23 dezembro, 2017

# @Milly # Autor(a) Parceiro

Resenha :: A Queda de Sieghard (Maretenebrae #1)


"Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam."

Antes de tudo, preciso começar essa resenha falando de algo que eu pouco pontuo quando falo dos livros, mas aqui me surpreendeu positivamente e merece destaque: a sua narração. Apesar de estar em terceira pessoa, acabou me envolvendo de uma forma muito intensa, como um próprio personagem em que eu poderia me apegar. Sabem aqueles livros que enchem sua mente com imagens vívidas dos acontecimentos? Maratenebrae com certeza é um desses, principalmente por causa da sua narração.

O começo do livro, não nego, é um pouco mais denso, por ser bastante descritivo, algo normal na literatura medieval em geral pela necessidade da ambientação, por isso acabou demorando mais para me prender na leitura. E também por trazer algo bem diferente, que é o protagonismo de sete personagens distintos entre si. Então pode demorar um pouco para pegar a essência de cada um, e decidir se vai acabar gostando ou não deles (confesso, que a personalidade de um ou de outro são bem difíceis, o que faz ser normal acabar pegando raiva com algumas atitudes).

"É da natureza, seja animal ou humana, devorar-se. No entanto, os primeiros o fazem por alimentos e territórios; os últimos, para expiar a culpa de alguns, ou para realizar os caprichos de outros."

E a demora para se afeiçoar se deve também por  Maratenebrae começar por onde muitos livros medievais considerariam o seu clímax: a Guerra. Eu imaginei que acabaria por deixar a leitura bem sem graça. Como torcer se não apresentaram ninguém? Nenhum personagem? Quais seriam os "mocinhos"? (Sabemos que ser bom em livros medievais é bem controverso, já que matar não é necessariamente um defeito).

Mas esse foi um diferencial muito bem pensado para o livro, o protagonismo inicial é para o próprio Reino de Sieghard, que está sob ataque de forças misteriosas e poderosas que vem além do Mar. Os personagens acabam se conhecendo em meio a essa batalha que está sendo perdida e acabam formando um grupo bem diversificado para baterem em retirada.

"Não os julgue por suas convicções, mas sim por suas ações."

Como na maioria dos livros medievais, não poderia faltar as longas viagens e perigos pelo caminho. Aqui, à medida que a viagem avança, não apenas eles vão se conhecendo entre si, mas cada um nos é apresentado.

O misterioso Victor, que tem uma essência meio assustadora para os companheiros, além de não ser possível saber direito do que ele é capaz e o quanto ele pode ser perigoso. (Ou seja ele é um dos meus personagens favoritos! rs Apesar do início de poucas palavras).

Rodrick, outro personagem que gostei bastante, principalmente por ser o arqueiro do livro (eu tenho um certo fascínio por personagens literários que são arqueiros, rs), mesmo com um destaque não tão grande, ele é um ótimo personagem e está sempre pronto para ajudar.

O pastor de ovelhas, Petrus, é daquele tipo de personagem simples, de alma gentil e medroso. É alguém que a princípio não aparenta ser um grande ganho para o grupo, mas desde o começo passa algo bem especial.

O guerreiro gigante e bruto, Braun, é daqueles que você começa não gostando, mas tem algo nele que não te faz o odiar, além de aparentar ter raiva de tudo e ser bem impulsivo nas suas ações, que chega a ter um toque mais de humor. Tem o dom dos xingamentos, rs.

Chikára é a única mulher do grupo e é a que mais tem conhecimento sobre as artes ocultas, tem sabedoria sobre muitas coisas, e se sente superior por isso. (Sim, tenho alguns problemas com ela, nada grave).

O lorde Heimerich é o nobre do grupo, ele tem um bom destaque, apesar do nariz empinado não é de todo ruim. Na verdade ele representa bem esse sentimento de dever e superioridade da nobreza para com os outros.

