"Só que o autor, chamado N. R. Strickland, era um mistério. O exemplar que Lily tinha descoberto na livraria estava rasgado e esfarrapado, publicado anos antes por uma editora britânica já extinta. A escassa biografia de N. R. Strickland dizia que ele tinha nascido e sido criado em Londres e que Os elfos de Ceradon era seu primeiro livro. Não indicava um site ou uma rede social. A contracapa lisa vermelho-escura não tinha nem foto. Nos dias atuais, era estranho, mas um pouquinho admirável, que ele tivesse decidido abrir mão de qualquer coisa pública."
O livro é dividido em duas partes, com uma narração em terceira pessoa. Na primeira parte, temos uma troca deliciosa de e-mails (sim, e-mails) entre Lily e seu autor favorito N. R. Strickland, pseudônimo do Nick (que a Lily não sabe quem é, mas quem está lendo já sabe...risos). E a segunda algum tempo depois que eles perderam contato.
Nesse primeiro momento, vamos conhecendo um pouco da vida de ambos atualmente e o que estão fazendo de suas vidas. E admito de além da troca de mensagem funcionar superbem, a apresentação dos personagens um para o outro funciona ainda melhor para envolver que lê com eles. Além da torcida pelo casal, surge também a torcida individual por cada um deles assim que acontece o reencontro em que são vizinhos.
Lily é
daquelas personagens que a gente se apaixona fácil, gateira, leitora com uma
família cheia de amor e intromissão não solicitada, além de trabalhar numa
editora mesmo que não na área em que sonha trabalhar e que tem uma vida romântica
onde seu auge foi a troca de e-mails com seu autor favorito.
"Suas irmãs sempre tentavam bancar o cupido. Por que elas não podiam simplesmente aceitar que Lily era péssima com encontros e deixá-la em paz?"
Além da
comédia romântica, o livro aborda de forma muito honesta e envolvente as
diferentes relações que uma pessoa vive, como família, amigos, trabalho, vizinhos,
conhecidos e desconhecidos, afinal parte do nosso trajeto é feito entre pessoas
que não conhecemos, mas ocasionalmente encontramos todos os dias nos mesmos horários.
Nick é um
personagem masculino bem diferente, porque apesar da vida conturbada que ela vive
no momento e toda pressão da sua família e da sociedade para se encaixar nos
padrões esperados (sucesso, carreira e claro relacionamento amoroso), ele é
quem traz a carga dramática da história, sendo inseguro e com muitos traumas o
que não é comum em livros de romance, essa vulnerabilidade masculina sem a “capa
de badboy” afinal Nick é lindo e super doce.
"Então, claro que, bem quando Nick estava quase formando uma perspectiva otimista, a corrente da bicicleta arrebentou e ele derrapou pela rua molhada, perdendo o controle. Bateu em um poste e caiu, de costas no chão. Ele encarou o céu, ofegante, se contorcendo com o corpo todo dolorido. Levou vários minutos para se orientar, e então se levantou devagar, estremecendo. Empurrou a bicicleta pela rua e, bem naquele momento, a chuva começou a apertar. Mesmo com dor, tudo o que Nick podia fazer era rir. É claro que sua última noite em Amsterdã acabaria daquele jeito."
Afinal, ele
é extremamente pessimista e acredita que nada que esteja ruim em sua vida não
possa piorar ou que algo bom só pode significar que em breve virá um desastre.
Ele criou sua carreira como uma forma de estar sempre em movimento, deixando seu
passado e sua família o mais distante de si possível. Afinal, o sentimento de
não pertencer é algo a qual ele está habituado e por isso não cria ou tenta não criar raízes físicas, ou emocionais por onde passa. Ele não teve a mesma sorte
que Lily em relação aos pais e não teve irmãos, mas encontrou na amizade de
Marcus o seu ponto de segurança e os laços criados são mais fortes que os de
sangue.
Outra
parte da trama que foi muito bem construída é a que envolve a parte literária,
além de mostrar bem a cadeia de profissionais que trabalham para que um livro
possa existir enquanto publicação, não deixa de mostrar as dificuldades e percalços
que existem. Além-claro, de explorar de uma forma encantadora o mundo de quem
ama ler e ler porque isso torna sua vida melhor a cada história, de ser
fã ou não de determinado escritor/escritora, ou obra e o quanto isso é sensível
para quem é fã.
"— Eu leio muito para o trabalho — explicou ela. — Quando era mais nova, eu pensava que seria escritora. Mas sabe o que dizem: se não pode fazer, ensine. Ou edite, eu acho. Quero trabalhar com livros como o da Elena Masterson, mas infantis. Histórias sobre crianças não brancas salvando o mundo e vivendo aventuras."
