Resenha :: Compaixão
Elis Finco
julho 02, 2019
7 Comentários
Olá, leitor e leitora do Clube. Hoje venho falar de um livro que
nos remete a uma frase muito usada no meio literário; que é a leitura que nos
faz “sair da zona de conforto” dos livros
que habitualmente lemos, porém asseguro que esse convite se faz ainda maior
nessa obra.
Compaixão, apesar
do que alguns podem erroneamente pensar, não é um livro de autoajuda, e sim um
texto que nos faz pensar, refletir e literalmente “sair da zona de conforto”, tanto literária, quando de nossa rotina
de vida, tanto emocional quanto diária. Um texto instigante e, de certa forma,
duro para com nossos paradigmas, e que de forma hábil me levou a repensar,
perguntar, criticar até que novos conceitos fossem formados, e um novo modo de
ver e viver em sociedade enquanto indivíduo ou integrante de um grupo fosse
criado, substituindo o anterior.
Vamos nos acostumando aos clichês da ilusão do mundo perfeito, e nos tornando prisioneiros da imperfeição, aprisionados pela falsa sensação da zona de conforto.
Eu fiquei impressionada com a
fluidez do texto, que fez com que eu me sentisse em um auditório intimista,
durante uma palestra interativa e, mesmo com a seriedade dos temas propostos e
abordados, leve e divertida. Ora, quem nunca se viu em uma situação como a do
autor, ao ser visto dirigindo um carro velho, não tem como não deixar de sorrir
diante o absurdo dela.
Só um coração livre é capaz de sentir alegria e deflagrar um processo natural de coisas boas, daquelas que silenciam a alma e fazem da consciência um deleite existencial.
De forma simples, conceitos
antropológicos são levantados a partir do ponto de partida da compaixão, com
ilustrações de vivências que mostram de maneira clara e pedagógica os conceitos
anteriormente colocados pelo autor. Outra coisa que muito me impressionou, e de
forma positiva devo salientar, foi o fato de que questões como atitudes que em um
primeiro momento são “cheias de
compaixão” e, quando colocadas à luz da realidade, se mostram tão “fakes” quanto as correntes que circulam
em aplicativos de conversas. E outras tão simples, como servir, são na
realidade o cerne da compaixão.
“Servir é a compaixão em ato, em plena ação. É o que nos dá a sensação de plenitude humana.” “E Servir não tem status, cargo, poder ou qualquer outra condição de mérito”.
Alguns pontos me tocaram de
maneira profunda, como o fato da compaixão não carecer de uma situação de
vulnerabilidade para que a mesma seja praticada. Apesar de que eu penso que,
mesmo não estando vulnerável socialmente, o conceito colocado possa ser aplicado
quando a falta da compaixão acarreta a falta de empatia e doenças sociais, como
preconceito para com o diferente, a minoria, “o outro”. De que, a compaixão
enquanto assistencialismo não basta, mesmo sendo necessária. Que o principal é “não dar apenas o peixe, e sim ensinar a
pescar”.
E sobre esse prisma, somos
convidados a observar o tempo presente enquanto esse está acontecendo e se
tornando passado, e moldando o que virá ser nosso futuro. Porém esse exercício
mostra com uma clareza dura o que é o tempo das redes sociais, das conversas
cada vez mais via tecnologia e o afastamento das pessoas na vida real. Que para
mim, nesse ponto temos o maior incômodo desse exercício. Que nos obriga a olhar
mais de perto o que tendemos a não nos dar conta, ou “esquecemos” enquanto sociedade, porque simplesmente não queremos
ver. Por serem visões distintas quanto ao tempo e ao social.
Compadecer-se não significa ser piedoso, mas reconhecer que o ajudado é alguém que merece justiça. (...) acabamos tratando os de fora com certa invisibilidade, até para atenuar o nosso despreparo em aceitar o que nos é diferente.
A abordagem do discurso vazio
de verdade, onde a retórica não condiz com as atitudes, e até total falta
delas, é direto e cercado de fatos que sustentam a abordagem de forma precisa e
concisa. Que mostra que ao fazermos escolhas, além de uma renúncia, gera no ato
uma responsabilidade. E com isso um convite desafiador a tornar a compaixão um
ato de cidadania, de respeito à existência do outro enquanto pessoa dotada de
direitos e deveres iguais ao do que pratica a compaixão, assim nos levando a
outros conceitos que devemos não somente entender, mas colocar em prática no
nosso modo de agir e viver. E assim, somos levados de volta ao primeiro
capítulo, onde somos confrontados com o fato de que a morte é que coloca a vida
em perspectiva, a inevitabilidade do fim que refresca nossa memória para
ausência da imortalidade. Seja essa morte física ou social enquanto moral e
costumes.
Esse livro não é em momento
nenhum um "guia em alguns
passos" para ser alguém que viva a compaixão em plenitude. Mas sim, um
convite aberto a olhar, indagar e sim discordar da abordagem do autor de como o
conceito está distorcido e a vivência fora do contexto. Um desconforto
altamente recomendável a todos que sabem que "pensar é existir". E que viver é mais que existir, é
agir!
Fica a super dica, inclusive
como presente para o dia dos pais. Uma edição impecável, uma capa
lindíssima, diagramação fantástica em papel pólen, um texto maravilhoso e
sem erros de digitação ou ortografia.
Nota :: 4,5
Informações Técnicas do livro
Compaixão
Fernando
Moraes
Ano: 2019
Páginas: 120
Editora: Novo
Conceito
Sinopse:
Nesta
obra, Fernando Moraes nos faz pensar a compaixão dentro de um conceito
totalizante, que navega pelo nosso cotidiano e não somente dentro dos contextos
que a exigem. Com uma abordagem simples dentro de uma perspectiva social, ele
trata com cuidado a compaixão, transitando pela cidadania, pela convivência
social e pela vivência das pessoas, e, fundamentalmente, mostrando como ela nos
absorve, sem muitas vezes termos consciência disso. Muito se fala nas rodas das
ciências humanas sobre resiliência, alteridade, empatia, altruísmo, sentimento
de compaixão, pertença, solidariedade e tantos outros conceitos, e em como
buscamos reconhecer o outro, aquele diferente de nós, aquele que muitas vezes é
o nosso inferno, mas que também nos faz inferno de alguém.
Para
Fernando Moraes a compaixão é a consciência permanente de que existe o outro. E
solidariedade é o efeito natural de identificar o outro por essa consciência e
dar vida a essa relação. Sendo assim, uma não existe sem a outra. Entretanto,
mesmo tendo essa condição indissociável, costumeiramente tentamos estabelecer
interlúdios.
Segundo
o autor, quando adotamos a compaixão como exercício cotidiano, estamos na
verdade dizendo aos outros: “Eu vejo vocês”.
Compaixão
como convite à existência é o grande desafio aqui proposto.
O Grupo Editorial Novo
Conceito oferece sempre os best-sellers mais aguardados e comentados
do meio literário. Em anos de sucesso editorial, foram vários os autores e
títulos reconhecidos na principais listas do PublishNews e Veja. O selo Novo
Conceito foi desenvolvido para reunir essas grandes publicações, além
das novidades e lançamentos internacionais que ainda virão.