Olá pessoas, você já se apaixonou por uma história pela expectativa dos assuntos que vai abordar? Sem falar numa capa com cores lindas e a promessa de uma história que tem muito mais que uma capa bonita. Foi assim minha relação com esse livro, e compartilho as impressões pós-leitura com você.
O livro é narrado em terceira pessoa, assim temos acesso aos pensamentos e emoções de Marina e Cristiano e podemos entender a dinâmica de vários acontecimentos que envolvem os dois. Caso você ame narrativa em primeira pessoa, posso garantir que não iria querer que essa história fosse nesse estilo. Sério, ficou perfeito como está.
Gostei que do clichê a autora trouxe várias novidades e não focou na vida escolar, ela como na vida real é parte da história e não toda ela. A inclusão de uma instituição religiosa que atende crianças surdas, foi uma ótima iniciativa não apenas pelo temo inclusão, mas como também é possível uma história, ter religião sem religiosidade. Nenhuma crença ou falta dela foi ofendida no processo.
Algo muito legal e que trouxe um frescor a trama é a cidade de Brasília fora do círculo político, da vida das pessoas ali. E dentre essas pessoas uma jovem mulher, que sonha em não apenas existir, mas viver e deixar sua marca positiva na vida das pessoas. Idealista? Precisamos muito de pessoas assim, capazes de viver por seus ideais, mesmo que tenham que lidar com “Cristianos” e descobrir que todas as coisas possuem outro lado na moeda para equilibrar as forças. E já dizem que o verso da moeda amor é o ódio. Mas, sinceramente, impossível ficar imune a atração que envolve esses dois quando estão perto um do outro.
“Sentimentos acumulados, ele sabe, são como uma represa cheia demais, prestes a se romper ao menor sinal de agitação.”
Outro ponto positivo foi a autora mostrar que diferente do que podemos pensar quando estamos imersos em nossos próprios problemas e conflitos é que ninguém é uma ilha, nem mesmo Cristiano como gosta de pensar, todas as nossas ações e decisões tocam a vida das pessoas que nos cercam de forma mais ou menos intensa, mas não deixam de deixar sua marca. E assim, vamos conhecendo o melhor amigo de Marina, seu primo Leo e sua melhor amiga Ayumi que além de conquistar quem ler, levanta questões importantes e deixam claro que “a grama do vizinho parece mais verde” porque não estamos olhando o todo, apenas aquilo que querem que vejamos.
“Não sabe bem como explicar, mas olhar para ela é como caminhar à beira de um precipício sabendo que pode cair e, ainda assim, gostar da sensação do risco.”
A questão da necessidade de diálogo claro e do que realmente significa o perdão e como ele é até mais importante para si que para o próximo é lindamente trabalhada na trama. Sem falar em questões como o amor que primeiro tem que ser para si e depois para com outra pessoa, porque não existe amor onde alguém se anula pelo outro, mexeram muito comigo pela linda forma abordada na trama.
Joana é uma personagem que mesmo com suas atitudes não conseguiu me deixar com ódio dela, deu para entender o grito de socorro vindo de suas atitudes mais egoístas e o fato dela não aceitar a nova realidade familiar, traz algo muito atual sobre a dinâmica familiar em nossos dias e foge do padrão comercial de margarina e que os pais, mães e responsáveis são pessoas e também tem seus medos e falhas.
“Eu quis acreditar que esta casca em que você se esconde pudesse ser rompida…mas não, ela não pode, porque você simplesmente não quer. Eu acredito, sim, que precisamos dos outros pra sermos felizes. Acha que isso faz de mim uma pessoa tola?”
Os temas como bullying e consumo de álcool na adolescência até o amadurecimento para a vida adulta e valorização da autoimagem, tem uma introdução muito interessante e que não deixam o livro como manual de comportamento ou tom professoral, pelo contrário, são ótimos pontos para o diálogo sobre o tema e até uma conversa sem tabus entre pessoas de gerações diferentes.
Fica também meu elogio ao estilo de linguagem e diálogos entre os personagens, deram muita veracidade a cada um deles, além de acompanhar a personalidade de quem estava falando, então pouco depois da metade do livro só pela fala eu já sabia quem estava dizendo, sem precisar ler o nome, adorei.
"Garota, eu tenho orgulho de fazer alguma coisa pra tentar mudar o que não aceito..."
Apenas dois pontos não me fizeram favoritar a leitura ou dizer que está perfeita. Uma foi o fato de uma carga de drama muito grande e muito próxima ter acontecido no último terço da história, achei que não adicionou uma carga dramática e sim um peso muito forte e deixou a sensação de que a uma trama que ficou muito tempo focada no casal cão e gata, com tantas revelações para acontecer. A segunda, uma falta de fechamento definitivo, porque vários personagens secundários ficaram com questões em aberto, o que me deixou com aquela sensação de que teremos mais histórias, por vir. Ou seja, o problema é porque acaba, risos.
O livro em si tem uma encadernação ótima, a impressão, papel amarelo e a diagramação tornam a leitura ainda mais confortável, a revisão foi muito bem-feita e achei a edição em um todo lindíssima. Recomendo demais a leitura para quem quer uma história leve, mas com muito conteúdo e uma trama que te deixa muito feliz por essa leitura. Boa leitura para você também, divirta-se!
Informações Técnicas do livro
Sinopse: Ao serem acusados de vandalismo no colégio em que estudam, eles terão de trabalhar juntos numa missão não tão impossível assim...
Marina é uma garota de 17 anos, e sua vida se resume a ser uma boa filha, uma excelente aluna e – sua maior alegria – ser voluntária num convento que atende crianças surdas.
Já Cristiano é um jovem órfão, e sua personalidade é rebelde, egoísta e, muitas vezes, cruel. Para ele, ser ingênuo – como Marina – é dar aos outros o poder de fazê-lo sofrer.
A convivência entre duas pessoas tão diferentes não é algo fácil, mas entre brigas e reconciliações, esses dois vão compartilhar momentos de provocações e risadas, até que um segredo que envolve a vida de Marina é revelado. No meio disso tudo, Cristiano é quem vai ajudá-la a lidar com as consequências da verdade – não sem enfrentar seus próprios conflitos no processo.
E se os atritos se tornarem um combustível para o amor?
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