Sem dúvida Tomcat, o gato da Lily, rouba a cena como personagem secundário, afinal além de um gato de uma leitora, ele sabe como ser cupido, entregar mistérios do passado de Nick e conquistar seu espaço no coração de quem está lendo. Não dá para deixar de dizer que Marcus, as irmãs de Lily e vários outros personagens secundários dão todo um volume a trama, tanto de risadas quanto de contexto. Em alguns momentos despertam emoções do riso (nem que seja da vergonha alheia) a empatia e torcida para que também encontrem seus finais felizes na vida e no amor.
"Estavam sentados no sofá de frente um para o outro. Tomcat se aconchegava na perna de Nick. Agora ele conseguia entender por que Lily gostava de mimar o gato."
O que não
curti foi que em alguns momentos a leitura ficou lenta e um pouco cansativa,
porém nada que deixasse a história ruim. Só não deu aquele sentimento de fluidez
perfeita no texto.
Contudo, por
volta dos 80% da história tudo parecia resolvido entre o casal principal e bate
aquela pergunta, e agora o que virá nos próximos 20%. Quem ama o desenrolar da
trama mostrando como cada situação vai chegar ao seu final ou como termina,
pode apostar que vai amar essa parte, porque o final chega sem correria, mas também
sem grandes reviravoltas. Acontece dentro do esperado com surpresas pontuais. Sem
falar, que mostra muito o crescimento dos dois personagens principais e aonde
esse novo modo de encarar a vida os leva. Amei como a autora trabalhou os
conflitos de Nick, bem fora do clichê e sinceramente muito oportuno.
É uma história
leve, com cenas de romance adulto, mas sem ser o ponto principal da história,
tem aquele clima gosto de filme da sessão da tarde, com muito protagonismo
preto, tanto na trama como nas referências da história, superação de traumas e
evolução profissional. Sem deixar de falar de minorias, representatividade na
literatura e na arte, preconceito, relacionamentos tóxicos no trabalho e na família
e o poder que cada um tem quando consegue impor limites e ter coragem de
enfrentar os problemas pedindo ajuda ou mesmo seguindo por um novo caminho.
Uma parte muito legal, foi descobrir que uma das irmãs de Lily, a Violet vai ter sua
história contada em um livro (The Partner Plot vai ser publicado em 2024), é
torcer pra Verus trazer ele para o Brasil também! Porque, com certeza, tem muita ela historia para contar!
Sobre a edição: Eu adorei a capa, essa mistura de amarelo e roxo ficou linda! A impressão, o papel e a diagramação tornaram a leitura muito confortável. Não encontrei erros de digitação e ortografia dignos de nota. Boa leitura!
Informações Técnicas do livro
Kristina Forest
Tradução: Dandara Morena
Ano: 2023
Páginas: 336
Editora: Verus
Sinopse: E se você se apaixonasse pelo seu autor favorito, mesmo sem nunca ter visto o rosto dele? E se — ainda sem saber sua identidade — ele se tornasse seu vizinho? Um favorzinho do vizinho é uma história envolvente e divertida sobre autoconfiança e se permitir ser amado. Lily Greene acredita ter muitos motivos para se sentir fracassada: detesta seu trabalho, nunca consegue o emprego dos sonhos e vai a encontros com caras insuportáveis. Desanimada, Lily envia um e-mail para seu autor de fantasia favorito, N. R. Strickland, sem esperança de ser notada... até que ele responde. Da troca de e-mails nasce uma conexão íntima, porém, sem nenhuma explicação, Strickland simplesmente deixa de responder. Com o coração partido por alguém que nunca viu, Lily decide mudar o rumo de sua vida. Para começar, ela precisa de um acompanhante para o casamento de uma de suas irmãs. E tem certeza de que a pessoa perfeita para ajudá-la na missão é Nick Brown, o vizinho gato, simpático e ótimo conselheiro — e por quem ela sente uma atração inegável. Contudo, após conversar com a tímida vizinha, Nick percebe que os dois já se conheceram antes, porque ele... bom, ele é N. R. Strickland. Dividido entre a atração que sente pela vizinha e o impulso de se afastar, Nick aceita ajudá-la. Mas esse favorzinho do vizinho pode ser o mais complicado de todos — sobretudo porque Nick não consegue tirar Lily da cabeça. Lily e Nick vão descobrir que o amor pode estar mais perto do que imaginam. Mas serão capazes de deixar as inseguranças de lado?
Classificação indicativa: 18 anos.
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