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16 setembro, 2019

Resenha :: Sobres Deuses e Seres Rastejantes — A Balada de Gundrum

setembro 16, 2019 0 Comentários
Às vezes, só o mal pode se opor a um mal ainda maior...

Olá, faroleiros! A resenha de hoje é de um livro de fantasia distópica muito interessante. Quem me conhece aqui sabe que esse é o meu segundo gênero preferido, depois do romance.


Em um mundo deixado à própria sorte, seres das mais variadas espécies vivem em suas vilas, com costumes e tradições próprias. Minotauros, homens-insetos, nekwanes, gigantes, elfos, orcs, leonídeos, e até humanos, entre outros tantos ocupam a vasta extensão de Aldaman. Todos foram abandonados pelos deuses, que após ver tanta ganância, luxúria e egoísmo dos povos resolveram larga-los à própria mercê.

Pelo menos era isso que acreditavam até fatos estranhos começarem a acontecer. Em uma vila de minotauros, o bruxo Gundrum, um ser diferente, sem pelos, de cor alaranjada e sem chifres, descobre que após a volta de um soldado da vigília, seu povo fora infestado por vermes e seus corpos possuídos. Sem entender o que de fato acontecia, ele juntamente com Morween, uma meio-orc e meio elfo, e Makk, seu javali de estimação, partem em busca de explicações.

Poderia ser uma ideia ruim, mas naquele momento não tínhamos nenhuma outra. Além disso, eu e Morween estávamos unidos pelo terror de que se abatera sobre o único lar que conhecíamos, mesmo que não fosse o melhor lugar do mundo.


Nessa peregrinação sinistra temos a oportunidade de conhecer a geografia de Aldaman, as vilas que também foram afetados pelos estranhos seres e compreender o que de fato assolou aquele mundo. Nosso protagonista tem a ajuda de outros seres que também partilham da mesma busca, a fim de destruir as forças que desejam dominar os povos.

Pensem pelo lado bom, pessoal. Se vencermos, haverá histórias em nossa homenagem. Se perdermos, também, mas elas serão bem mais tristes.

Nessa jornada eles se juntam a Tuhin, um idaji (um amaldiçoado que se transforma em hiena), Katta, a gigante, Hoak, o homem-inseto, Tombrood, a gosma amórfica, e Okimo, o gorila xamã. E esse grupo inesperado é a melhor chance do seu mundo. Bem, nem sempre as respostas são exatamente as que procuram e nem toda jornada é eficiente. Uma coisa é certa em toda essa teia de dúvidas e incertezas: o mal pode ser maior do que eles acreditam e ele pode habitar lugares inusitados. Nem todos são totalmente bons e alguns carregam desejos profundos que sequer imaginam. Gundrum será colocado à prova e tentado por demônios. No final, quando você só tem uma escolha e ela parece certa, o mal que pode proporcionar se torna um mero detalhe.

Os deuses que existiam seguiam regras, eram previsíveis. Vocês podiam operar nas entrelinhas dos contratos, mas e agora? O ser que rasteja e seus irmãos não hesitarão em eliminar vocês para evitar concorrência. Eles não compreendem qualquer conceito de moralidade, são só animais famintos, animais muito inteligentes e famintos.

Já deixo bem claro que não há romances aqui. Isso se trata de fantasia pura! A leitura dessa obra foi uma viagem em um mundo inusitado e cheio de personagens peculiares. A trama é muito bem elaborada e nós nos envolvemos nas descobertas do nosso protagonista. Confesso que no início da jornada, a gente fica um pouco confuso com tantos nomes estranhos de personagens e lugares, mas quando nos conectamos aos acontecimentos, e os mistérios começam a ser revelados; como quem é de fato o mal que quer dominar os povos, esse incômodo inicial dá lugar a uma curiosidade e empatia pela história e a solução do problema.


A única coisa que realmente me surpreendeu, sem dar spoiler é o destino de determinados personagens. No meu ponto de vista, Piaza Merighi sacrifica um de seus personagens mais cativantes na reta final. Isso me desapontou e deixou dúvidas no ar do porquê ele o fez.

No demais, podemos contar com uma ótima fantasia, um mundo distópico incrível e personagens fortes e bem estruturados. Super recomendo a leitura para quem curte o gênero e adora mergulhar em jornadas misteriosas!


