03 maio, 2019

Resenha :: O Farol e a Tempestade

maio 03, 2019 6 Comentários

Olá, faroleiros. Com imensa alegria e honra, venho falar aqui no Clube desse livro que cumpre a promessa de ser um dos grandes lançamentos do ano em terras brasileiras. Primeiro romance do já publicado e consagrado Romulo Felippe, autor que conta com livros publicados nos EUA e na Europa. Ele junta-se à Novo Conceito para presentear os leitores com a obra O Farol e a Tempestade que, para mim, é maravilhoso.


Narrado em terceira pessoa, já no primeiro capítulo vemos a desesperança e desistência de Sam em continuar tentando viver com sua dor. Mesmo sem entender o que fez com que ele chegasse a esse extremo desespero de dor, somos imediatamente cativados pelo personagem e, assim como o gato Charles, começamos a torcer por um desfecho diferente para aquela noite. Contudo, ninguém poderia esperar que a esperança viria por Anne e suas preces para continuar viva, enquanto o avião em que viaja risca os céus em uma bola de fogo em meio a uma tempestade.

E sem ter tempo para nos preparar, vemos nosso desesperançado autor esquecer de suas próprias dores e correr em socorro às vítimas do acidente aéreo. Quis o destino, ou outro sentimento de igual força, que apenas Anne sobreviva ao desastre, tornando-se a missão de Sam: de ajudá-la a se recuperar. E mesmo sem perceber, Samuel teve seu pedido, gritado aos quatro ventos, atendido e ainda ganhou uma companhia para tirá-lo do isolamento que se impôs na ilha, a qual ele submeteu a si e a Charles, o gato.

Por solenes instantes, Sam percebe que a ilha não é tão vazia assim: a presença de Anne torna Farethon um lugar povoado de alegria e de um sentimento novo.


Aos poucos, vamos conhecendo e entendendo aquele que ganhou minha simpatia. Samuel Jones, autor best-seller, que nunca se recuperou desde que perdeu a família em um acidente de carro. E que encontra na luta para com Anne – agora sua hóspede – a recobrar a saúde, algo que lhe motiva, e aos poucos lhes permite ir vendo que existem motivos maiores para viver e continuar, que não só existe dor, sofrimento e culpa. 

— Não sei o que dizer em uma hora dessas, mas você está vivo e, com certeza, eles estão torcendo por você agora. Viva por eles, Sam, porque no fundo é isso que as pessoas que partiram desejam de todos nós.

E, além de Sam, vamos descobrindo junto a própria Anne quem ela é. O que ela deixou a esperando em seu lar e o quanto o mundo pode ser "pequeno" e o universo conspirar a favor daqueles a quais destinou encontrarem uma segunda chance. Ambos sabem que estão fadados a ausência de um passado e a impossibilidade de um futuro, restando-lhes viver o presente em sua mais profunda intensidade. Isso força a quem ler essa história a se perguntar o que faria no lugar de ambos.

— Quero lhe propor um brinde, Anne. Um brinde não ao ontem ou ao amanhã, mas em celebração ao momento mais importante da vida: o agora.

Conhecer a ilha de Farethon sob o olhar de Anne, em companhia de Sam e Charles, é uma aventura que não nos permite parar de ler enquanto não terminar, porque as doses de emoções são maravilhosamente equilibradas para nos levar do mais profundo encantamento ao desespero, como numa montanha-russa. Isso, além de todo o tempo, o passado de Anne e o que será deles após os dias na ilha serem uma dúvida não pequena, tanto para os personagens quanto para quem lê.


À medida que a memória volta a Anne, Sam vê cada vez mais perto o dia em que ela vai partir e ele continuará sua vida na ilha, e isso o amedronta por notar que aquilo que buscava, a solidão, dia a dia passa de benção a sentença. O personagem se pergunta (assim como o leitor) "como viver em Farethon após a partida de Anne"?

— Todos nós temos cicatrizes, seja no corpo ou mesmo na alma. Algumas visíveis e outras escondidas bem no fundo do coração.

