Mesmo tendo vários romances polícias dela como Nora Roberts, J.D. é quase uma nova escritora. Claro que consigo reconhecer os traços da personalidade da Nora. Portanto, eu irei resenhar os livros da J.D. Robb como J.D. Robb.
Na Série Mortal não tem enfeites, cenas brutais romantizadas, o lado feio da humanidade e como cada pessoa é fruto não de um destino ou fatalidades e eventos da vida e sim de suas escolhas, mediante as situações vividas, é mostrada em sua totalidade nua, crua e como todo policial a enxerga quando chega na cena do crime, quando lê as páginas do processo sob a mesa durante a investigação.
A história da série é no futuro. Tudo não é exatamente novo e nem o passado é cultuado. O presente é como é. Eve Dallas é uma tenente que fez suas escolhas e encontrou na polícia sua maneira de viver.
Toda a trama é instigante e muito bem elaborada, não deixa aqueles furos imensos e te envolve durante a leitura. Os detalhes do dia a dia de Eve te dão apenas os momentos necessários para digerir os detalhes mais sórdidos dos crimes, e mesmo assim esses momentos não são exatamente de paz. As reviravoltas deixam a história em ponto de suspense a todo momento e a dúvida sobre quem é o criminoso muda com cada novo acontecimento. Os assassinatos são descritos sob a perspectiva do assassino, porque todo policial tende a tentar pensar assim enquanto estuda a cena. Uma forma também de distanciamento dos fatos, digo isso porque não existem sutilezas para essas cenas. Ainda mais por serem crimes ligados ao sexo.
"— Quanto mais as coisas mudam... — Sim, mais continuam como sempre foram. Os casais ainda se entregam a rituais para se cortejarem, os seres humanos seguem se matando, e os políticos continuam a beijar bebês e a mentir"
A Eve Dallas é uma personagem complexa. Me lembrou muito a personagem da Série Noturna, mas como J.D., a escritora permite expor a alma da personagem de maneira mais invasiva. Ela é uma mulher forte, com traumas do passado que a acompanham cada minuto após sair do trabalho. Porém, lá nada a abala. Ela não é politicamente correta, porque como policial isso é impossível, porém tem uma ética inabalável, faz tudo com uma paixão e competência que a tornam a melhor em sua área.
"Eve era jovem para a posição que ocupava. Tinha perto de trinta anos, e olhos castanhos amendoados que jamais haviam tido oportunidade de ser ingênuos. Era alta e esbelta, com tendência a parecer magra, mas Feeney sabia que havia músculos sólidos por baixo do casaco de couro. Mais que isso, havia um cérebro, e um coração."
Ao chegar em casa todo esse esforço de deixar os seus demônios do lado de fora da porta ao entrar no Departamento de Polícia, a deixa frágil como uma criança. À noite, eles vêm a visitar e cobrar o preço por tentar deixá-los no armário. A autora deixa claro que acredita que cada um tem sua cota de traumas, mas o que é como pessoa é o que faz consigo mesma. A Eve não faz o tipo "aí, tadinha de mim", mesmo tendo mais motivos para isso que muitas pessoas (ponto positivo ela não ser mimizenta). Simplesmente ela tenta lidar com o que foi feito a ela, fazendo o melhor para ela mesma cada dia.
"Eve ficou com o gato como companhia. Lamentava o fato de ter que devolver o felino gordo e inútil para a família de Georgie. Já teria feito isso, mas encontrou conforto e companheirismo até mesmo naquela patética bola de pelos."
Roarke (suspiros), ele é mais do que o bandido que deu certo. Ele encontrou sua redenção em algum momento e descobriu que fazer os negócios de maneira correta pode render ainda mais emoção do que quando feitos a margem da lei. Em momento nenhum ele esconde ou nega aquilo que fez, sob a desculpa que fez o melhor que pode com o que tinha em mãos no momento. O que o deixa um personagem dúbio todo tempo.
Algumas vezes eu pensei nele como o homem de ferro, sem a armadura. Porque ele usa e abusa da inteligência e poder que advém do dinheiro, o que ele tem e muito, e de todo o charme que lhe é inato, para conquistar a Eve, que não consegue ser indiferente por mais que ela tente. Mas, sinceramente, a parte dele como suspeito, mesmo supondo que foi uma forma dele “entrar” na história, me incomodou por eu não ter conseguido vê-lo como suspeito de um jeito plausível. E algumas cenas exageradas para mostrar como ele é riquíssimo. Sendo que o sucesso entre o universo feminino vem da pegada que ele tem, de como sabe dar apoio necessário a Eve e não ser condescendente.
"— Que eu saiba, o nome é só Roarke. Ali tem um bocado de dinheiro. É o tipo do sujeito que toca em estrume e o transforma em barras de ouro. Você precisa começar a ler mais do que a página esportes, Dallas."
Não tem como não separar um tempo nessa resenha para falar separadamente dos personagens secundários. Eles dão muita credibilidade a história, a parte da “Tenente Docinho”, sério foi uma brisa bem-vinda na história que, ao ir desenvolvendo e revelando os motivos dos crimes, me deixaram com um nó no estômago. Confesso que tive dificuldade em lidar, em especial com as relações familiares. Foi como ligar o jornal da noite e ver o corpo no chão. A escrita consegue tornar real e bem ali na sua frente, mostrando o brilhantismo da J.D.. Ela teria feito o mesmo sucesso sem “Nora Roberts escreve como” no título do livro.
Porquê?? Além da narrativa e da trama, ela deixa claro que, mesmo onde a alta tecnologia é usada no cotidiano, com seus benefícios e comodidades, nada supera o contato humano, um diálogo olhando no olho, o feeling do ser humano para olhar por detrás dos dados, que um lágrima não importa quando ainda será uma expressão cristalina do que está dentro de quem a derrama, seja alegria ou tristeza.
"— Os clichês são baseados em fatos. — Se não fosse assim, comandante, não seriam clichês — terminou ela."
Ah, sobre o assassino, sim eu consegui acertar quem seria, porém, acabei não descobrindo, como assim?? Leia! E entenda tudo o que ficou entre as entrelinhas desse texto. Que se absteve de spoilers.
Informações Técnicas do livro
Nudez Mortal
Série Mortal # 01
J. D. Robb
Ano: 2004
Páginas: 350
Editora: Bertrand Brasil
Sinopse:
Eve Dallas é tenente da polícia de Nova York e está caçando um assassino cruel. Em mais de dez anos na força policial ela já viu de tudo e sabe que a própria sobrevivência depende de seus instintos.
Eve avança contra todos os avisos que lhe dão para não se envolver com Roarke, bilionário irlandês, o principal suspeito de um dos casos de assassinato que ela está investigando.
A paixão e a sedução, porém, possuem regras próprias, e depende de Eve assumir um risco nos braços de um homem sobre o qual ela nada sabe, a não ser a necessidade de sentir o toque dele, que se transformou em um vício para ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário!! Bem-vindo(a) ao Clube do Farol!