Formiga é o ferreiro que tem sérios problemas com seu vício em comer demais, mas ele dá certo humor e leveza para o livro, apesar de vários acontecimentos, a simplicidade dele entre o grupo só não é maior que a de Petrus. Em termos de desenvolvimento ele é um dos que mais se destaca pelo crescimento do personagem.

O mais interessante é que cada um deles representa um dos sete pecados capitais, e achei uma jogada genial dos autores, nas personalidades de alguns é bem mais perceptível o que representa, mas outros não notei com tanta facilidade.

E o que no início ficou com a confusão de não conhecer bem os personagens no decorrer do livro fica cada vez mais impossível não ver a importância de cada um de um jeito diferente.

"A lógica é ótima para se argumentar, mas péssima para se viver nela, dizem os sábios."

Eu gostei muito da leitura, principalmente do meio para o final, onde conseguimos ver o lado mais fantástico desse universo, com seres desconhecidos, como os  lagartos alados, e uma magia bem mais acentuada que no início. Começamos a descobrir os mistérios dessa terra e o motivo da invasão.

"Acha mesmo que tudo isso é coincidência? Normalidade? Fenômenos comuns? Tome cuidado com o que diz, pois em breve poderá estar lutando com forças cuja origem desconhece. E sucumbirá acreditando, até seu último suspiro de vida, que tem alguma chance."

A construção desse universo, aliás, é mais um ponto bem positivo. As questões culturais são muito bem descritas e incrivelmente expressivas. O que é ainda mais perceptível por cada um dos personagens principais ser de pontos diferentes do reino. São costumes e mitologias que se complementam muito bem, e ganham importância conforme o enredo vai se desenvolvendo.

Novos acontecimentos me deixaram angustiada por saber que teria coisas demais para acontecer e poucas páginas restantes, e, por isso, é claro que o final me deixou bastante ansiosa para o que vem no segundo livro, O Flagelo de Dernessus.

"Você não deixaria de atacar o homem que fere seu pai, ainda que ele fosse seu irmão, deixaria?"

Não posso esquecer de falar sobre a edição do livro. As artes de cada começo dos capítulos e os mapas do reino são um atrativo a parte. E no final do livro tem as partituras das músicas que foram cantadas no decorrer da história! O que só aumenta o meu encantamento pela obra. Achei de um cuidado incrível.

"No dia em que não houver mais dor, nem pranto, nem perda de sangue, já estaremos mortos e não gozaremos das benesses dessa vida. Lamente-se o quanto puder, cavaleiro. É isso que o mantém vivo!"

Então indico muito essa leitura, principalmente para quem já está acostumado com o gênero. Essa foi uma leitura muito feliz para mim, por ser uma literatura fantástica nacional de tão boa qualidade, e por ver que nossos autores não estão perdendo em nada para a literatura estrangeira do mesmo gênero. Então leiam mais autores brasileiros, seja qual for o estilo literário. Boa leitura e que a Ordem os guie.

"Quereis viver para sempre? Então cumprir uma última ordem: Se eu avançar, segui-me! Se eu cair, vingai-me! Se eu recuar, matai-me! Pela Ordem e pela glória de Sieghard!"


Nota ::  4,5 

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Informações Técnicas do livro

