Depois de tantos meses, mais de um ano, de sofrimento, notícias e a vida praticamente acontecendo em torno da pandemia, causada pelo vírus Covid, eu decidi ver se existia algum lado mais positivo do que negativo, se existia alguma maneira de ver diferente aquilo que estava acontecendo, não que fosse melhorar ou transformar a realidade em algo belo, porém me faria tirar de algo ruim algum aprendizado. Talvez eu esperasse encontrar o copo meio cheio no lugar de meio vazio e eu fico feliz em dizer que eu encontrei mais do que isso durante a leitura e agora vou compartilhar com vocês.
Sobre o livro ser escrito por uma monja, apesar de eu não ser budista, realmente acredito muito que é possível aprender com as outras crenças, com as outras maneiras de enxergar a vida, sem que isso afete ou ofenda a minha própria crença, o respeito pela crença do outro é um dos pilares de qualquer credo que se possa ser levado a sério.
Com escrita fluida e capítulos curtos, o bom contágio traz episódios biográficos e relatos do dia a dia para falar sobre a alegria, a compaixão, a doação, entre outros. Sem deixar de lado, medos e angústias. Mostra-nos como uma tragédia social pode, sim, ser um momento para avaliarmos seriamente a vida, a sociedade e encontrar uma chance de reconexão e realinhamento.
O primeiro capítulo começa a falar sobre alegria, em alegria em um sentido muito maior do que euforia. O contentamento, no sentido de satisfação, é de estar plenamente satisfeito e isso não é com muito e nem um estado passageiro ou poder ser simplesmente obtido através da força de vontade do pensamento.
Foi muito interessante notar a questão do ser feliz pelo ser feliz. E que a felicidade transborda de uma maneira não intencional daquela pessoa. Também apreciei a reflexão sobre alegria que os animais nos trazem, especialmente vendo reportagens sobre pessoas que adotaram animais de estimação, durante a pandemia, para acabar com a solidão causada com a ausência de companhia. Mas vieram matérias, também jornalísticas, dizendo que as pessoas simplesmente abandonaram os animais domésticos com o fim do isolamento e isso mostra uma completa e total falta de valor à vida, afinal, o animal não é isso, uma vida? Enfim, eu suponho que o principal aprendizado é que a alegria e a satisfação são emoções obtidas única e exclusivamente pela pessoa, independente do que se tem e de quem está o seu lado ou de quem não está, um sentimento pleno de satisfação.
As pessoas podem ser contagiadas por coisas boas, invisíveis, minúsculas e assim, contagiados pelo bem, espalham, viralizam por toda parte a ternura e o cuidado.
Em Vida vem a reflexão: é sempre a morte que nos lembra que não somos eternos, que somos o hoje; que a vida é frágil, o que escolhemos fazer com ela importa, que somos parte de um todo; de um ciclo que não começa e, definitivamente, não termina em nós.
No capítulo O Bem, me lembrei do conselho "não nos cansamos de fazer o bem". Durante a leitura, a admoestação bem-vinda que fazer o bem não é apenas não praticar o mal, é também não buscar o bem como uma autopromoção ou satisfação pessoal. Já em Sabedoria, a questão de aprender e apreciar o caminho e a busca, pois o encontrar uma reposta é o iniciar de outra busca. O constante aperfeiçoamento do entendimento, é o enxergar o mundo sem o filtro de nossos julgamentos.
Bem me quer, mal me quer — e a pobre Margarida fica despetalada. Será que o nosso bem depende de alguém nos querer bem?
Em Compaixão mais uma vez me deparei com a lembrança de "é sentir a dor do outro como se fosse você". Mais que simpatia ou empatia, é ter pleno entendimento. Porque ao ser conosco o nosso modo de agir muda. É dar aquilo que nos fará falta, como o nosso tempo, por exemplo. É algo que no meio do dia-a-dia sempre nos falta e ao doar nosso tempo ao outro pode ser uma atitude verdadeira de compaixão. E não a da simples ajuda, que também é importante, mas não é completa, pela ausência da compaixão. É fazer pelo outro o que gostaríamos que o outro fizesse por nós. Não é à toa que a palavra termina em ação, que depois do entendimento mostra a mudança no modo de agir.