Paro por aqui, deixando o convite para você viver essa história em Farethon e, assim como eu, perceber que mais que as circunstâncias, escrevemos nosso futuro através de nossas escolhas e não daquilo que não podemos escolher ou mudar. Que nem mesmo uma tempestade pode ser apenas uma tragédia e que o amor, mesmo para quem já viveu um primeiro amor, é tão ou talvez até mais uma honra ao legado deixado por aqueles que nunca deixarão de serem lembrados ou amados.

E quanto a mim? Quero ser farol!!!!!!!


— Poderosa mensagem? — De amor e fé. De força e superação. De não desistir jamais, como fez a sua mãe ou mesmo seu pai ao lutar contra a fúria da tempestade!

Sobre a edição, eu digo que é um artigo de luxo e extremo bom gosto. A capa é uma foto real de um farol, feita pelo fotógrafo americano Miles Morgan; e é ricamente ilustrado com aquarelas pintadas pela espanhola Paloma Monteiro e pelo brasileiro Sergio P. Rossoni. A editora Novo conceito entrega um livro com diagramação e fonte perfeitas para leitura, em folha "amarela" e detalhes imperdíveis a cada capítulo e rodapé. A edição ainda conta com extras sobre a música que inspirou o final da história e uma breve e interessantíssima nota do autor sobre os faróis.


Nota ::  


Informações Técnicas do livro

O Farol e a Tempestade
E se a vida lhe desse uma segunda chance?
Ano: 2019
Páginas: 304
Editora: Novo Conceito
Sinopse:
Samuel Jones é um autor best-seller que vive recluso em uma remota ilha do Atlântico Norte desde que perdeu a família em um acidente de carro. A partir desse terrível advento, viver passou a ser um martírio, um sacrifício diário. O exílio de Sam, entretanto, ganhará um viés ainda mais dramático quando uma bola de fogo riscar os céus diante de seus olhos no meio de uma tempestade.
Em uma obra do acaso, a fotógrafa nova-iorquina Anne Crawford sobrevive ao desastre aéreo e é salva justamente pelo escritor, quebrando a partir daí a solidão da Ilha Farethon e de seu farol secular. Duas almas marcadas por tragédias. Dois corações despedaçados pela vida. Para Sam e Anne há muito mais em jogo do que fé e paixão, perdão e esperanças. Marcados pela ausência de um passado e a impossibilidade de um futuro, resta-lhes viver o presente em sua mais profunda intensidade. “O Farol e a Tempestade” é mais do que uma improvável história de amor. O romance dramático mostra o quanto somos minúsculos diante as forças do universo e de como a vida é uma surpreendente montanha-russa que nos leva do inferno ao céu em um ato único. O que você faria se a vida lhe desse uma segunda chance?

Para comprar:


O Grupo Editorial Novo Conceito oferece sempre os best-sellers mais aguardados e comentados do meio literário. Em anos de sucesso editorial, foram vários os autores e títulos reconhecidos na principais listas do PublishNews e Veja. O selo Novo Conceito foi desenvolvido para reunir essas grandes publicações, além das novidades e lançamentos internacionais que ainda virão.


 _____Sobre o Autor_____

Romulo Felippe



Romulo Felippe começou a lapidar os primeiros textos  crônicas e versos  aos 9 anos. Aos 12 anos já publicava os seus escritos em jornais locais, iniciando sua paixão pelo jornalismo impresso. Lá se vão três décadas de dedicação às redações, com coberturas realizadas em mais de 20 países e passagens por diversos veículos de comunicação. Além de O Farol e a tempestade, é autor de Monge Guerreiro, também publicado na Europa, e Reino dos morcegos. Romulo mora na ilha de Vitória com a mulher, a empresária Svetlana Bertollo Felippe, é pai de Felippe, Giuseppe e Gianluca, e agraciado com os enteados Ana Paula e Henrique. É colecionador de espadas medievais (e miniaturas de faróis marítimos...), amante da prática de stand up paddle e um apaixonado por livros impressos.

01 maio, 2019

Resenha :: Caraval

maio 01, 2019 8 Comentários

Olá, leitores.

