Olá, pessoa! Eu não pensei duas vezes em ler esse livro, por se da autora de Dumplin’, que você conferiu a resenha aqui no Clube, inclusive do filme. Eu sabia que eu precisava ler! Então, fui à leitura e não me decepcionei. Agora, vamos à história!
Quem mora ou já visitou cidades litorâneas ou turísticas fora da época de alta temporada, sabe o quanto os moradores locais precisam dessas temporadas para se manterem nos outros meses do ano. E, geralmente, o verão vem a ser a época de alta estação, onde a cidade mais ganha visitantes e também moradores sazonais.
Assim começa a história contada por Ramona Blue, com o fim do verão e o adeus aos visitantes e moradores temporários, que após as férias retornam a suas cidades e a suas vidas. É diferente começar um livro se despedindo, mas confesso que deu um toque único a história. Afinal, vamos ficar na cidade de Eulogy, Mississippi, com Ramona e nos despedir de Grace, com ela.
"Sou feita de pequenos pedaços; dispersos, não passam de cacos afiados. Mas todas essas partes juntas são o que faz de mim Ramona."
Eu amei cada personagem que a autora criou, mesmo aqueles sendo feitos (pelo menos pra mim são) para gente detestar. Cada um é único na história e faz com que a trama se desenvolva de uma maneira muito fluida. A descrição da cidade é uma das delícias da história, porque, por ser fora do eixo Nova York — Los Angeles, tem um frescor e também de algo não tão desconhecido. Por ser próximo à cidade de Nova Orleans, lar dos artistas e do Blues americano. A região, infelizmente, foi muito noticiada pela tragédia do Furacão Katrina, que tirou a vida de 1.800 pessoas e fez a família de Ramona uma das tantas desabrigadas.
Com diálogos envolventes, tanto nos assuntos mais sérios, quanto nos momentos mais tranquilos, vamos conhecendo o pequeno círculo de amigos de Ramona, uma adolescente que, além de muito alta em relação a todo mundo — risos —, é lésbica e ostenta um cabelo azul, que lhe deu seu apelido. O cabelo é algo tão dela quanto sua sexualidade e o fato de, desde muito cedo, ter aprendido a sobreviver, tanto aos furacões quanto as dificuldades de se reerguer após ele.
"O destino é meu, eu posso decidi-lo. Escolho meninos. Sempre escolho meninas. Escolho pessoas. Mas acima de tudo: eu escolho."
Porém, família é um assunto delicado para ela, e quando tudo parecia ser simplesmente sobreviver ao fim do ensino médio, duas coisas acontecem em simultâneo. Sua irmã descobriu que está grávida e Freddie, um amigo de infância, retorna. Quero deixar claro que não apenas Freddie, mas a avó dele é simplesmente uma personagem que enche o livro de amor, uma categoria de amor que parece que só as avós são capazes.
Ramona e Freddie viveram durante os verões uma amizade de férias, agora, convivendo diariamente, ambos colocam as diferenças entre eles em primeiro plano e, por incrível que pareça, isso os une ainda mais. No entanto, é dessa amizade que Ramona vê um pouco mais do que ser pobre lhe impede de proporcionar, mas amigo que é amigo não deixa ninguém para trás. Então ele dá a ela a distração de que Ramona precisa, e logo o rapaz a desperta para uma de suas antigas paixões, a natação. Entre idas ao clube pelas manhãs e encontros com os amigos, os dois se reaproximam cada vez mais, levando Ramona a questionar a atração que sente por Freddie e a própria sexualidade. Enquanto luta para entender o que se passa dentro de seu coração, Ramona terá a oportunidade de mudar de vida e perseguir seus sonhos.
"É triste que às vezes acreditamos que basta não ser ruim para ser bom."
E é a partir desse momento que a autora brilha no texto! Afinal, amor é amor ou precisamos ficar presos a rótulos e definições? É errado deixar o coração decidir o que é melhor ou precisamos viver as regras que nós mesmos criamos? Uma mulher que fica viúva na terceira idade pode ou não voltar a amar? Não existe idade quando falamos de nos encontrar como pessoas e decidir que caminhos queremos seguir, ou continuar seguindo. E descobrir que mesmo uma pessoa acostumada a lidar com preconceito sexual pode não saber nada sobre as lutas e dores de quem sofre o preconceito por cor. Tudo isso trabalhado de uma maneira tão linda e tão natural que não tem como não se emocionar. Independentemente de estar na adolescência ou já ter passado dessa fase da vida.
A luta para ganhar o pão de cada dia, de tentar viver os próprios sonhos ou de descobrir quais são eles em primeiro lugar, se permitir amar e ser amada por quem se é e não pelo que dizem que somos, a importância de entender e apoiar as amizades, mesmo quando elas não estão no caminho que achamos melhor e o que é família são os pontos que tornam esse livro tão empático e necessário a qualquer época.
"Isso faz eu me sentir desconfortável, mas começo a pensar que o segredo da vida talvez seja aprender a ficar confortável com o desconfortável."
Ramona Blue é uma personagem que tem um crescimento durante a trama, e não cresce sozinha, vários personagens estão nesse mesmo processo e outros vão precisar de mais tempo. Mas ainda sim vale muito acompanhar a jornada de cada um, até o momento em que terminamos a leitura e tudo que queremos fazer é sentir um pouco mais essa história, ter um pouco mais de Ramona Blue. E só depois dizer para todo mundo porque deve ler essa história o quanto antes e se encantar com o sorriso, com o espaço entre os dentes de Freddie, rir das dificuldades em se ter 1,90 e não querer jogar basquete ou ser uma avó que viu sempre nos amigos de seu neto muito mais que um cabelo azul e uma mocinha querendo ser adulta antes da hora.
O livro em si é lindo! O papel e a diagramação conferem beleza e conforto para a leitura, gostei muito da revisão, o ponto negativo é que tive um pouco de dificuldade em dois trechos da tradução. Sério, eu não consegui entender e, como são expressões tipicamente nacionais, sei que não foi algo da autora americana. Mas isso não estragou a experiência na totalidade de maneira nenhuma.
Informações Técnicas do livro
Julie Murphy
Tradução: Débora Isidoro
Ano: 2021
Páginas: 320
Editora: Melhoramentos
Sinopse:
"Ramona Blue" trata de temas atuais importantes, como preconceito racial, homofobia e sexualidade, relações familiares e a pressão para decidir o futuro quando se é adolescente. O fim do verão chegou a Eulogy, Mississippi, momento em que todos os turistas se despedem da cidade e voltam para a vida normal. Inclusive Grace, a garota por quem Ramona se apaixonou. Agora, além de lidar com as responsabilidades familiares, que já eram muitas e aumentaram ainda mais depois que sua irmã descobriu que está grávida, ela precisará aprender a lidar com os desafios de um relacionamento a distância. O retorno de Freddie, um amigo de infância, à cidade traz a distração de que Ramona precisava, e logo o rapaz a desperta para uma de suas antigas paixões, a natação. Entre idas ao clube pelas manhãs e encontros com os amigos, os dois se reaproximam cada vez mais, levando Ramona a questionar a atração que sente por Freddie e a própria sexualidade. Enquanto luta para entender o que se passa dentro de seu coração, Ramona terá a oportunidade de mudar de vida e perseguir seus sonhos.
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