A Queda de Sieghard
Maretenebrae #1
L.P.Faustini e R.M. Pavani
Ano: 2014
Páginas: 350
Editora: Página 42
Sinopse (Skoob):
Província de Bogdana, Sieghard, ano 476 após unificação.
Uma desconhecida força invasora irrompe pelo Grande Mar e ataca a costa protegida pelos soldados da Ordem utilizando-se de navios nunca antes vistos. Imensos. Terríveis. Destruidores. Ao mesmo tempo, uma estranha peste se espalha pelas comarcas do reino, cegando e invalidando sua população. Nobres e plebeus se nivelam padecendo do mesmo e misterioso mal. Em uma iniciativa desesperada, Sir Nikoláos de Askalor, o oficial responsável por defender a Ordem, abdica de todos os planos e estratagemas para investir de uma só vez contra os inimigos, sem saber que assim cairia na armadilha preparada por eles. Com suas fileiras dizimadas, o exército da Ordem recua e toma a direção do Domo do Rei para defender seu soberano, Marcus II, O Ousado, cuja vida representa a perpetuação dos valores ordeiros. Para um pequeno grupo, porém, composto por Roderick, Petrus, Chikara, Heimerich, Braun, Formiga e Victor Didacus - cada qual personificando um dos sete pecados capitais -, as sucessivas derrotas do reino são apenas o início da maior de todas as suas aventuras e desventuras. Diante deles, e de suas incontáveis diferenças, assombra-se um grande plano arquitetado por Destino. Serão eles capazes de enfrentá-Lo?


_____Sobre os Autores_____


L.P.Faustini

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L.P.Faustini é autor capixaba nascido em Cachoeiro de Itapemirim, escritor do blog "O Cristianismo por Trás das Câmeras" e criador da saga Maretenebrae, lançada em 2012. Engenheiro mecânico por profissão e apreciador do gênero fantástico desde jovem, seu primeiro livro intitulado A Queda de Sieghard foi lançado em conjunto com o professor de história R.M.Pavani e, agora, ele segue sozinho pela longa jornada de terminar sua grande aventura. 
Entre o primeiro e o segundo volume, L.P.Faustini também produziu dois contos fantásticos a convite do website literário Quotidianos, do escritor Rober Pinheiro, e do evento Café Com Letras, do produtor cultural Leonardo Picinati. Embasado pelas obras do autor Michael Moorcock, apaixonado por música, idade média, H.P. Lovecraft, história da religião, mistérios antigos e filosofia, pode-se dizer que Maretenebrae é um reflexo dos seus interesses projetado em suas páginas.



R. M. Pavani

É historiador e mestre em História Social das Relações Políticas (UFES) e atua como professor da educação básica e superior no estado do Espírito Santo desde 2007.
Possui textos e artigos publicados em revistas acadêmicas e jornais de grande circulação.
Gosta de música, cerveja, astronomia, mitologia, jogos de RPG e literatura, em especial a fantástica, com destaque para as obras de J.R.R. Tolkien, C.S. Lewis, M. Ende, B. Cornwell, George Martin e Stephen King.


23 comentários:

  1. Amei tanto a resenha que já comecei a ler o livro, mas acho que vou acabar emendando o primeiro e o segundo. O que você diz sobre um livro de fantasia é lei e sei que minha leitura vai ser maravilhosa!! Beijos e obrigada!

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    1. Obrigada Elis! Espero que goste da leitura tanto quanto eu, obrigada pela confiança. Que a Ordem a guie 😁❤

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  2. O melhor presente de natal que um autor poderia receber. Linda resenha. Que a Ordem a guie plenamente!

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    1. Eu que agradeço demais pela a oportunidade de ter essa leitura maravilhosa ❤ Parabéns! Que a Ordem o guie ❤

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  3. Oieee,
    Que resenha fantástica! Amei!
    Confesso que não leio muitos livro nacionais, e que o único de fantasia que li foi o Dragões de Éter (os quais preciso terminar), mas esse me deixou super curiosa!
    Já está na lista!

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    1. Eu também leio ainda pouco de fantasia nacional, mas desde o ano passado tô me aventurando e amando ❤ indico muito esse 😊

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  4. Oiee. Eu amo de paixão uma fantasia medieval com tudo que tem direito e podemos dizer que você me pegou no pulo já que boas narrativas e boas construções são comigo mesmo.
    Amei o post.
    Beijos.