Passando para compartilhar a minha experiência de ler Caraval. Sinceramente, não esperava ter a experiência incrível que tive com essa história. Primeiro porque o começo te leva a uma pequena ilha, onde Scarlett e sua irmã, Donatella, vivem com seu cruel e poderoso pai, o Governador Dragna, e de onde nunca saíram. Então somos apresentados a esse outro mundo onde ilhas e continentes tem governos locais e terrenos ainda não conquistados. E vamos sabendo aos poucos mais sobre as histórias de ambas as irmãs e porque o pai as trata de maneira tão fria e cruel.


Porém é da infância que vem as doces memórias de Scarlett, que desde então sonha em conhecer o Mestre Lenda do Caraval, e por isso chegou a escrever cartas a ele, mas nunca obtivera resposta. Agora, já crescida e temerosa do pai, ela está de casamento marcado com um misterioso conde, e certamente não terá mais a chance de encontrar Lenda e sua trupe, mas isso não a impede de escrever uma carta de despedida a ele. 

Os portões fecham à meia-noite. Qualquer pessoa que chegue depois disso não será capaz de participar do jogo, nem de conquistar o prêmio deste ano, que é de um desejo.

Dessa vez o convite para participar do Caraval finalmente chega à Scarlett. No entanto, aceitá-lo está fora de cogitação, Scarlett não pretende desobedecer ao pai. Sendo assim, Donattela, com a ajuda de um misterioso marinheiro, sequestra e leva Scarlett para o espetáculo. Mas, assim que chegam, Donattela desaparece e Scarlett precisa encontrá-la o mais rápido possível. 


Caraval é um jogo elaborado, que precisa de toda a astúcia dos participantes. Ela tem apenas cinco dias para encontrar sua irmã e vencer esta jornada. Porém, tudo o que você já ouviu sobre Caraval, não se aproxima da realidade. É mais do que um jogo ou uma performance. É o mais perto que você chegará da magia neste mundo.

O que quer que tenha ouvido sobre Caraval não se compara à realidade. É mais do que só um jogo ou apresentação. É a coisa mais parecida com magia que você verá neste mundo.

E assim vamos conhecer a verdadeira Scar, como ela se vê e como lida quando é levada a se superar, lutar contra seus medos e o desespero de não saber onde a irmã está, se conseguirá encontrar e se, de fato, será capaz de voltar a tempo para seu casamento e evitar o peso da ira do pai contra elas. 


Como a narrativa é feita por Scarlett, vamos conhecendo sua maneira de ver as emoções em cores e cheiros, como ela vai crescendo ao longo dos jogos, que mesmo parecendo algo de duração curta, te faz pensar que um dia em Caraval tem uma medida de tempo muito distante das 24 horas que regem nossos relógios. Afinal o tempo lá gira ao contrário e é dele que se extrai a magia.

— Se quiser vencer, terá que ser um pouco impiedosa. O Caraval não é uma lição sobre gentileza.

E sem perceber me vi lendo sem parar essa história, porém sem pressa, sem peso, só aquela necessidade por respostas e cada vez mais perguntas, porque as respostas que vinham só mostravam que eu tinha errado em minhas suposições ou feito as perguntas erradas. De uma maneira maravilhosa, fui participando do jogo, torcendo por Scarlett e de certo modo sofrendo com suas escolhas, porque a renúncia em Caraval nunca é a um preço baixo, o custo da renúncia é sempre muito alto. Eu li algumas críticas à escrita da autora, mas acho que para fantasia não cabem, fantasia é para você mergulhar em outro universo, tentar sair da sua zona de conforto e imaginar, tenta sentir diferente da sua realidade. 

O maior erro que notei foi tentar encontrar nesse livro, nessa história, a continuação para outra, para outro tipo de lugar. Aqui não é um circo, é um centro de diversões que é muito comum nos Estados Unidos, por exemplo. Não é porque o Mestre Lenda usa cartola que ele é um mágico de circo, ele é Mestre da Magia o que é bem diferente, e mostrado nesse livro.


A edição em que li foi de capa dura, e posso dizer que é lindíssima; a diagramação, folha de guarda, tradução e tamanho de fonte e texto estão lindos; a divisória é incrível e tem tudo a ver com a história. Um trabalho realmente muito bonito que está em folhas amareladas. Já estou ansiosa a espera da próxima história, Lendário. Boa leitura, divirta-se!