Em Conceito de paz a questão do sentir paz talvez seja o mais difícil de colocar todas as reflexões ou pelo menos a mais marcante que eu tive durante a leitura. Em casa eu já aprendera com os meus pais que paz não é ausência de problemas, paz é a certeza de poder passar pela tempestade, e foram tantas e tantas lembranças e reflexões durante a leitura, que eu acho esse o capítulo mais pessoal, que vai ser aquele que mais vai se diferenciar entre um leitor e outro, e isso por si só é maravilhoso. Reconhecer, acredito que essa foi a palavra que mais marcou o capítulo sobre paciência, porque o aprendizado de reconhecer as emoções para poder transformá-las.
Pensamentos têm poder, pois geram palavras e ações, tornando-se realidade. Pensamentos são transmissíveis.
O capítulo que eu mais lembrei de ensinamentos de Cristo foi Arrependimento, em especial da confissão, do arrependimento, da mudança de atitude, buscar encontrar no erro uma forma de encontrar também um novo caminho, uma nova vida, sem a presença daquele erro e lidando com as consequências da melhor maneira possível. Por exemplo, a lei da causalidade me remete a lei do plantio. Que nada mais é que tudo aquilo que nós plantamos, nós colhemos, às vezes em uma proporção bem maior do que foi plantado, outras vezes na mesma proporção!
Como eu disse no início, uma leitura com preceito religioso diferente do seu não quer dizer que irá ver o conflito, simplesmente pode acontecer de serem os mesmos ensinamentos, porém feitos com palavras diferentes. E a própria monja cita outras religiões que convergem no explanado. É a grande lição nas questões da equidade, da doação, da purificação.
O bom contágio requer mente e coração abertos para promover uma conversa sincera sobre as dores da vida e a admirável capacidade do ser humano de se adaptar.
Na última parte do livro, você encontra mais sobre o budismo de uma forma um pouco mais detalhada que nos capítulos anteriores, mesmo que você não tenha nenhum interesse especial em seguir a filosofia, será interessante conhecer as bases que sustentam a crença e permeiam o texto que você está lendo, afinal é uma apresentação e não alguma doutrinação.
A leitura contínua durante todo o livro agradável e um convite não apenas ao pensamento, mas a reflexão e a ação, transformação. Eu fiquei encantada que alguns conselhos que ela dá sempre foram parte da minha vida, como silenciar para ouvir meus pensamentos, a ida ao mar para reflexão e limpeza da alma, não para o banho ou lazer, algo terapêutico, dentre tantas outras coisas. Sempre é ótimo se sentir praticando atitudes que provêm de ótimos conselhos.
Enfim, foi uma excelente leitura, em uma edição belíssima, com diagramação, papel e fonte confortáveis para leitura, sem erros de ortografia ou digitação.
Informações Técnicas do livro
Monja Coen
Ano: 2021
Páginas: 144
Editora: BestSeller
Sinopse:
Uma leitura inspiradora para lembrar que, em tempos de adversidade, a alegria pode ser reencontrada e deve ser compartilhada.
O bom contágio é uma reflexão necessária e honesta da Monja Coen Roshi sobre um momento tão difícil para a sociedade: a pandemia global causada pela COVID-19. Este pode ser um guia em direção ao autoconhecimento e também a esperança de alcançar uma vida plena em tempos difíceis.
Com escrita fluida e capítulos curtos, Monja Coen apresenta elementos da teoria budista, reforçando a importância da prática e da atitude desperta. Coen se mostra sempre atenta aos pensamentos e à vida ética. Principalmente diante de eventos que possam pôr em xeque nossas amarras mundanas, além da nossa própria fé.
O bom contágio traz episódios biográficos e relatos do dia a dia para falar sobre a alegria, a compaixão, a doação, entre outros. Sem deixar de lado medos e angústias, Monja Coen nos aponta o longo – porém recompensador – caminho do bem e da verdade. Mostra-nos como uma tragédia social pode, sim, ser um momento para avaliarmos seriamente a vida, a sociedade e encontrar uma chance de reconexão e realinhamento.
Sabedoria e compaixão são inseparáveis, e é preciso ambas para despertar e fazer o bem para si e para todos. Para não permanecer alheio à violência, ao racismo, ao ódio. Se despertarmos, há chances reais de reparação e recriação da realidade comum.
O bom contágio requer mente e coração abertos para promover uma conversa sincera sobre as dores da vida e a admirável capacidade do ser humano de se adaptar. Monja Coen mostra como é possível (re)encontrar satisfação e alegria até mesmo nos momentos complicados.
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