    Blog: fanficcao.wordpress.com

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    1. Ah eu também me encanto com uma boa narrativa e uma boa construção, e como sou completamente apaixonada por fantasia medieval, esse livro não tinha como não me pegar ❤

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  5. Oie
    Ainda não conhecia essa obra e não teno certeza se eu gostaria de lê-la. Algumas narrativas são bem densas no começo mesmo, senti isso com alguns livros mas depois foi fluindo e se tornaram leituras maravilhosas felizmente. Adorei sua resenha, talvez eu leia um dia.
    Bjos, Bya! 💋

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    1. Obrigada! E verdade muitos livros começam denso, ainda mais quando se trata de fantasia medieval, mas a maioria sempre flui bastante depois, vale a pena. Espero que leia ❤

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  6. Olá.
    O livro parece trazer um mundo completamente novo e interessante. Sua resenha ficou muito bem escrita e bastante detalhada. Parabéns.
    O livro vai para minha wishlist.

    xoxo

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    1. Muito obrigada! Tem livros que pedem uma resenha mais bem detalhada ❤ ah e fico feliz, espero que leia!

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  7. Nacionais não param de surpreender :)
    Adorei a resenha. Amo o gênero e quando as histórias são detalhadas.
    E achei o máximo que já começa na guerra, diferente mesmoo.

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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    1. Sim! Bem diferente do que costumamos esperar! E comecei a dar mais chances para livros nacionais de fantasia e só estou me surpreendendo positivamente ❤

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  8. Oii adorei sua resenha! Ammo quando livros de fantasia trazem novos universos e seres, e os descrevem de maneira perfeita que é possível entrarmos na história.
    Sem dúvidas a leitura deve ser maravilhosa, ainda mais por tratar-se de um nacional que estão cada vez mais surpreendentes!
    Beijos

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    1. Sim! A construção de universo diferente é o que mais me encanta nesse mundo da fantasia e vê que nossos autores nacionais estão arrasando tanto nessa construção dar muito orgulho!

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  9. Esse é um livro que eu gostaria muito de ter lido ano passado,mas como não deu, acho que desse ano não passa. Adorei a sua resenha, me deixou ainda mais ansiosa para conhecer essa história. Todos os pontos que você abordou me deixou empolgada, a narrativa, o enredo, os personagens... Enfim, é uma leitura que não vejo a hora de começar. Parabéns pela resenha, está incrível! <3

    https://abducaoliteraria.wordpress.com

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    1. Ah foi uma das minhas melhores leituras do ano passado, espero que leia esse ano, ele é muito bem construído mesmo, todos esses elementos são bem fortes! Ah e obrigada ❤

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  10. Olá Milly, tudo bem? Fiquei encantada com sua resenha e com a história ! Amo esse tipo de livro e já quero conhecer essa trilogia. Parabéns ao clube e aos autores. P.S.: o link não está funcionando, pelo menos eu não consegui entrar para participar do sorteio.

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    1. Vale muito a pena a leitura dele ❤ indico muito, ainda mais para quem gostar de uma boa fantasia medieval! Ah e vamos resolver a questão do link, obrigada ❤

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  11. Olá, tudo bom?
    Eu adorei esse livro! Amo livros com mundos bem construídos, criaturas próprias e coisas do gênero.
    Gostei da ideia de cada personagem ser um pecado capital e já gosto deles só pela sua resenha. Fiquei muito curiosa.

    Parabéns
    Beijos, Ally.
    Amor Literário

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    1. Também amo muito essa construção dos mundos, e adorei muito esse! Os personagens é um encanto a parte, os fato de eles representar os sete pecados é genial!

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  12. Olá, Milly, beleza?
    Caramba! Estive lendo a resenha e já imaginando toda a história, como num filme ou aqueles livros que a gente viaja de um jeito bem legal. Fiquei curiosa em conhecer mais sobre como tudo ocorre e os personagens, mas acho que não é a hora certa. Estou correndo das leituras densas ultimamente (culpa de uma quase ressaca literária). Mas é um livro nacional e quero conhecer a narrativa dos nossos autores quando se trata de fantasia, já que só conheço mais os romances.

    Jessie do blog Cacto Florido,

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