Nota ::  4,5

Informações Técnicas do livro

Caraval
Lembre-se, é apenas um jogo
Caraval #1
Ano: 2017
Páginas: 352
Editora: Novo Conceito
Sinopse:
Scarlett nunca saiu da pequena ilha onde ela e sua irmã, Donatella, vivem com seu cruel e poderoso pai, o Governador Dragna. Desde criança, Scarlett sonha em conhecer o Mestre Lenda do Caraval, e por isso chegou a escrever cartas a ele, mas nunca obtivera resposta.
Agora, já crescida e temerosa do pai, ela está de casamento marcado com um misterioso conde, e certamente não terá mais a chance de encontrar Lenda e sua trupe, mas isso não a impede de escrever uma carta de despedida a ele.
Dessa vez o convite para participar do Caraval finalmente chega à Scarlett. No entanto, aceitá-lo está fora de cogitação, Scarlett não pretende desobedecer ao pai. Sendo assim, Donattela, com a ajuda de um misterioso marinheiro, sequestra e leva Scarlett para o espetáculo. Mas, assim que chegam, Donattela desaparece, e Scarlett precisa encontrá-la o mais rápido possível.
O Caraval é um jogo elaborado, que precisa de toda a astúcia dos participantes. Será que Scarlett saberá jogar? Ela tem apenas cinco dias para encontrar sua irmã e vencer esta jornada.
O Grupo Editorial Novo Conceito oferece sempre os best-sellers mais aguardados e comentados do meio literário. Em anos de sucesso editorial, foram vários os autores e títulos reconhecidos na principais listas do PublishNews e Veja. O selo Novo Conceito foi desenvolvido para reunir essas grandes publicações, além das novidades e lançamentos internacionais que ainda virão.

29 abril, 2019

Resenha :: A Contrapartida

abril 29, 2019 6 Comentários

Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Marcos 8: 36)

Olá, faroleiros do meu coração!

Vamos de thriller psicológico hoje? O livro que li é A Contrapartida, de Uranio Bonoldi, publicado pela Editora Valentina.


Quando você tem nas mãos a solução do seu maior problema, pensaria na contrapartida dela? 

Dr. Octávio Albuquerque é um cirurgião médico, graduado precocemente, por possuir um intelecto fora do normal. Seus amigos tinham profunda admiração e respeito pelo profissional competente que se transformou. Filho de Cristina Costa Albuquerque, viúva, pois Tavinho perdera o pai assassinado num assalto quando ainda era criança. Cristina era uma mulher bem-sucedida, bonita e amorosa. 

Tavinho, ou melhor, o cirurgião Octávio Albuquerque Júnior, "atropelou" os anos letivos do curso de medicina com sua sede de vencer, passando por todos eles no menor tempo possível, mas com máxima qualidade. Dormia pouco e estudava muito, incluindo toda a carga horária necessária para exercer a profissão, participando desde muito cedo de cirurgias das mais diversas.

Iaúna era a governanta da casa de Cristina. Ela cuidou de Tavinho desde que ele nasceu. Uma das últimas sobreviventes da tribo Moxiruna, a índia foi resgatada por Cristina quando ainda era uma jovem estudante. Cristina deu teto, proteção e emprego para Iaúna, que passou a morar com os pais dela, até que estes faleceram.  Depois, Iaúna foi morar com a própria Cristina, recém-casada.

Iaúna sentia imensa gratidão por Cristina, pois, assim que esta se casou, oito anos mais tarde, levou-a para morar com ela e o marido, ajudar nas tarefas domésticas e também na criação de Tavinho, nascido dois anos depois. E sentia também orgulho das próprias conquistas, pois, por ocasião do falecimento dos pais –um infarto fulminante levou o sr. Costa e, quatro meses depois, em depressão, sua mãe, fumante inveterada, não resistiu ao câncer de pulmão –, Cristina cedera-lhe a bela casa deles, a fim de proporcionar um teto para aquela mulher que havia conquistado a simpatia da família.