Nota :: 


Informações Técnicas do livro

Sobres Deuses e Seres Rastejantes — A Balada de Gundrum
Piaza Merighi
Ano: 2019
Páginas: 288
Sinopse:
Aldaman é um continente que foi abandonado pelos deuses, uma terra selvagem deixada à própria sorte, onde humanos e raças bestiais convivem em desequilíbrio. Gundrum, um de seus habitantes, é um minotauro franzino e deformado que ocupa o posto de bruxo de sua aldeia, lidando com rituais e feitiços para proteger seu povo, mas sendo desprezado pela natureza maligna das forças que ele manipula. Quando um arauto de aberrações além da compreensão decide iniciar uma cruzada fanática por todo o continente, afetando a sua aldeia, Gundrum deve se unir a improváveis aliados e colocar seu conhecimento e sua força à prova para descobrir o que está por trás dos sinistros cultos propagados pelo estranho clérigo.


 _____Sobre o Autor_____

Piaza Merighi


Advogado, morador de Porciúncula, no interior do RJ (pode não parecer, mas apesar do nome é uma cidade real), nerd assumido, leitor inveterado e agora escritor. (Fonte)


*Exemplar cedido pelo autor

07 janeiro, 2019

Resenha :: O Leão do Oeste — A Fúria do Amaldiçoado

janeiro 07, 2019 0 Comentários

Olá faroleiros, que saudades senti de escrever e interagir com todos aqui no Clube!

Como sabem, o Clube do Farol está em férias. Mas isso não impediu que nós, colunistas, deixássemos resenhas incríveis para vocês. Até porque, férias é sinônimo de leituras, não? Por isso trouxe hoje a indicação de uma história primorosa para os amantes de fantasia: A Fúria do Amaldiçoado, da série O Leão do Oeste. O livro foi escrito pelo autor André Carvalho e é o seu primeiro livro publicado.


Diziam as más línguas que o sujeito impiedoso veio em busca da matança. Soube depois que o massacre fora cruel e devastador. A maldição rondara os confins do império e os homens de armas vieram para sepultar os vestígios de sua história. Loucos que queimavam, estupravam e assassinavam. Mas ele veio, com a espada em punho e a vingança nos olhos sombrios.


A história se passa na África Subsaariana. Numa época em que inocentes eram tirados de suas terras natais, escravizados e trazidos ao Império para trabalhar arduamente e enriquecê-los, viveu Kankou Musa. Poderoso e detentor de uma antiga maldição, Musa podia se conectar com os animais da floresta. Ele fora perseguido por isso, e quase foi morto por ser agraciado com uma força que dividia opiniões. Era bom ou ruim ser um amaldiçoado? Muitos viam Kankou Musa como seu salvador e outros como o prelúdio da morte.

A maldição não era intrínseca apenas a Kankou Musa. Ela era uma força arrebatava outras crianças pelo caminho, mas só os fortes sobreviviam ao seu domínio. Como o Império a temia, os amaldiçoados eram caçados e mortos.

Falavam os maldizeres que o sujeito impiedoso veio em busca de justiça. Diziam que vinha do oeste, de onde os homens sofriam com a maldição e as mulheres davam à luz a demônios. De fato, quando ele apareceu trouxe a morte como confrade. E causou tamanha insegurança na aldeia que o incêndio fora a última saída. Eu o vi, e sei que ele também me viu. Se vinha do oeste não sei dizer, mas ele trazia destruição por onde passava.


Em sua jornada para aniquilar os homens que escravizavam o povo e matavam os animais, Musa conhece outro amaldiçoado. Seu nome era Candice. A garota perdida tinha um poder tão forte que emanava de seu corpo atingindo-o e seu exército de animais no longínquo. Ela era pequena, mas esperta para sua idade. Carregava consigo um passado recente de dor e perda. Por um breve momento Candice trouxe a vida de Musa ternura e esperança que tudo pudesse ser diferente.

Só que Mansul, braço direito do Mansa Abubakar e detentor também da maldição, não pensava dessa mesma forma. Ele perseguia e matava os amaldiçoados alegando que só um podia existir para que houvesse equilíbrio.

— Quando fecha os olhos, senhor Kankou, o que você vê? Vejo tantas boas lembranças que tornam a minha vida prazerosa. É disso que somos construídos. Muito do que é ruim pode perdurar para sempre, mas o que é bom é o que o marca de verdade, o que nos faz mais humanos.


