Esta não é uma história da polícia. É a história de um policial.
Esse livro é uma linda
homenagem ao pai, policial e herói na vida da autora. Afinal existe algo mais
heroico que colocar a vida em risco pela segurança de outra vida? Contudo, para
mim, dizer que são contos limita e simplifica muito textos que são realmente
lindos e contam histórias da vida real, que só quem realmente vive as situações
é capaz de visualizar com toda a grandeza do que é, mas que nesse livro ficam
muito próximos a realidade daquele momento. O Dia em que Conheci Meu Pai pela
Segunda Vez é uma antologia de contos e o primeiro livro escrito pela
autora Tamires de Carvalho.
Pergunte aos funcionários mais antigos pelo Paulo. Sou eu. Carvalho é meu sobrenome, ou nome de guerra, como dizem.
Preciso dizer que é impossível
não se simpatizar e até mesmo criar uma empatia muito grande pelo personagem
central desse livro, o Paulo Carvalho. Mas é interessante que ao longo da
leitura, você deixa de lembrar que um dia o Carvalho não foi policial, meio que
como um filho olha para os pais e tem dificuldade de imaginar que um dia foram
solteiros, não se conheciam... E isso me chamou a atenção durante a leitura.
O lado de quem já sentia a farda no corpo. Era só fechar os olhos, e eu podia senti-la aqui, me vestindo. Eu já era policial, eu tinha de ser policial.
Amei a ordem em que os contos
foram colocados, porque cada história deixa um gosto ainda mais especial ao
anterior, mesmo que não sejam ligados ou continuados. Só posso dizer que ler é
o único modo de entender, exatamente, porque esse livro é tão lindo. Além de
bem escrito, o fato de ler como se o próprio Carvalho estivesse me contando a
história criou um momento fascinante de leitura porque é raro algo assim, uma
ligação tão forte com "quem conta" e com o que é contado.
Por ser um livro pequeno estou
me segurando para não contar um pouco de cada história, porque acho que isso
pode tirar o prazer da primeira leitura, mas sinceramente, vou deixar aqui
minhas impressões sobre algumas histórias de forma muito leve, só para te
mostrar porque o livro foi tão especial pra mim.
A primeira vez de um
policial, aqui temos o drama da primeira morte, com o
uso da farda. Não tem como ficar indiferente a esse momento. Afinal a certeza
que ele vai acontecer durante a carreira é o motivo de muitos não cogitarem a
profissão e de outros ansiarem por ela. E durante a leitura me ficou uma lição
preciosa, que diria a qualquer pessoa em ambos os casos:
Mas depois que você entra no fogo cruzado, não lembra nem o nome da sua mãe, que dirá contra quem está guerreando.
Corpo fechado, esse
entrou para o momento mais leve da leitura e me fez rir demais, porque temos o
crédulo e o descrente durante a narrativa e os fatos que se seguiram foram
impossíveis de não cair na gargalhada, apesar de trágico foi cômico.
Os primeiros (e únicos)
tiros que tomei, tão inerente a ser policial quanto atirar e
saber que as chances e possibilidades de ser alvejado por um tiro são grandes.
Como diz a música do grupo Rappa, "também
morre quem atira" e para mim a maior missão de um policial é voltar
vivo para casa. Nesse conto, é impossível não ficar ao lado do Carvalho naquele
momento, sentindo as mais diversas sensações e por fim a dor do tiro.
Mas a vida não é tão simples, temos contas a pagar, e se tem uma coisa que não dá para se tornar é ex-policial.
Deixo aqui essa verdade, que
apesar de tão óbvia pode passar despercebida para quem não vive o dia a dia da
farda. Uma vez, para sempre.
Para quem como eu já
"perdeu" sua melhor amiga de toda a vida sabe a dor dilacerante e
inenarrável que é. Posso dizer para você que é tão grande, tão intensa
que parece que você também vai morrer naquele momento, porque simplesmente
parece impossível a vida continuar depois daquele momento.
O funeral de um amigo, que compartilha com você todo o drama e as alegrias de vestir uma farda, é como velar a si próprio.
Perder um amigo, ler
sobre como é perder um amigo, que literalmente guarda suas costas e que será os
olhos que vai te proteger enquanto você o protege me fez pensar que existem
dores ainda maiores e que, para mim, apresenta de certo modo requintes de
crueldade, afinal todos os dias ele vai reviver o momento e notar que aquele
seu amigo não está ali e que o que está pode ser o próximo a não estar. Que
você pode ser esse amigo, que deixou essa dor, esse vazio e o luto. Todos
podemos morrer, mas para eles esse pensamento não é algo que acontece durante o
drama e sim é a constante do dia. E mesmo assim, eles continuam.
Infelizmente, as palmas e os agradecimentos chegam, em sua maioria, apenas quando já fechamos nossos olhos.
Quando me mudei para a
roça, sair do grande e violento Rio de Janeiro para um lugar
pacato, além de levar nosso personagem a uma nova realidade, nos leva junto a
uma nova história. Sério, a mudança é tão drástica que é impossível não ver
como um recomeço e sinceramente maravilhoso, inclusive para quem lê. A partir
dessa mudança os contos ganham um novo tom, tão envolventes em sua narrativa
quanto o anterior, porém te deixam com o coração mais leve para conseguir
absorver todas as histórias, lições de vida e, principalmente, te preparar para
o fim do livro.
Saí do batalhão pela última vez, em câmera lenta, olhando tudo e guardando tudo na memória. Educai as crianças e não será necessário punir os homens.
Quero agradecer a autora, por
essa história maravilhosa e por ter me enviado o livro físico, que foi impresso
a partir do e-book disponível na
Amazon. Uma edição linda que trouxe em seu final uma imagem que deu vida e
eternidade ao Carvalho em minha memória. Terminei a leitura como se houvesse o
conhecido e tido a honra de conhecer sua história. Foi realmente lindo e
emocionante cada momento dessa leitura.
Nota :: 


4,5




Informações Técnicas do livro
O Dia
em que Conheci Meu Pai pela Segunda Vez
Ano: 2017
Páginas: 76
Editora: Independente
Sinopse:
“O dia em que conheci meu pai
pela segunda vez” é uma
antologia de contos e o primeiro livro escrito pela autora Tamires de Carvalho.
São narrativas inspiradas nos 'causos' de polícia que seu pai adorava contar e
que mostram como a profissão de policial militar pode moldar o caráter e a
personalidade de um homem. Do início ao fim, o dia a dia de abordagens,
perseguições e conflitos de exercer esta profissão.
_____Sobre a Autora_____
Tamires de Carvalho
Mora
em Patrocínio do Muriaé, interior de Minas Gerais, é estudante de Letras pela
Universidade Federal Fluminense (UFF/Cederj) e apaixonada por livros e
literatura. Tem um blog onde compartilha suas leituras e desde 2017 tem
publicado contos de forma independente na Amazon, além de participar de
coletâneas literárias.
Linda resenha... 😘
ResponderExcluirObrigada Carol ♥
ExcluirAhahahahahha <3
ResponderExcluirMeu coração chega até disparar de felicidade com essa resenha linda!
Muito obrigada!
Eu que agradeço, de coração. Obrigada por ter escrito essa história.
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