O que ninguém sabia é que Tavinho e a índia Iaúna possuíam um segredo sombrio e que este foi o responsável pela inteligência excepcional do rapaz. Iaúna possuía profunda gratidão por ter sido resgatada da mata. Ela sofria perseguição por ter sido a única sobrevivente da chacina de seu povo. Por isso dedicou sua vida a cuidar daquela família, principalmente de Octávio Albuquerque Júnior. Ela não admitia que nenhum mal acontecesse ao rapaz, tampouco deixava que algo atrapalhasse seus planos quanto ao futuro. Então, quando Tavinho relatou para a governanta que não conseguia estudar e aprender a matéria na escola e que começou a sofrer bullying por isso, ela não pensou duas vezes.

Tavinho, enfim, é um menino que se considera feliz, um menino alegre e sorridente, que não deseja mal a ninguém. Porém, não consegue se sentir pleno pela grande dificuldade que tem nos estudos e por não vislumbrar a menor possibilidade de reverter a situação. Isso o está deixando aflito, pois enxerga o grande abismo que existe entre o anseio da mãe em vê-lo se tornar um grande profissional, quem sabe até um brilhante cirurgião, e essa situação que se mostra irreversível. ‘‘Que desespero, meu Deus, estou ferrado! Estou fodido!!!’’


Detentora dos segredos da magia Moxiruna, Iaúna apresentou ao jovem uma porção que lhe dará inteligência fora do normal. Mas como toda magia, isso tem um preço, nesse caso era a morte de alguém. Tavinho na época ainda era um jovem adolescente, não conseguiu avaliar a gravidade do preço cobrado. Quando o jovem experimentou aquele poder, não pode mais ser controlado. E assim a contrapartida da sua decisão começa a cobrar o seu preço. Toda magia tem seu lado sombrio. Tavinho demorou tempo demais para descobrir isso. Ele viu seu mundo perfeito ruir, juntamente com todos os seus sonhos. Quando ele descobre toda a verdade por trás da vida perfeita que ele levava, perceberá que pode ser tarde demais para voltar atrás.

Ao longo desses seis anos, Tavinho ficou sob forte proteção de Iaúna, mantendo boas doses de "suprimentos" que, dia após dia, mês após mês, ano após ano, faziam com que ele se superasse cada vez mais. Como era necessário um ritual a cada três, quatro meses, ele foi à casa de Iaúna, pelo menos, duas dezenas de sábados. Foram mais de 20 mortes dedicadas ao seu desempenho e a outros fatos que ainda estariam por ser revelados. Mais de 20 vidas ceifadas!

A leitura de A Contrapartida foi um mergulho numa história de suspense instigante. A cada página ela nos envolve na trama de forma que, quando os fatos são apresentados, nós ficamos completamente estupefatos. Ela é atual e moderna.

O escritor Uranio Bonoldi soube controlar as pistas da trama, de forma que só no final o leitor vai compreender a dimensão do problema em que o protagonista se envolveu. Ela também nos faz ponderar sobre o peso da sua decisão. Se tivéssemos no lugar de Tavinho faríamos a mesma escolha? Essa é uma decisão que no início podemos tomar facilmente. Contudo, conforme vivenciamos as consequências dela, entendemos que nem tudo que parece ser certo, de fato é.

A narrativa da história é em terceira pessoa, simples e objetiva, o que nos traz uma clareza na compreensão. Por isso, posso dizer que ela é muito aprazível e reflexiva. Os personagens que vivem ao redor do protagonista ajudam a contar a história, sendo bastante verossímeis.


Uma coisa que me incomodou foi que algumas situações não ficaram bem esclarecidas até a derradeira página. Elas poderiam ser melhor exploradas, como a origem do Moxirunas e da magia de Iaúna, o que aconteceria após a propina oferecida ao médico, Martha e o pajé. No final, acho que cada leitor tirará sua própria conclusão.

Porém, uma coisa era absolutamente certa: jamais o segredo de Iaúna e Tavinho lhe seria revelado. Jamais... O segredo pertencia apenas a eles dois e a ninguém mais. Ninguém!

Recomendo A Contrapartida para quem gosta de thriller sobrenatural e que, ao mesmo tempo, é tão real. A Contrapartida é para todos aqueles amantes de histórias que mexem com o seu racional e te faz duvidar das suas próprias escolhas.