Numa história ambientada e marcada por violência, dominação e ódio, surge uma amizade improvável. Um amaldiçoado varrerá o território do Império em busca de vingança. Ele não sossegará em sua jornada até que todos os homens do Império estejam destruídos, os animais protegidos e os escravos libertados. Mesmo que isso custe sua própria vida.

A vingança é o “motor” da trama. Porém aprendemos que ela pode ser o fio de derrocada, pois é um sentimento ilusório e pode ser usado contra quem o carrega. O nosso protagonista vai sentir na própria carne o sabor amargo disso.

 A raiva é uma ilusão, meu filho, você deve usá-la para o bem.

O Leão do OesteA Fúria do Amaldiçoado é uma leitura interessante. Diferente das fantasias que retratam reinos, intrigas e romances, ela tem sua história ambientada numa terra inóspita e pouco conhecida. A simplicidade e as crendices do povo dominado pelo Império são muito bem retratadas pelo autor André Carvalho, já que a África possui uma cultura peculiar. Isso torna a leitura distinta de todas que já fiz.


A amizade entre a pequena Candice e Kankou Musa me arrebatou. A interação dos dois é tocante. Percebemos claramente o quanto a garota amolece o coração do rapaz. Emocionei-me na última cena deles.

Também me prenderam na leitura as cenas de ação e luta muito bem escritas.  E olha que há muitas delas no livro, devido à intenção do autor e o contexto histórico.

Chamam a atenção, as cenas em que o protagonista se conecta com os animais. O autor dá a eles inteligência e sentimentos característicos ao ser humano, o que torna a interação entre ambos cativante. Eles carregam consigo o mesmo sonho de um futuro próspero e pacífico, além do amor que sentem por Musa, que resgatou a maioria de seus companheiros da tortura e da violência nas mãos de homens ruins.


Mestre não podemos vencer, Felina sente o coração martelar e ruge mais alto que o trovão.
Acabou mesmo? Dente serrado afasta a investida de um soldado.
Sim, está acabado, mas para eles e não para nós."

Recomendo essa leitura para todos os amantes de literatura fantástica que apreciam uma narrativa mais rebuscada e muita ação. Agradeço a oportunidade de ler uma obra tão rica e bem escrita como essa.  Parabéns ao autor André Carvalho por nos agraciar com a história de O Leão do Oeste — A Fúria do Amaldiçoado. Fiquei curiosa para saber qual será o enredo do próximo livro!



Nota :: 


Informações Técnicas do livro

O Leão do Oeste — A Fúria do Amaldiçoado
André Carvalho
Ano: 2018
Páginas: 176
Sinopse:
Em meio à África subsaariana, o Império do Manden não é mais o mesmo. Antes imbuído de pacificidade pelo grande conquistador, hoje é esquecido pelos olhos de seus descendentes. Escravos trazidos das fronteiras são maltratados, separados de suas famílias e destinados a viverem na miséria. Assim se passam centenas de anos até Kankou Musa, detentor de uma estranha maldição capaz de conectá‑lo com qualquer ser vivo, desafiar o Império. Nele predomina uma raiva incondicional de seus governantes por eles caçarem amaldiçoados e tratarem pessoas como mercadoria. Enquanto busca por respostas no interior da savana africana, ele conhece uma menina chamada Candice, escrava fugida das montanhas de Bambuque e perseguida pelos temíveis Portadores da Aljava. Com uma forma diferente de ver o mundo, Candice manifesta no amaldiçoado dois inusitados sentimentos: a ternura e a vingança. É quando Kankou Musa começa a executar seu plano mais audacioso: acabar de vez com o Império.


 _____Sobre o Autor_____

André Carvalho


André Carvalho nasceu e cresceu na cidade de Curitiba, PR. Apaixonado por história e cultura geek em geral, sempre esteve atrelado as mesas de RPG e ao costume de construir aventuras fantásticas para seus obstinados jogadores. A paixão pela leitura começou ao embarcar nos mundos fantasiosos de Tolkien, J.K. Rowling e George Martin e evoluiu para tantos outros autores que aos poucos foram conquistando seu espaço. Formado em Engenharia de Computação, busca nos fins de semana um tempo para a escrita e  O Leão do Oeste é seu primeiro livro publicado.


*Exemplar cedido pelo autor