Resenha :: Filho da Noite
Elis Finco
julho 31, 2020
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*recebido em parceria com a Editora Valentina |
Olá, pessoa!! Eu me encantei com a sinopse e as
apresentações do livro durante a pré-venda da editora e fiquei curiosa sobre
ele. Então, após a leitura, posso contar como foi minha experiência e, quem
sabe, abrir o caminho para que você tenha a sua.
Logo no início me senti como alguém sendo convidada
ao palco. Com uma narração quase onírica, vamos lendo e cada detalhe é
praticamente impresso na imaginação, criando o cenário. O convite é
irresistível, porque não existe melhor palco que o da própria vida, para
se contar uma história. E alerto que, desde o começo, fica marcante a cultura
da cena, dos ambientes e das marcações que fazem deste autor, tão brilhante e
premiado ator.
A vida é uma fantasia muito pesada.
A trama é dividida em dois atos. O primeiro fala
sobre Agenor, um senhor já velho e viúvo, com antigos hábitos e uma
rigorosa rotina. Durante o dia, tem a companhia de Cinira, empregada e
amante, que se submete ao patrão em troca de sonhos, em especial o de se casar
com seu noivo. Porém, na velha casa existe um segredo e, como é sabido, a
existência de um implica em alguém, neste caso Agenor, tentando escondê-lo
e noutro alguém buscando revelá-lo. Assim, vamos entendendo um pouco do que
motiva a existência do segredo, porque Agenor se mantém preso ao passado que
virá em busca do ajuste de contas.
Por vezes, a história traz do cotidiano, do corpo e
da vida, algo vulgar, cru e ainda sim natural. Em algumas passagens o
desconforto é inevitável, mas, ainda sim, proposital. Ao meu ver, deixando a
trama visceral, humana, real. Impossível não lidar com o racismo que nossa
sociedade diz não existir, entregando assim tudo que a sinopse prometeu, sem em
momento nenhum dizer que iria agradar. E talvez o brilhantismo da obra esteja
nessa não entrega do agradável e sim o olhar de quem saiu da caixa, do
conforto.
Agenor — como é próprio e óbvio para esse tipo de personagem — não tem amigos, seus clientes são praticamente vozes.
A narrativa, com certeza, é fora da zona de
conforto de muitos leitores, e devo dizer que de modo algum desanima, pelo
contrário, instiga a leitura. Que tem o narrador em terceira pessoa, “O dramaturgo”, que rege as cenas e os
destinos dos personagens, com uma ironia fina, refinada, alternando
a linguagem, ora formal e na norma culta e noutro momento o popular,
corriqueiro e cotidiano das periferias, fazendo assim um jogo de contrastes, de
quase antagonismo de universos que se encontram e se repelem por serem
distintos, coexistindo na mesma história. Esse destaque fica evidente nos
diálogos e também na ausência deles, quando existe aceitação de que algumas coisas
simplesmente são como são.
Qual o contexto? Não sei. Querem mais personagens, mais tramas em suas vidas... ridículo, eu acho, desnecessário. Querem a objetividade, querem multidão, sentimento, histórias de amor, aventura... querem entender o que é real, o que é sonho, o que é vida.
O primeiro ato termina com um final que poderia
encerrar o livro, se não tão habilmente abrisse caminho para o segundo,
deixando a sensação quase de alívio por não ser exatamente um fim. E, preciso
dizer, que é surpreende a gama de emoções e pensamentos que me acompanharam
nessa breve pausa. Quantas referências culturais e também históricas eu pude
observar, a dura realidade de quem precisa lutar para sobreviver e, ainda sim,
não faz mais que existir e não viver.
Nesse momento, entendo como somos imprescindíveis, como cada gesto nosso é fundamental para saúde do universo, como podemos destruir ou criar com uma palavra dita, mesmo que em segredo ou apenas pensada.
Nessa segunda parte temos o fruto da primeira.
Antônio com a mente abençoada pela linhagem do pai e avós e a libido recebida
como herança materna. Investigador da polícia civil, mostra-se dúbio todo o
tempo, vivendo a vida na zona cinza entre o bem e o mal. Afinal, mais uma vez o
passado vem receber a dívida, que sempre vence no tempo presente. Ambas as
partes se contrastam em seus momentos, mostrando diferentes sentimentos e
atitudes durante as mesmas situações que fazem parte da vida, da morte.
A natureza acontece com sua matemática surpreendente, sem preocupação em dar satisfação a ninguém.
A leitura é densa e cheia de nuanças, não é uma
história para ser lida de uma vez, requer tempo e reflexão, uma pausa para
absorver o que fica subtendido. Assim me vi fascinada por tantas emoções.
Espero que você viva a experiência dessa leitura, que termina com o quase
apagar das luzes, fechar das cortinas e a espera para que os atores voltem ao
palco e recebam do público o merecido aplauso.
O livro em si é um espetáculo à parte. A
encadernação perfeita, papel amarelo e impressão para uma leitura muito
confortável. Diagramação excelente e cheia de detalhes, informações não tão óbvias.
A revisão está impecável sem erros de digitação ou ortografia. Enfim, a marca Valentina de qualidade no projeto
gráfico.
Nota :: 









Informações Técnicas do livro
Filho da Noite
Ano:
2020
Páginas:
136
Editora: Valentina
Sinopse:
Caro Leitor,
você deve estar, neste momento, se perguntando sobre Filho da Noite, certo? Então... vamos
lá:
Desconfio que eu
seja sombrio, vulgar (como sempre),
lírico, erótico, engraçado, romântico(?). Desconfio que eu namore com o terror,
com o suspense, com a loucura, com o estranho. Desconfio que eu tenha um final
feliz. Sou um romance em duas partes que talvez se comuniquem.
Filho da Noite traz uma perturbadora narrativa, cheia de
detalhes, um verdadeiro delírio, ou não? O filho, o pai. O segredo, o casarão,
as mãos sujas de culpa e nenhum arrependimento. Sua narrativa tem elementos de
terror psicológico. Disponha-se a devorar dois livros que facilmente poderiam
desmembrar-se em muitos.
“Como aperitivo,
adianto que a segunda parte do livro começa em clima de soft-pornô ou de
romance noir. Nela, o novo protagonista parece ser dono de sua história, até
cair num labirinto metafísico, espécie de looping do eterno retorno. E não me
atrevo a revelar o final para não estragar a surpresa e a alegria do leitor.
Toda vez que sê
lê um novo livro, temos a tentação de imaginar a sua genealogia. Para ajudar a
decifrá-lo, por um lado, mas também para despi-lo de sua dissonância, de sua
diferença. Dentro dessa procura pela semelhança, digamos que Calloni parecia
cultivar a desordem de Clarice e a liberdade linguística de Guimarães Rosa.” –
Geraldo Carneiro.
Para comprar:
► Livro Físico
► E-book
Para a Editora Valentina, leitura é, acima de tudo, entretenimento.
Olho vivo e faro fino.
Esse é, na verdade, o lema de todo grande editor. E a pinscher dessa editora encarna esse lema como ninguém.
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