Nota :: 


Informações Técnicas do livro

A Contrapartida
Um thriller sobre o poder de uma decisão. Qual seria a sua?
Uranio Bonoldi
Ano: 2019
Páginas: 336
Editora: Valentina
Sinopse:
“O que poucas pessoas têm em mente é que Cultura, no sentido mais amplo da palavra, não se restringe apenas ao entretenimento. O objetivo maior e primeiro da Cultura é nos transformar em pessoas melhores, agregando novos conhecimentos e percepções sobre nós mesmos, os outros e o entorno em que vivemos – é isso que A Contrapartida faz.
A sua leitura nos proporciona uma série de profundas e valiosas reflexões sem, contudo, deixar o entretenimento e o suspense de lado.
Com relação ao suspense, gostaria de fazer uma breve analogia com o mundo do cinema para ser mais claro em minha exposição. Um bom thriller é aquele que nos causa ansiedade para ver a próxima cena e nele os acontecimentos não são óbvios e declarados. Enfim, é o que aconteceu comigo quando li A Contrapartida – eu queria saber o que estava para acontecer na próxima página, de modo a poder ligar os fatos apresentados no livro e ter as respostas às perguntas que a leitura indiretamente me fazia.
Inevitavelmente, a leitura do livro me remeteu à Hollywood. Quando nos referimos a thrillers, logo vem à mente o nome de Alfred Hitchcock, cuja genialidade se encontrava em entender profundamente a psiquê do ser humano e em criar um estado emocional tão intenso no público, que seus filmes se transformavam imediatamente em sucesso. Essa mesma genialidade foi reproduzida aqui neste livro. O autor conseguiu criar caminhos mentais de condução de nós, leitores, em um mundo imaginativo de suspense e mistério dignos de um grande blockbuster.”
(Lion Andreassa – produtor e diretor de cinema da Lumix Art Films)


Para a Editora Valentina, leitura é, acima de tudo, entretenimento.
Olho vivo e faro fino.
Esse é, na verdade, o lema de todo grande editor. E a pinscher dessa editora encarna esse lema como ninguém.

27 abril, 2019

Resenha :: Fale!

abril 27, 2019 0 Comentários

Olá, faroleiros. Vim escrever sobre um livro que já estava na minha lista de quero ler a algum tempo, e ganhou prioridade quando vi o novo lançamento da autora. Quero escrever sobre Fale!, principalmente, porque resenhar é uma maneira de eu absorver e me libertar do que o livro trouxe pra mim.


Fale! é narrado por Melinda, que vai nos contando um pouco sobre como é sua chegada ao ensino médio, e porque tudo ainda é pior para ela do que para os outros alunos. Melinda é alguém que não está conseguindo falar ou comunicar de qualquer forma o que houve  com ela, para que possamos entender o porquê dela ter perdido os  poucos amigos que tinha e acabar isolada e jogada para escanteio. Vítima do já conhecido bullying escolar e cada vez mais isolada da vida social da escola.

Mas sentimos que existe algo errado, que algo não está certo e ela ganha nossa simpatia e uma vontade imensa de entender o que está errado com ela, porque ela ligou  para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. Aliado a isso, o despreparo aliado a falta de motivação dos professores e profissionais da escola, dão uma dimensão de que o problema se agrava ainda mais.

Lógica Kodak, aparência é tudo. Só nos comerciais de TV esse tipo de coisa funciona.

O fato de agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra — insultos e deboches, sim — ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Começamos a entender a dinâmica familiar que a cerca e porque isso parece ajudar ao problema, mas do que ajuda-la  a se livrar dele, e à medida que vamos conhecendo a história não contada de Melinda, mais queremos pode saber para ajuda-la. E dia a dia durante a história a vemos murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.


É impressionante ver que, muitas vezes, cometemos o mesmo erro. De como alguém mordido por uma cobra se concentra tanto na mordida, que se esquece do veneno circulando pelo organismo, enfraquecendo, adoecendo e matando a quem está tão atordoado com a mordida que esqueceu o que ela causa, os danos que provoca. E assim, é impossível não sentir o coração apertado com a dor de Melinda e parar de ler, tentar entender como se isso fosse ajuda-la. Vê nas aulas de artes uma chance, um abrigo que poderá ser a passagem pela qual era irá retomar a vida e enfrentar seus demônios e responder, falar, gritar: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?

