a Europa a moda dos trópicos. E como o modernismo encontrou em Drummond seu lugar de existir em plenitude.
"Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao Senhor que não sou poeta?"
EXPLICAÇÃO
Nesta edição, como na anterior, tem a Cronologia na época do Lançamento (1927-1933), que nos apresenta não apenas Drummond (CDA), mas também o Brasil, a Literatura Nacional e o mundo à época, uma preciosidade que adorna a joia que é esta edição, um verdadeiro presente aos leitores. E também encontra-se: Bibliografia do autor, Bibliografia Seleta e Índice dos primeiros versos.
*Fonte: https://www.podomatic.com/podcasts/quadrante
Alguma poesia
Carlos Drummond de Andrade
Ano: 2022
Páginas: 128
Editora: Record
Sinopse:
Livro de estreia de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia retorna em novo projeto, com posfácio de Ronaldo Fraga.
“No meio do caminho”, “Poema de sete faces” e “Quadrilha” estão entre os poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade, e todos fazem parte de Alguma poesia, seu livro de estreia, publicado em 1930, quando o poeta tinha 28 anos. Aqui, mais inequivocamente do que em qualquer outra de suas obras, transparece a influência da Semana de Arte Moderna de 1922 e, sobretudo, de Mário de Andrade, com quem Drummond manteve uma farta correspondência literária.
O ideário e a estética modernistas estão presentes na maneira como o poeta se coloca no mundo – recusando antigas idealizações e inserindo-se no cotidiano, “como qualquer homem da Terra”. Estão também no delicioso senso de humor que caracteriza muitos dos poemas aqui reunidos – “Cidadezinha qualquer”, “Papai Noel às avessas”, “Cota zero” e “Balada do amor através das idades” são bons exemplos. E, por fim, estão no enfrentamento do nacionalismo como tema, caso de “Europa, França, Bahia” e “Fuga”, entre outros.
A rebeldia alegre da modernidade surge acompanhada de uma lucidez inquieta, que traz questionamentos éticos, políticos e existenciais, pondo em dúvida o avanço técnico e o progresso – “Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples”, escreve o poeta. Em meio a poemas marcados pela juventude e o frescor, já se revelava, com traços firmes, a típica inteligência drummondiana.
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Alguma poesia, o posfácio é do estilista Ronaldo Fraga. O leitor encontrará também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada “Na época do lançamento”, uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.
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