Quando as pessoas não se expressam, vão morrendo aos poucos. Você ficaria chocada se soubesse quantos adultos estão realmente mortos por dentro, vivendo sem ter ideia de quem são, só esperando um câncer, um infarto ou um caminhão surja e acabe com, eles .É a coisa mais triste que conheço.

Me lembrei do poder da palavra, da confiança que só uma amizade é capaz de despertar em alguém, na nossa eterna necessidade de segurança em várias áreas da nossa vida. E que descobrir que se pode contar com alguém, pode ser libertador e, ao mesmo tempo, a centelha de esperança que tudo vai dar certo, tudo vai ficar, de alguma maneira, melhor. Afinal, alguém ouviu, escutou, prestou atenção e deu a devida importância às palavras ditas, a verdade que elas contêm.


Fale! Falar pode ser o que vai trazer justiça ou evitar que se repita, que o círculo vicioso da impunidade continue. Que a vítima vai conseguir ouvir e entender sua própria história e finalmente se dar conta de que não é culpa da VÍTIMA. Nada dá o direito de outra pessoa fazer qualquer coisa contra a vontade de alguém. Que campanhas como Não é Não, Depois do não é assédio são tão importantes, necessárias. A mensagem impressa nas páginas de Fale! é realmente poderosa, do tipo que é impossível ler e não ter algum tipo de emoção a respeito do texto. Eu compreendo que algumas verdades são terríveis de serem lidas ou ditas em voz alta. 

Não foi culpa minha. Ele me machucou. Não foi culpa minha. E não vou deixar que isso me mate. Posso crescer.

Mas Fale!, a história de Melinda, vem nos mostrar que o calar, silenciar é ainda mais devastador que qualquer dor causada pela verdade, que sempre vai libertar e proteger. Então, FALE! Grite, faça com que a sua voz seja ouvida por você e por quem vai te ajudar. Porque você não está sozinha, não está sozinho e que, quando falar, vai ver que eu tenho razão.


No Brasil, você pode contar com o CVV — Centro de Valorização da Vida —, para apoio emocional, ligue 188 ou acesse www.cvv.org.br. Nessa central de telefone, você pode conversar com um voluntário que vai te ouvir. A ligação pode ser feita de todo o território nacional, 24 horas todos os dias, de forma gratuita.

E claro, pode vir para o Clube ler com a gente, conversar no Whatsapp e descobrir que tem uma turma maravilhosa nesse Clube, que lembra que viver vale a pena, lutar para continuar é bem mais fácil quando estamos no meio de outros leitores que sabem o poder da palavra escrita e falada.


Sobre a edição: é uma das coisas que mais amo na editora Valentina, a capa, além de linda, é feita para quem leu o livro. Chama a atenção de quem não leu? Sim! Mas ganha um significado maior e ainda mais especial para quem leu a história. Tradução, ortografia perfeitas, diagramação caprichada, e extras que tornam a leitura ainda mais especial e ótima para alimentar debates sobre o livro.


Nota ::  4,5


Informações Técnicas do livro

Fale!
Ano: 2013
Páginas: 248
Editora: Valentina
Sinopse:
“Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra (insultos e deboches, sim) ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.
Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?
Um romance de estreia extraordinário; uma obra-prima vencedora (e finalista) de inúmeros prêmios sobre uma jovem que opta por calar em vez de dizer a verdade. Fale! encantou tanto leitores quanto educadores, alunos e professores. Um romance transformador, corajoso, capaz de fazer refletir sobre temas fundamentais – porém espinhosos como o bullying – do cotidiano dos adolescentes.
Fale! recebeu o “Altamente Recomendável” norte-americano para leitura escolar. Foi transformado em filme (O Silêncio de Melinda) em 2004, com Kristen Stewart, da saga Crepúsculo, no papel da protagonista.

Fale! é um livro impactante e corajoso, que incentiva a reflexão e o debate. É para ser lido com o coração e, principalmente, relido com a alma.


Para a Editora Valentina, leitura é, acima de tudo, entretenimento.
Olho vivo e faro fino.
Esse é, na verdade, o lema de todo grande editor. E a pinscher dessa editora encarna esse lema como ninguém.